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"Macarrão merece a redução de pena", diz promotor durante julgamento do caso Eliza Samudio

Carlos Eduardo Cherem, Guilherme Balza e Rayder Bragon

Do UOL, em Contagem (MG)

23/11/2012 17h59Atualizada em 24/11/2012 00h25

O promotor Henry Castro sustentou, durante a fase de debates na sessão desta sexta-feira (23) no Tribunal do Júri de Contagem (região metropolitana de Belo Horizonte), que o réu Luiz Henrique Romão, o Macarrão, merece ter a pena atenuada por ter confessado participação na morte de Eliza Samudio e ter delatado o ex-goleiro Bruno Souza. Mais cedo, o promotor havia dito que não houve "acordão" para que Macarrão apontasse o ex-goleiro como mentor do crime.  Ao final de sua sustentação, ele pediu a condenação de Macarrão e também de Fernanda Castro, ex-amante de Bruno, "por todos os crimes atribuídos a eles".

“Macarrão merece a redução de pena.” Castro, contudo, afirmou que a condição de Macarrão de articulação do desaparecimento da modelo deve agravar a pena dele. “Toda essa articulação também é agravante.”

Para o promotor, a confissão de Macarrão foi “inteligentemente planejada”, já que ele também negou o papel de mentor do crime. “Seria de suprema ‘jumentalidade’ ele assumir o papel de articulador porque todos os benefícios de sua confissão iriam por água abaixo.”

Em seguida, o promotor zombou do advogado Lúcio Adolfo da Silva, defensor de Bruno, que ontem (24) entrou no plenário do júri durante o interrogatório de Fernanda Castro e perguntou à ré se ela havia feito acordo com o Ministério Público. Para o advogado, a Promotoria fez uma negociação com a defesa de Macarrão para que ele confessasse o crime.

“Um sujeitinho tamborete de forró entrou aqui cheio de audácia, perguntando se havia acordo, entre Fernanda e o Ministério Público”, disse. “Era para desacreditar o promotor perante a vossas excelências e para desacreditar a confissão de Macarrão”, disse Castro aos jurados.

Quem irá decidir se Macarrão terá a pena atenuada ou agravada serão os sete jurados, que responderão a sete quesitos previamente elaborados. O réu é acusado de sequestro, cárcere privado, homicídio triplamente qualificado e ocultação de cadáver.

Mais tarde, o promotor apelou aos jurados, dizendo que se ele for condenado apenas como partícipe do homicídio, e não pelos outros crimes, ficará pouco tempo na prisão. "A pena dele vai tender aos 12 anos. Isso quer dizer que se houver uma missa de quinto ano pela passagem de Eliza, ele [Macarrão] vai ter condições de estar lá."

Depois, discorreu sobre a pena de Fernanda, ironizando a ré. “Por esses sequestros [de Eliza e Bruniniho], Fernandinha, pura e inocente, ingênua (...) pelo sequestro daquela mulher ela vai sair com uma peninha de três aninhos em regime aberto, e regime aberto no Brasil é rua, é prisão domiciliar, porque ninguém fiscaliza.”

Castro disse que Fernanda sabia que Eliza seria morta. Citando depoimento de Jorge Rosa, ele afirmou que, no Rio de Janeiro, quando começou o sequestro da ex-amante de Bruno, a ré cobria o rosto diante da modelo. Já no sítio em Esmeraldas (MG), “Fernanda já tinha relaxado, nem tampava mais o rosto porque sabia que ela [Eliza] não escaparia.”

O promotor relembrou depoimento dado, em 2010, por Jorge Rosa Lisboa, para o juiz da Vara da Infância e Juventude de Contagem (MG), que determinou medida socioeducativa a ele, menor de 18 anos, na época da condenação. Segundo o promotor, se o juiz condenou "uma peça menor" no processo, “porque não condenar os ‘maiores envolvidos".

Os depoimentos de Jorge, que ficou apreendido por dois anos e dois meses, são a principal prova usada pelo promotor ao longo de suas sustentações orais. De acordo com Henry Castro,  o primo de Bruno, que completou 19 anos e está solto, temem ser morto por ter delatado o desaparecimento de Eliza.

“Jorge vive com medo. Não mantém contato nem com os pais, porque nem nos pais ele confia”, afirmou o promotor. “E ele não é ameaçado de morte por mim, não é por Bruninho Samudio, não é pela Eliza. É óbvio que é por alguns réus.”

