Mãe de Eloá diz que pena de morte não seria justa para Lindemberg: "ele deve pagar aqui"
Em entrevista coletiva na tarde desta segunda-feira (27), Ana Cristina Pimentel, mãe de Eloá, disse não ser justa a aplicação hipotética da pena de morte contra Lindemberg Alves, 25, condenado no último dia 16 a 98 anos e dez meses de prisão pela morte da jovem em 2008.
“Ele deve pagar pelo que fez aqui [em vida]. Em outro canto ele não tem como pagar. Que ele reflita sobre o que fez e não venha cometer [crimes] de novo”, disse, após ser questionada por um jornalista.
O Código Penal brasileiro não prevê a aplicação da pena de morte --adotada em vários países-- e determina que o período máximo de detenção é de 30 anos. "Para mim esse tema é muito difícil porque, em primeiro lugar, sou evangélica. Então, no meu coração não entram esses sentimentos de morte."
Ana Cristina disse também que não teme Lindemberg, mas espera nunca ter que encontrá-lo. “Medo dele eu não tenho. Só espero nunca encontrar com ele no dia em que ele sair [da prisão]”, afirmou.
A mãe de Eloá afirmou que o caso “é uma página virada” em sua vida, independentemente do que acontecer com o resultado do julgamento. A advogada de Lindemberg, Ana Lúcia Assad, entrou com requerimento no TJ-SP (Tribunal de Justiça de São Paulo) pedindo anulação do júri que condenou seu cliente e também a redução do tempo de condenação.
Advogada "estressada"
Para a mãe de Eloá, a advogada Ana Lucia Assad “prejudicou demais Lindemberg no julgamento”. “Ela ficou muito nervosa, muito estressada." Ana Cristina disse ainda ter ficado “chocada” com o depoimento do Lindemberg. “Ele mentiu em tudo. Só não mentiu quando disse que atirou na Eloá.”
A entrevista foi concedida no escritório do advogado de Ana Cristina, Ademar Gomes. Ele disse não acreditar na anulação do julgamento, mas admite que a pena possa ser reduzida. “Até acredito que a pena possa ser reduzida para 60, 70 anos.”
O mecânico Emerson Gentil Dardis, 28, que recebeu os rins e o pâncreas de Eloá, acompanhou a coletiva.
Julgamento
Lindemberg Alves, 25, foi condenado pela morte de Eloá, 15, após quatro dias de julgamento no fórum de Santo André (ABC paulista). A jovem foi feita refém por cerca de cem horas em outubro de 2008 em seu apartamento, localizado em um conjunto habitacional na periferia do município paulista. O crime considerado é o de homicídio doloso duplamente qualificado.
O réu também foi condenado por duas tentativas de homicídio (contra a amiga de Eloá, Nayara Rodrigues, e contra o sargento Atos Valeriano, que participou das negociações), cinco cárceres privados (de Eloá, e três amigos: Iago Oliveira e Victor Campos, e duas vezes por Nayara, que foi liberada e retornou ao cativeiro) e disparos de arma de fogo (foram feitos quatro).
A pena proferida pela juíza Milena Dias, de 98 anos e dez meses de reclusão, será cumprida incialmente em regime fechado --ele não poderá recorrer em liberdade. O réu, entretanto, não pode ficar preso por mais de 30 anos, de acordo com a lei brasileira.
Entenda o caso
A ação começou no dia 13 de outubro de 2008. Com Eloá, foram feitos reféns os amigos dela que estavam reunidos para fazer um trabalho de escola: Iago Oliveira e Victor Campos foram liberados no primeiro dia de cárcere; Nayara Rodrigues foi liberada no segundo dia, mas retornou ao cativeiro dois dias depois.
O cárcere privado terminou no quinto dia, quando policiais militares do Gate (Grupo de Ações Táticas Especiais), que negociavam a liberação das reféns, invadiram o apartamento, afirmando ter ouvido um estampido do local. Em seguida, foram ouvidos mais tiros: dois deles atingiram Eloá, um na cabeça e outro na virilha, e outro atingiu o nariz de Nayara. Eloá morreu horas depois; Nayara foi levada para o hospital e sobreviveu. Lindemberg, sem ferimentos, está preso desde então.
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