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Novo incêndio na favela do Moinho, em São Paulo, atinge 80 barracos; uma pessoa morreu

Fábio Luís de Paula

Do UOL, em São Paulo

17/09/2012 07h14Atualizada em 17/09/2012 13h34

Os bombeiros confirmaram a morte de uma pessoa no incêndio que atingiu 80 barracos da favela do Moinho na manhã desta segunda-feira (17), num ponto embaixo do viaduto Engenheiro Orlando Murgel, no bairro de Campos Elíseos, região central de São Paulo. A informação foi confirmada pelo major Marcelo César Carnevale, segundo o qual o corpo foi encontrado, mas ainda não identificado.

“O corpo está calcinado e irreconhecível, não sabemos precisar se era homem ou mulher. Encontramos no meio do incêndio, bem embaixo do viaduto”, declarou. Além deste corpo, cinco cachorros morreram.

Segundo Carnevale, os bombeiros estão aguardando a chegada de um engenheiro da Prefeitura de São Paulo para verificar o estado da estrutura do viaduto, que pode ter sido abalada pelo fogo. Segundo a CBN, o viaduto foi evacuado por risco de queda da fiação elétrica.

Pelo Twitter, o Corpo de Bombeiros informou que, de acordo com depoimentos de moradores, o incêndio teria sido criminoso, "iniciado em briga de usuários de droga". A mesma versão foi dada pelo coordenador de Defesa Civil, Jair Paca de Lima. "Há boatos de que uma briga entre duas pessoas iniciou o fogo, mas é difícil saber." Entre os moradores, é passada a versão de que um casal brigou e colocou fogo no próprio barraco.

A ajudante de cozinha Mariângela dos Santos Soares, 44, que mora na favela com as duas filhas menores, conta entre lágrimas que uma das meninas estava em casa na hora do incêndio. "Tinha acabado de sair para trabalhar quando minha filha me avisou do fogo. Ela estava em casa e, como trabalho perto, voltei correndo. Graças a Deus minha filha não se machucou e se salvou. Mas agora não tenho mais nada, não sei o que vai ser de mim".

Por volta das 13h30, os bombeiros ainda estavam com carros dentro da favela e, mais cedo, receberam ajuda de caminhões de água de reuso da Sabesp, para o trabalho de rescaldo.

Agentes da Defesa Civil e da Secretaria de Assistência Social também estão no local. A movimentação de pessoas é grande, sobretudo de crianças e cães. Muitos tentam salvar o pouco que resta de suas casas, como roupas e eletrodomésticos.

Dos 560 barracos da favela, aproximadamente 80 foram atingidos, segundo a Defesa Civil. O órgão está trabalhando ao lado da Associação de Moradores do Moinho na distribuição de comida e água para os cerca de 300 desabrigados. Ambos os organismos também estudam se a prefeitura concederá ajuda financeira aos prejudicados.

O fogo, que se alastrou rapidamente, foi controlado por volta das 8h25. Vinte carros de bombeiros e 70 homens estiveram no local.

De acordo com Ricardo Perrone, jornalista do UOL que mora em um edifício na região, o local estava um "caos" no início da manhã. "Tem muita gente na rua, muito trânsito. Tive de sair do apartamento porque estava muito quente. Havia muita fumaça e era difícil de enxergar. O fogo parecia coisa pequena, mas em cinco minutos se alastrou numa proporção gigantesca. Alguns moradores da favela ajudaram os bombeiros com mangueiras. A avenida Rio Branco aqui está interditada", disse.

Trens parados e vias fechadas

A CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) confirmou que, por volta das 7h30, a ciculação de trens da linha 8-diamante, entre as estações Júlio Prestes e Barra Funda, foi interrompida por conta das chamas, sem previsão de volta. A comunidade fica entre as linhas 8-diamante e 7-rubi - esta última está funcionando apenas até a estação Palmeiras-Barra Funda.

Já a SPTrans informou que o trajeto de 17 linhas de ônibus tiveram de ser desviados por causa do incêndio.

A CET (Companhia de Engenharia e Tráfego) interditou o acesso da ponte da Casa Verde para a avenida Rudge e recomenda aos motoristas que evitem a região do viaduto.

A companhia ainda sugere aos motoristas que utilizam a avenida Rio Branco, sentido centro, trafegar pelas ruas Norma, Pieruccini Giannotti e Sérgio Tomás. No sentido bairro, podem utilizar a avenida Duque de Caxias.

VEJA O LOCAL DO INCÊNDIO

Incêndio em 2011

No dia 22 de dezembro do ano passado, um incêndio de grandes proporções destruiu parte da favela do Moinho. O fogo começou em um prédio abandonado de quatro andares. Segundo o Corpo de Bombeiros, em menos de meia hora, o incêndio devastou um terço da comunidade, onde moravam cerca de 600 pessoas. O local afetado tinha 6.000 m². Duas pessoas morreram e dezenas de famílias ficaram desabrigadas.

A área onde está a favela do Moinho vem sendo alvo de disputas judiciais entre a prefeitura e os moradores nos últimos anos. Enquanto a administração municipal tenta desapropriar a área e utilizá-la para outros fins, os moradores buscam conquistar o direito de permanecer no local.

Outros casos

Na última segunda-feira (3), um incêndio de grandes proporções atingiu a favela morro do Piolho, na zona sul da capital paulista, deixando 285 famílias desabrigadas --o equivalente a cerca de 1.140 pessoas, segundo informações da Defesa Civil.

Quatro dias depois, o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, declarou que o fogo pode ter sido intencional. "Lá existe até a suspeita de que o incêndio possa ter sido provocado, como, aliás, foi identificado em outros casos", disse.

Por sua vez, o Ministério Público de São Paulo investiga se a série de incêndios ocorridos desde janeiro deste ano em favelas da capital paulista tem relação com o interesse do setor privado ou do setor público em construir nas áreas de entorno dessas comunidades.  

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