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Mulheres chefes de família não são mais pobres e nem sozinhas, diz pesquisadora

Fernando Cymbaluk

Do UOL, em São Paulo

22/09/2012 13h00

O número de mulheres que são chefes de família aumenta ao longo dos anos no Brasil. Em 1996, 20,81% dos lares tinha como chefe uma mulher, segundo pesquisa do IBGE na época. No Censo realizado em 2000, a porcentagem subiu para 26,55%. Já a Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio), que teve como ano base 2011, levantamento mais recente do IBGE, divulgada nesta sexta-feira (21), aponta que 37,4% das famílias têm como pessoa de referência uma mulher.

Infográficos Pnad 2011

  • Arte/UOL

    O perfil dos domicílios

  • Arte/UOL

    O perfil das regiões brasileiras

De acordo com especialistas consultados pelo UOL, a primeira leitura desse aumento aponta para a maior inserção da mulher no mercado de trabalho. Para Márcia Macedo, socióloga e pesquisadora do Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre a Mulher da UFBA (Universidade Federal da Bahia), a renda da mulher passou a ter um peso maior na composição da renda familiar.

“Antes, a renda da mulher era um complemento. Agora, os casais se formam já contando com grande contribuição dela”, diz a pesquisadora. Ela afirma que fatores do próprio mercado de trabalho influenciam no aumento da liderança das mulheres. “Coisas como o achatamento de salários, por exemplo, não permitem mais que o homem seja provedor exclusivo”. 

Os dados sobre o crescimento no número de famílias chefiadas por mulheres revelam outras mudanças de hábitos da população brasileira. “Muitas mulheres optam por ser provedoras do lar”, diz Márcia Macedo, que possui doutorado sobre mulheres chefes de família. “A chefia feminina não é sinal de piora nas condições de vida da mulher. Ela pode viver sem o companheiro, sem que isso signifique situação de solidão ou pobreza”, completa.

Já a especialista em geografia humana e professora aposentada da USP, Rosa Ester Rossini, acentua que as mulheres chefes de famílias são mais comuns em grupos familiares de baixa renda. “Em 1985, uma pesquisa de campo que realizei em periferias de grandes cidades apontava que 35% das famílias eram chefiadas por mulheres de baixa renda”, diz a professora, comparando com os 37,4% de famílias chefiadas por mulheres que aparece na pesquisa do IBGE de 2011.

“São famílias de mães solteiras, ou de mulheres que não conseguem um companheiro”, diz Rosa Ester. “Ou de mulheres independentes mesmo”, completa. As duas especialistas apontam para o fato de ser mais comum que mulheres fiquem com a guarda dos filhos após uma ruptura conjugal, tornando-se provedoras de seu próprio grupo. 

O Brasil possui 24,099 milhões de famílias chefiadas por mulheres, de um total de 64,358 milhões de grupos familiares que vivem em domicílio particular no país.

Mudança na hora de responder pesquisas

Outro fato que pode estar influenciando o crescimento do número de mulheres chefes de família nas pesquisas do IBGE é a forma como as pessoas respondem os questionários. “Antes, perguntava-se quem era o chefe da família, expressão que encobria um preconceito, a ideia de que o chefe é o homem”, diz Márcia Macedo.

Segundo o IBGE, desde o final dos anos 1990 a nomenclatura ‘chefe de família’ foi substituída pela expressão ‘pessoa de referência da família’ nos questionários dos estudos. Quem responde a pesquisa é que diz quem é a pessoa de referência.

“Mais mulheres, ao responderem às pesquisas, apontam a si próprias, ou são apontadas pelos familiares, como responsáveis pela família. É uma mudança de mentalidade”, diz Márcia Macedo. "Quem define quem é o chefe da família é a família, e não o fato de ser homem", complementa Rosa Ester.

O IBGE diz que, na maioria das vezes, a pessoa responsável pelo sustento da casa é apontada como referência. Mas é possível existirem casos em que crianças que sabem ler --em família de pais analfabetos--, ou donas de casa que possuem cônjuge que trabalha são apontadas como referências da família.