Fotos queimadas

No final da sustentação, o promotor exibiu fotos impressas extraídas do laptop de Eliza Samudio e as comparou com fotos queimadas encontradas pela reportagem da Folha de S. Paulo nas proximidades do sítio de Bruno em Esmeraldas na época das investigações. "Esse álbum tem fotos de um bebezinho do sexo masculino. Essas fotos foram encontradas idênticas no computador de Eliza.”

E concluiu a sustentação pedindo a condenação de Macarrão e Fernanda por todos os crimes a que são acusados. “Peço justiça. Peço a condenação daquela Fernanda, deste Macarrão por todos os crimes atribuídos a eles.”

Crítica à Polícia de Minas

Também, durante os debates, a advogada Carla Silene, que defende a ré Fernanda Castro no julgamento do caso Eliza, criticou a Polícia Civil de Minas Gerais para desqualificar as investigações sobre o crime. "Minas Gerais possui a pior polícia investigativa de homicídios do Brasil", afirmou a advogada de Fernanda, que citou relatório do CNMP (Conselho Nacional do Ministério Público).

De acordo com ela, o sítio de Bruno em Esmeraldas (MG) “sequer foi preservado”. Silene fez referência ao ex-policial José Laureano, o Zezé. A investigação comprovou ligações entre ele e Macarrão, no dia do suposto assassinato de Eliza, mas ele não foi indiciado pela Polícia Civil, nem foi denunciado pelo Ministério Público.

Carla Silene afirma que não houve sequestro e cárcere privado de Eliza Samudio e diz que a promotoria tinha a obrigação de denunciar todas as pessoas que supostamente se envolveram nessa situação. A advogada ironizou o fato de que havia várias pessoas no sítio do goleiro na data em que Eliza teria ficado no local, o que descaracterizaria o cárcere de Eliza.

"Quando não se tem argumento, tenta-se levar no grito", diz a advogada de Fernanda Castro, eximindo a cliente de culpa no suposto assassinato de Eliza Samudio, ex-amante do goleiro Bruno.

"Esse caso só teve a repercussão que teve porque escancarou as mazelas da Justiça brasileira", afirmou a advogada de Fernanda Castro, que chorou durante a maior parte da sustentação da defensora.

Veja como foi cada dia do julgamento

1º diaMarcos Aparecido dos Santos, o Bola, fica sem advogado depois que Ércio Quaresma se recusa a fazer sua defesa preliminar no tempo estabelecido pela juíza. Bola, então, rejeita um defensor público. Com isso, ele tem seu julgamento adiado para data ainda a ser definida
 A juíza dispensa sete jurados que participaram de outro júri de Bola e o absolveram da morte de um carcereiro
 Fernando Diniz, advogado do Luiz Henrique Romão, o Macarrão, também ameaçou abandonar a defesa, mas voltou atrás
 Também nesta segunda-feira foram definidos os sete jurados que decidirão o futuro dos réus. O corpo de jurados ficou definido com seis mulheres e um homem
2º dia O segundo dia do júri do caso Eliza Samudio foi marcado pela substituição de um dos advogados do goleiro Bruno Fernandes e terminou com um momento de intimidade entre o ex-jogador e sua atual namorada Ingrid Oliveira.
  Bruno dispensou o advogado Rui Pimenta, que disse estar surpreso.
 A sessão de hoje foi marcada também pelo choro de Dayanne de Souza, ex-mulher do jogador, e Fernanda de Castro, ex-amante do goleiro, ambas acusadas de participação no desaparecimento de Eliza Samudio.
 Por um pedido da Promotoria, a juíza Marixa Fabiane decidiu desmembrar o julgamento de Dayanne, de modo que o advogado Francisco Simim passasse a defender apenas Bruno neste júri. Com isso, ela será julgada em outra data.
  A juíza Marixa Fabiane aplicou uma multa de R$ 18,7 mil para os três advogados de Bola, que abandonaram o júri.
3º dia Em outro dia tumultuado, o ex-goleiro Bruno conseguiu ter seu julgamento desmembrado. Ele será julgado em 4 de março de 2013.
  Macarrão depõe e incriminou Bruno. Ele disse que o ex-goleiro pediu para ele levar Eliza para um local perto da Toca da Raposa. Lá, ela desceu do carro que ele dirigia e foi colocada em um Pálio preto. Ele, no entanto, não disse textualmente que Eliza está morta.
4º dia No quarto dia do julgamento, só Fernanda Castro, ex-amante de Bruno, prestou depoimento. Ela disse que só soube da morte de Eliza por causa do depoimento de Macarrão, dado na quinta-feira (22), na madrugada.