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Prevista para 2012, única obra de Niemeyer na Argentina está parada por disputa política

Maria Martha Bruno

Do UOL, em Buenos Aires

07/12/2012 06h00

Um dos últimos projetos realizados pelo arquiteto brasileiros Oscar Niemeyer, que morreu na noite da última quarta-feira (5), estava previsto para ser inaugurado neste ano na Argentina.

O Puerto de la Música, na cidade de Rosário (300 km de Buenos Aires), seria o primeiro de autoria do arquiteto no país vizinho.

Em 2008, ele apresentou a ideia do complexo, que reúne sala de concertos, centro de exposições e escola de música.

A inauguração coincidiria com o bicentenário da criação da bandeira argentina, em 2012.

Também por isso, o Puerto de la Música seria instalado bem próximo ao Monumento à Bandeira, um dos maiores e mais importantes do país, localizado às margens do Rio Paraná.

No entanto, um conflito político entre o governo nacional e o da província de Santa Fé (onde está localizada Rosário) impediu a realização do projeto no prazo previsto.

Três empresas venceram a licitação há dois anos, porém nada foi feito. Nas eleições de 2011, o candidato de Cristina Kirchner ao governo de Santa Fé, uma das principais províncias do país, ficou em terceiro lugar, derrotado pelo atual governador, Antonio Bonfatti. Ele é um dos adversários políticos do grupo da presidente.

Embora a área onde o Puerto de la Música será construído seja de propriedade da província, é necessária a autorização da Subsecretaria de Portos e Vias Navegáveis, o órgão federal responsável pela regulação da zona costeira.

“O governo tem um compromisso com a execução do projeto. Não perdemos a convicção de que a obra vai ser realizada. Ela é parte do Plano Estratégico da Província e é um legado do maestro Niemeyer que queremos deixar para as gerações futuras”, afirmou ao UOL Maria Julia Reyna, secretária-geral da Fundação Puerto de la Música, vinculada ao governo de Santa Fé.

Uma das soluções arquitetônicas do projeto seguiu também uma das principais orientações políticas do autor: a inclusão social.

O trabalho de Niemeyer manteve as curvas características de seus traços e, do lado de fora da construção, buscou um espaço mais participativo, ao projetar um fundo de palco aberto ao público.

“O espetáculo não vai ficar limitado à plateia [há 2.500 assentos no local]. Uma multidão, 10 mil pessoas, podem, de fora, assistir ao espetáculo. Então é uma função mais humana, mais inteligente, em que todos vão participar (...) Os mais pobres que não estão no espetáculo aqui poderão fazer parte dele (...) A ideia é que a arquitetura, dentro do possível, chegue ao povo. Todos devem ser iguais”, afirmou Niemeyer quando apresentou o projeto.

A esplanada exterior do Puerto de la Música tem capacidade para 30 mil pessoas e a área total do projeto chega a quase 21 mil metros quadrados.

Centro na Espanha está fechado

Outro projeto de Niemeyer no exterior, considerado por ele a “melhor e mais querida” obra realizada fora do Brasil, chegou a entrar em funcionamento, mas, também por divergência políticas, está fechado.

O Centro Cultural Internacional Oscar Niemeyer, única obra do arquiteto na Espanha, fechou as portas por divergências de gestão entre a prefeitura de Aviles, onde está localizado, o governo da região autônoma das Astúrias e a fundação que dirige a instituição.