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Surdo e sem identidade, homem busca parentes por meio de rede social no interior de São Paulo

Cartaz divulga perfil de surdo sem identidade encontrado há dois anos em Itapetininga (SP) - Reprodução
Cartaz divulga perfil de surdo sem identidade encontrado há dois anos em Itapetininga (SP) Imagem: Reprodução

Fabiana Marchezi

Do UOL, em Campinas (SP)

23/06/2012 06h00

Um perfil no Facebook e um apelido. Isso é tudo o que possui um homem surdo e sem identidade encontrado às margens da rodovia Raposo Tavares, em Alambari (160 km de São Paulo), há cerca de dois anos. Com o intuito de encontrar a família de “Joca”, apelido do homem, o perfil “Surdo Longe de Casa” foi criado há 50 dias pelo professor de língua brasileira de sinais (Libras) Alexandre Elias dos Santos, de 37 anos. 

Em apenas 17 dias, o perfil atingiu sua marca máxima, 5.000 amigos. “O número atingiu o limite do site”, disse Santos. "Agora, criamos uma fan page (página para que fãs acompanhem o perfil na rede social) com capacidade maior de seguidores", informou.

Santos ensina Libras na Integra, uma instituição filantrópica em Sorocaba (107 km de São Paulo) que oferece o curso gratuitamente para surdos. Ele está engajado em encontrar a família Joca desde quando ele foi encontrado e levado para um abrigo em Itapetininga (177 km de São paulo), onde vive até hoje.

"Quando ele foi encontrado, o pessoal do Serviços de Obras Sociais (S.O.S.) de Itapetininga, para onde foi levado, me ligou para que eu tentasse contato com ele. Logo percebi que o homem não falava, por causa da surdez, e também não dominava a Libras".

Onde fica Itapetininga

  • Arte UOL

    Itapetininga está a 177 km de São Paulo

A busca por sua família ficou difícil. Sem documentos e sem saber se comunicar, Joca enfrenta dificuldades em todas as áreas da vida. Não consegue trabalho porque não tem registro. Até para conseguir consulta médica enfrenta dificuldades.

O professor conta que toda essa mobilização pela internet já rendeu alguns representantes da causa em pelos menos oito Estados do país. Ele conta que sempre que alguém de outro Estado fica sabendo do caso e procura por ele, logo o professor pede para que a pessoa se torne um representante e abrace a causa.

"Além de São Paulo, tem pessoas divulgando o caso dele no Rio Grande do Norte, Piauí, Santa Catarina, Rio de Janeiro, Goiás, Bahia e Maranhão. Essas pessoas conheceram a história dele pelo Facebook e estão ajudando a divulgar."

Santos mostra que os colaboradores estão realmente comprometidos com a causa. "Eles não ficam apenas compartilhando no próprio Facebook, também atuam fora da internet, divulgando nas suas cidades, comentando na comunidade e na imprensa local."

"Voz da esperança"

Segundo o professor, a campanha já rendeu dois contatos, apesar de frustrados. O primeiro partiu de uma família de Limeira (150 km de São Paulo), que foi pessoalmente à instituição onde o homem vive e outra de Goianésia (173 km de Goiânia). 

"Os dois casos foram frustrantes. Mas o de Goianésia foi pior. Parece que uma amiga viu no Facebook e avisou a família. Como eles são pessoas mais humildes, da zona rural, a mãe que procura pelo filho surdo foi até um mercadinho no centro da cidade para usar a internet. Foi a primeira vez que ouvi a voz da esperança, mas ainda não foi dessa vez. Foi muito triste."

Apesar das decepções, Santos está confiante na campanha. Ele disse ter duas novas ações em andamento. Uma é colocar cartazes com a foto de Joca em empresas de ônibus. "Queremos fazer cartazes sobre o homem surdo e divulgar nas empresas de transporte. Se a empresa tiver 200 ônibus de turismo, serão 200 cartazes. Assim a história do homem vai estar viajando pelo país."

A segunda ação é uma campanha de arrecadação para o abastecimento dos carros dos voluntários que transportam Joca entre Itapetininga, onde está morando, e Sorocaba, onde ele estuda Libras duas vezes por semana.