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Mulheres organizam marcha pelo direito de fazer parto em casa; conselho pede punição de médico que defendeu a prática na TV

Marcha defende o direito de a mulher poder escolher onde quer fazer o parto: em casa ou no hospital - Getty Images
Marcha defende o direito de a mulher poder escolher onde quer fazer o parto: em casa ou no hospital Imagem: Getty Images

Débora Melo

Do UOL, em São Paulo

15/06/2012 06h00Atualizada em 15/06/2012 19h49

Mulheres de ao menos 21 cidades do país vão às ruas neste fim de semana (16 e 17) pelo direito de grávidas decidirem se querem ter seus filhos em casa ou no hospital.

A “Marcha do Parto em Casa” começou a ser organizada nas redes sociais após o Cremerj (Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro) pedir à entidade paulista, o Cremesp, a punição do obstetra Jorge Francisco Kuhn, que defendeu o direito de mulheres saudáveis optarem pelo parto domiciliar.

Em entrevista no último domingo (10) ao “Fantástico”, da TV Globo, Kuhn afirma que o parto “não é um procedimento cirúrgico”, mas “um ato natural”, e que mulheres sem problemas clínicos ou obstétricos podem optar pelo parto em casa. Não há proibição, mas o Conselho Federal de Medicina recomenda que, por segurança, os partos sejam feitos em hospitais. O médico não foi localizado para comentar.

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Até a noite desta quinta-feira (14), a marcha havia sido confirmada em 13 capitais e no Distrito Federal, além de cinco cidades do interior de São Paulo e outras duas do Paraná --o principal canal da mobilização, com locais e horários, é o Facebook. Em São Paulo são esperadas de 500 a mil pessoas. “Mas o movimento está tomando proporções que não esperávamos nas redes sociais, então pode ser que esse público aumente”, disse Ana Cristina Duarte, 46, obstetriz, que organiza a marcha na capital paulista.

As organizadoras afirmam que não defendem o parto em caso, mas o “parto humanizado” e o direito de escolha da mulher. “O objetivo da marcha é trazer visibilidade para a questão, que está em um terreno sombrio da legislação. Os planos de saúde, por exemplo, não cobrem o parto em casa”, disse Ana Cristina, que trabalha tanto em partos domiciliares como hospitalares.

Fundadora do movimento Parto do Princípio - Mulheres em Rede pela Maternidade Ativa, a analista de sistemas Ingrid Lotfi, 34, que organiza a marcha no Rio, afirma que o debate deve se basear em estudos e dados científicos. “Estudos de todo o mundo mostram que os riscos de ter um bebê em casa ou no hospital são similares. Os números batem.”

Ingrid diz que é importante ressaltar que, para a realização do parto domiciliar, a mulher precisa estar em perfeitas condições de saúde. “O parto em casa muitas vezes está associado a irresponsabilidade, mas a mulher só pode fazer essa opção se tiver uma gravidez saudável. Por isso um bom pré-natal, em dia, é tão importante. É ele que vai dizer quem pode e quem não pode fazer essa opção. Também é preciso parteiras treinadas e um esquema de transporte disponível.”

O Cremesp informou que ainda não recebeu formalmente a denúncia feita pelo Cremerj e que uma sindicância será aberta quando o documento chegar.