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Niemeyer se preocupava com o crescimento de Brasília, dizem netos

Do UOL, em Brasília

06/12/2012 19h40

Nos últimos anos, o arquiteto Oscar Niemeyer se preocupava com o crescimento de Brasília além do previsto, o que causou problemas de infraestrutura, segundo os netos Ana Lúcia Niemeyer e Carlos Oscar Niemeyer Magalhães, presentes ao velório realizado nesta quinta-feira (6) no Palácio do Planalto.

“Ele sempre teve um carinho especial por Brasília, mas se preocupava porque a cidade cresceu mais do que o previsto e ficou com diversos problemas que uma cidade grande tem”, afirmou Magalhães. “Ele se preocupava com os problemas de infraestrutura”, completou Ana Lúcia.

Para ela, o maior legado do avô são as ideias que ele tentou passar de humanismo e justiça social, “tão importante quanto a obra arquitetônica dele”.

Aproximadamente 4.000 pessoas passaram pelo Palácio do Planalto, em Brasília, para se despedir do arquiteto. Uma multidão fez fila em frente ao local para se despedir de Niemeyer, que morreu ontem (5), aos 104 anos.

Embora bastante comovidos, os netos disseram que o legado deixado pelo avô é "inestimável" e torcem para que as obras de Niemeyer sejam preservadas, principalmente pela importância mundial que têm.

Tomás Mendes Vieira Neto, 77, que trabalhou na construção de Brasília, esteve presente no velório. Ele, que veio de Piauí em 1958, disse ter encontrado com o arquiteto em uma das obras da capital federal. "Na ocasião ele perguntou: 'Será que vamos conseguir inaugurar a obra?'. 'Pode contar com esse peão’, eu respondi."

O arquiteto morreu em decorrência de problemas respiratórios. Ele estava internado no Hospital Samaritano desde o dia 2 de novembro devido a complicações renais e desidratação.

O enterro deve ocorrer nesta sexta (7), no cemitério São João Batista, em Botafogo, no Rio.

Homenagens

A presidenta Dilma Rousseff decretou luto oficial de sete dias pela morte de Oscar Niemeyer. As informações foram divulgadas pelo Palácio do Planalto. Durante o luto oficial, a bandeira nacional é hasteada a meio mastro em todas as repartições públicas do governo que a decretou (federal, estadual ou municipal). Além disso, coloca-se um laço de crepe na ponta da lança se ela estiver sendo conduzida em alguma cerimônia.

Na chegada ao Palácio, o corpo foi recebido pela presidenta Dilma com a guarda de 48 Dragões da Independência. A presidente ficou ao lado da viúva do arquiteto, Vera Niemeyer, e deixou o local por volta de 16h15, acompanhada da ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann.

A sessão plenária do Senado desta quinta-feira  foi suspensa a pedido do presidente da Casa, José Sarney, para que os senadores possam prestar suas homenagens .

"O Brasil morre um pouco com Niemeyer, e Niemeyer permanece vivo no coração de todos brasileiros", disse o senador Francisco Dornelles (PP-RJ)

A Câmara dos Deputados exibiu fotos do arquiteto nos painéis do Plenário Ulisses Guimarães, antes do início da sessão solene que devolveu, simbolicamente, os mandatos de 173 deputados federais cassados entre 1964 e 1977, durante o regime militar (1984-1985).

"Neste momento, estamos com o coração apertado pela perda de um gênio da arquitetura e do humanismo. Brasília tem uma identidade muito forte com Niemeyer e inúmeras obras deixadas por ele", disse o governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz.

Um grupo pequeno de manifestantes ligado ao Movimento de Defesa de Brasília, que reúne 15 entidades voltadas à preservação da cidade, organizou um protesto durante o velório do arquiteto Oscar Niemeyer.

Cantando trecho da música "Sem a tua, tua companhia" e com cartazes de ordem, os manifestantes se posicionaram contra o decreto do governador Agnelo Queiroz, que amplia a permissão de construções na capital federal, colocando em risco o título de Patrimônio da Humanidade.