Caminhoneiros decidem encerrar paralisação em São Paulo, mas pedem apoio da polícia
Os caminhoneiros autônomos que distribuem o combustível na Grande São Paulo e que estavam paralisados desde a última segunda-feira (5) decidiram voltar ao trabalho a partir desta quinta-feira (8). Entretanto, em uma reunião de mais de sete horas entre os dirigentes das entidades que representam a categoria e as lideranças dos caminhoneiros, ficou combinado que haverá a regularização do abastecimento dos postos somente se a Polícia Militar garantir a segurança de cada caminhão que saia das bases de distribuição de combustíveis, localizadas no bairro do Ipiranga, em SP, e nos municípios de Barueri, Guarulhos e São Caetano do Sul. As informações são do Sindicam (Sindicato dos Transportadores Autônomos de Bens do Estado).
Os caminhoneiros estavam paralisados em protesto à proibição de circular na marginal Tietê. O movimento foi acordado em assembleia no domingo. Na noite de ontem, a Justiça determinou que os caminhoneiros voltassem ao trabalho o que foi acatado pelo Sindicam e repassado aos motoristas.
A paralisação gerou desabastecimento na cidade e, segundo o sindicato dos postos de combustível (Sincopetro), na noite desta quarta-feira nenhum posto da cidade tinha estoque de gasolina. "100% dos cerca de 2.100 postos da Grande São Paulo estão com o estoque de gasolina zerado e devem zerar ainda hoje o estoque de álcool e diesel", afirmou José Alberto Gouveia, presidente da entidade. Cidades do interior também começam a registrar problemas.
A exigência por escolta acontece porque alguns motoristas que decidiram retornar ao trabalho sofreram represália durante a paralisação. Devido às ameaças, a polícia instaurou um gabinete de crise para dar segurança aos caminhoneiros.
"O departamento Jurídico do Sindicam-SP protocolou junto ao Comandante Geral da Polícia Militar, Coronel PM Álvaro Batista Camilo, um ofício solicitando que a corporação garanta a segurança de todos os caminhões carregados nos percursos de ida e volta", afirma a entidade em nota. O UOL entrou em contato com a PM, mas ainda aguarda posicionamento da instituição.
Em ofício, o Sindicam alega que os caminhoneiros estão encontrando dificuldade para retornar o abastecimento já que “pessoas estranhas e alheias à categoria, com interesses outros que não os legítimos do trabalhador, terceiros ainda desconhecidos que nenhum vínculo mantém com essa entidade sindical, estão infiltradas causando vários incidentes e danos aos veículos, aos seus condutores e, principalmente, ao Sindicam-SP, que foi responsabilizado na liminar de realizar atos estranhos, com multa de R$ 1 milhão por dia, caso haja algum ‘piquete ou paralisação de caminhões na via pública’.
A Polícia Militar de São Paulo retomou hoje (7) às 9h30 as escoltas a caminhões-tanque que não aderiram à paralisação. Segundo o chefe de comunicação da PM, major Marcel Lacerda Soffner, a retomada das escoltas foi necessária devido a um incidente registrado próximo a uma base de distribuição da avenida Presidente Wilson, no Ipiranga (zona sul), quase na divisa com São Caetano do Sul (ABC). Lá, um piquete de grevistas teria ameaçado barrar dois caminhões da distribuidora Shell.
Segundo o presidente do Sindicom (Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis e de Lubrificantes), Alísio Vaz, 2 milhões de litros de combustível saíram até a tarde de hoje das bases das distribuidoras em 84 caminhões escoltados pela polícia.
Desabastecimento
Em entrevista coletiva mais cedo, Vaz afirmou que os postos de combustível de São Paulo estão totalmente sem gasolina. “Os postos não têm mais gasolina, alguns têm apenas estoque de álcool, mas isso acabará em breve”, afirmou.
"100% dos cerca de 2.100 postos da Grande São Paulo estão com o estoque de gasolina zerado e devem zerar ainda hoje o estoque de álcool e diesel", completou José Alberto Gouveia, presidente do Sincopetro (sindicato dos postos de combustível). Cidades do interior também começam a registrar problemas.
Segundo Vaz, os 2 milhões de litros de combustível que saíram hoje das bases das distribuidoras representam apenas entre 5% e 6% da demanda da Grande São Paulo, que é de 30 a 40 milhões por dia. Os caminhões que saíram, contudo, estão se dirigindo a serviços essenciais, como polícias, bombeiros e saúde. "Apenas cerca de 10% das entregas vão para postos", afirmou.
A reportagem do UOL visitou 12 postos nesta quarta-feira (7), entre 13h e 16h. Apenas três tinham combustível para oferecer. Um deles, na avenida Francisco Matarazzo, região oeste de São Paulo, contava apenas com etanol, a custo de 1,79 o litro. Com o movimento intenso, o funcionário Márcio Araújo acreditava que o estoque não duraria mais do que duas horas.
Outro posto, na avenida Ermano Marchetti, também na zona oeste, não enfrentava problemas de abastecimento pois conta com um caminhão-tanque próprio. Contudo, o preço do litro da gasolina e do etanol aumentou em R$ 0,20. O proprietário, Paulo Kazuo, explica que passou a buscar combustível na cidade de Paulínia ao invés de Barueri. Ele alega que por ter que percorrer uma distância maior, não houve como não repassar o custo ao consumidor.
Um terceiro posto, no alto de Pinheiros, tinha gasolina e cobrava R$ 2,59 o litro.
Normalização do serviço
Mesmo com os caminhoneiros de volta às ruas, o serviço deve demorar a ser restabelecido. Os sindicatos afirmam que estão tentando negociar com a Prefeitura de São Paulo e com a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) um meio de liberar os caminhões da restrição na marginal durante alguns dias apenas para facilitar o restabelecimento de São Paulo. Em nota, porém, a prefeitura disse que não haverá mudanças no esquema.
Pelos cálculos do sindicato, sem a flexibilização da prefeitura, a normalização do serviço deve demorar de sete a oito dias --se fosse aberta a exceção, o serviço poderia voltar em três ou quatro dias. Os cálculos são feitos já com base no retorno dos trabalhadores.
Preços abusivos
Até o final da tarde desta quarta (7), nove gerentes de postos haviam sido detidos pelos preços abusivos cobrados nos postos de combustíveis de São Paulo.
A Fundação Procon-SP está recebendo denúncias sobre os abusos e, até a tarde de hoje, 42 casos tinham sido registrados apenas na capital. O órgão esclarece que, de acordo com o Código de Defesa do Consumidor, é considerada como prática abusiva “elevar sem justa causa o preço de produtos ou serviços”.
“É muito importante que o consumidor exija a nota fiscal e denuncie. Na capital a denúncia pode ser feita pelo telefone 151”, afirma o Procon. O diretor executivo, Paulo Arthur Góes, informa que as denúncias serão investigadas pelo órgão e “se confirmada a conduta, o posto será multado e o caso encaminhado ao Ministério Público, para análise da questão criminal”. O valor da multa varia entre R$ 400 a R$ 6 milhões.
Consumidores reclamam das filas e dos preços abusivos. "Falei com meu pai agora e ele me disse para abastecer porque está faltando combustível. Só que o primeiro posto em que eu parei me cobrou R$ 3,60 o litro da gasolina aditivada, porque não tinha a comum", reclamou o empresário Ricardo Nascimento, que costuma pagar R$ 2,90 o litro.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.