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"Ela conseguiu ao menos enterrar o filho", diz mãe de Eliza Samudio sobre mãe de Sérgio

Mãe de Eliza, Sônia de Fátima Moura diz que se solidariza com mãe de Sérgio - Charles Silva Duarte/O Tempo/AE
Mãe de Eliza, Sônia de Fátima Moura diz que se solidariza com mãe de Sérgio Imagem: Charles Silva Duarte/O Tempo/AE

Rayder Bragon

Do UOL, em Belo Horizonte

23/08/2012 15h09

Afirmando não ter experimentado nenhuma sensação de vingança, Sônia de Fátima Moura, mãe de Eliza Samudio, disse se solidarizar com a mãe de Sérgio Rosa Salles, réu no processo sobre o sumiço da filha e que foi assassinado com seis tiros nesta quarta-feira (23), no bairro Minaslândia, região norte de Belo Horizonte.

"Ela conseguiu ao menos enterrar o corpo do filho. Eu já tenho dois anos e dois meses que espero e até hoje não pude enterrar a minha filha", disse. A mãe de Eliza externou que espera a condenação de todos os réus envolvidos no caso do sumiço de sua filha e condenou a maneira como Salles morreu.

"Eu sinto pela mãe (de Sérgio Rosa Salles) porque sei exatamente o que ela está sentindo. Eu sei o que é o sofrimento pela perda de um filho", disse a mulher, que mora em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul. Recentemente, a Justiça determinou a ela a guarda do filho de Eliza Samudio. A paternidade da criança foi assumida pelo goleiro Bruno, em julho deste ano.

O jogador e mais seis pessoas vão a júri popular, ainda sem data definida, pelo sumiço de Eliza, que era ex-amante de Bruno. "A Justiça tem que ser divina. A feita pela mão do homem (referindo-se ao assassinato de Salles) não é Justiça. Isso seria uma vingança e eu não aceito isso. Eu espero que seja feito o julgamento e a condenação deles todos", afirmou.

Enterro

Durante o enterro de Sérgio Rosa Salles nesta manhã em Belo Horizonte, parentes pediram, em voz alta, por justiça. O primo do goleiro Bruno Souza foi sepultado às 11h no cemitério da Saudade, situado na capital mineira, onde estava sendo velado desde às 20h de ontem (quarta 22). Três policiais civis e quatro guardas municipais acompanharam o enterro.

Salles foi assassinado por volta das 7h da manhã de ontem em Belo Horizonte, logo após sair de casa para ir ao trabalho. Segundo a Polícia Militar de Minas Gerais, a vítima estava caminhando na rua quando foi abordada por dois suspeitos, em uma moto, que o perseguiram, dispararam vários tiros e fugiram. Assim como Bruno, Salles também é réu no caso Eliza Samudio.

Segundo o sargento Célio José de Oliveira, do 13º Batalhão da Policia Militar, Salles levou seis tiros - um no rosto e os demais pelo corpo. "Pela quantidade de tiros, a hipótese mais provável é mesmo que foi uma execução", disse o sargento. "Testemunhas disseram que o Sérgio correu e pediu por socorro antes de ser baleado."

O delegado titular da Delegacia de Homicídios de Belo Horizonte, Breno Pardini, disse também acreditar em execução. "A perícia foi feita minuciosamente, e as equipes estão em campo para fazer os levantamentos relativos à execução", afirmou. Na época da investigação sobre o desaparecimento de Eliza, Salles colaborou com a polícia, dando informações sobre o caso. O corpo da jovem nunca foi encontrado.

Salles havia deixado a penitenciária Antônio Dutra Ladeira, em Ribeirão das Neves (região metropolitana de Belo Horizonte), em agosto do ano passado. Na ocasião, questionado se se sentia injustiçado por ter ficado preso por mais de um ano, Salles afirmou que "só a Justiça poderá responder isso". O acusado foi liberado porque os juízes consideraram que ele é réu primário, "não oferece perigo à ordem pública e não demonstra poder aquisitivo capaz de influenciar as testemunhas ou perturbar o andamento do processo".

O advogado do réu, Marco Antonio Siqueira, afirmou na ocasião que seu cliente era apenas uma testemunha do processo e, portanto, não deveria ter sido preso. Carlos Alberto Salles, pai de Salles, disse que Bruno também deveria ser solto por ser um "menino muito bom para a família". A casa que os Salles moram, em Belo Horizonte, foi dada pelo goleiro.

Restrições

Solto, Salles teria que respeitar algumas restrições impostas pela juíza Fabiane Lopes Rodrigues, do 1º Tribunal do Júri de Contagem. Nos dias em que não estivesse trabalhando, o réu não poderia sair de casa, e, caso precisasse sair da capital mineira, teria de pedir autorização à Justiça.

Além de Salles, dos sete réus acusados pela morte de Samudio, quatro respondem em liberdade: Dayanne de Souza, ex-mulher do goleiro; Fernanda Castro, ex-amante de Bruno; Elenílson Vítor da Silva, ex-administrador do sítio em Esmeraldas (MG); e Wemerson Marques de Souza, o Coxinha, amigo do atleta.

Um primo do goleiro, menor de idade à epoca do sumiço de Eliza, cumpre medida socioeducativa em Minas Gerais por prazo indeterminado --a cada seis meses a sua situação é reavaliada pela Justiça. A pena poderá se estender por até três anos, segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente.

Bruno e Luiz Henrique Romão, conhecido como Macarrão e braço direito do atleta, vão a júri popular por sequestro e cárcere privado, homicídio triplamente qualificado e ocultação de cadáver. Já o ex-policial Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, será julgado por homicídio duplamente qualificado e ocultação de cadáver.

Reconstituição

Sérgio Salles havia participado de reconstituição no sítio do goleiro Bruno, na cidade de Esmeraldas (MG) e teria relatado aos investigadores detalhes da estada de Eliza no local, que segundo as investigações, teria servido de cativeiro para ela e o filho antes de ela ter sido supostamente morta na casa do ex-policial Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, acusado de ser o executor da ex-modelo. O imóvel de Bola fica na cidade de Vespasiano, região metropolitana da capital mineira.

Salles chegou a colocar o goleiro Bruno na cena do suposto crime, para retirá-lo posteriormente, em depoimentos dados à polícia e à Justiça de Contagem (MG). Os testemunhos de Salles contra Bruno, segundo algumas pessoas ligadas ao caso, foram frutos de suposta desavença com o ex-braço direito do goleiro, o réu Luiz Henrique Romão, o Macarrão.

O advogado Marcos Antônio Siqueira também revelou ainda que o cliente teria sofrido ameaças de morte na prisão, o que a polícia não confirmou. A defesa de Bruno cogitou usar em dado momento a tese de que o depoimento de Salles, acusando o goleiro de ter participado da morte de Eliza, seria uma forma de retaliação a Macarrão, que paulatinamente vinha assumindo o lugar que fora de Salles no convívio com o goleiro.

Salles iria a júri popular pelos crimes de sequestro e cárcere privado, homicídio triplamente qualificado e ocultação de cadáver. Ele respondia ao processo em liberdade.