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Cerca de 700 pessoas participam de missa para lembrar um ano da tragédia de Realengo

Rodrigo Teixeira

Do UOL, no Rio

08/04/2012 13h03

Cerca de 700 pessoas compareceram a uma missa celebrada neste domingo (8) para lembrar um ano da tragédia de Realengo, no Rio de Janeiro. O ato ocorreu na Igreja de Nossa Senhora de Fátima e São João de Deus.

Ontem, completou um ano que Wellington Menezes de Oliveira entrou na escola Tasso da Silveira, em Realengo, da qual era ex-aluno, e matou doze estudantes. A missa foi celebrada hoje porque a Igreja católica não celebra a eucaristia na sexta-feira, nem no sábado santo.

Os pais que perderam seus filhos traziam no peito fotos das crianças e mensagens contra o bullying: “Bullying, brincadeira de mau gosto” e “Eu luto pela paz” eram algumas das mensagens.

 “Esse primeiro ano é muito difícil, a minha filha foi fruto de uma gravidez muito difícil. Foram quatorze anos de benção. A minha família adoeceu junto com a perda dela. Só outra mãe que perde um filho sabe pelo que eu passo. Minha filha foi vítima de bullying, isso não pode mais acontecer”, disse Adriana Machado, presidente da Associação Anjos de Realengo, que perdeu sua filha Luiza na tragédia.

Nilza da Cruz, avó da menina Karine, que também morreu na ação, relembrou o último pedido da neta. “Parece que foi ontem. Às vezes, quando eu vejo os jovens voltando do colégio ainda procuro minha neta. No dia que tudo aquilo aconteceu, ela tinha me pedido para fazer bolo de fubá, mas ele não conseguiu chegar nem para o almoço”, declarou.

O eletricista Carlos Maurício, pai adotivo do menino Rafael, morto pelo atirador, afirma que a dor da família após um ano ainda é grande. “Ele estava no sétimo ano,  com quatorze anos [de idade]. Era um menino bom.  Agora o irmão que nasceu vai conhecê-lo por fotos”, disse ele enquanto segurava o seu filho mais novo no colo. Na ocasião, a criança estava na barriga de sua esposa com dois meses.

O sargento Márcio Alves, que foi considerado um herói ao balear o atirador, foi prestar homenagem às vítimas. “Eu tive uma participação. Às vezes penso nas vítimas que eu não consegui salvar, nunca imaginei tanto reconhecimento. Às vezes, quando eu fecho os olhos, lembro do momento que o ele [Oliveira] correu. Quando entrei na sala, lembrei do meu filho. Não tem um dia que eu não pense naquele dia”, relembra.

Stephany Mendes, 14, aluna que presenciou a tragédia, hoje diz preferir esquecer o que aconteceu. “Saí da Tasso depois do ocorrido. Eu estava lá no dia e vi tudo, não consigo esquecer, eu nem quero lembrar mais. Sinto muita saudades dos meus amigos”, disse ela que estava com uma camiseta com várias fotos dos colegas que perdeu.

Missa

Ante do início da missa, que durou 1h45, foi dito os nomes da vítima. Os pais estavam no local com pertences de seus filhos: sapatos, bonecas, ursos de pelúcia, chuteiras, entre outros, que faziam parte dos dia a dia dos jovens.

Após a leitura do evangelho, em sua homilia, o reitor do Santuário do Cristo Redentor, padre Omar Raposo, lembrou da tragédia e disse que a vida para os católicos continua com cristo.

“Cristo ressuscitou, e com essa certeza esperamos a vida eterna ao seu lado, o céu é a nossa esperança. Hoje nós choramos, mas que a ressurreição de Jesus nos traga essa alegria”, disse o padre.

Na hora do ofertório, três mulheres chegaram a passar mal, desmaiaram e foram hidratadas na ambulância.

A homenagem ao final da celebração ficou a cargo de um parente das vítimas que cantou uma canção autoral em homenagem, que dizia que as 12 crianças mortas viraram estrelas que brilham no céu. Uma mensagem do arcebispo Dom Orani Tempesta, por ocasião da Páscoa, foi lida.

Após a missa cada mãe recebeu uma rosa branca. Balões brancos foram soltos para o céu. Também vermelhos, em forma de coração, representando cada uma das 12 vítimas.

Pais de outras tragédias deram seu apoio

Carlos Santiago, pai de Gabriela, menina morta por um disparo em uma estação de metrô no Rio de Janeiro há nove anos, também foi  à celebração. “Para nós que perdemos nossos filhos em tragédias, o tempo não ajuda a esquecer, a dor não acaba, é insuportável”, disse.