Urubu doméstico come salsicha em vez de carniça em condomínio de São Vicente (SP)
Cada um conta uma história diferente sobre Jeremias. Dizem que apareceu há três anos, depois de ter sido atropelado. Há quem afirme que surgiu no bairro, simplesmente, e a vizinhança se acostumou com a sua presença.
A verdade é que um pedaço do Parque Prainha, um bairro à beira-mar em São Vicente (65 km de São Paulo), teve seu cotidiano alterado com a chegada de Jeremias –um urubu-de-cabeça-preta (Coragyps atratus) que, de tão habituado às pessoas, tornou-se animal doméstico. Aceita carícias, alimenta-se nas mãos dos moradores, convive com crianças, toma banho em bacia.
A vida de Jeremias se resume às janelas dos andares mais baixos de um condomínio, ao telhado de um bar vizinho ao prédio e à pequena praça localizada ao lado da Ponte Pênsil, um dos caminhos que vão de São Vicente a Praia Grande (71 km de São Paulo).
O urubu só consegue voos curtos. “Um carro bateu nele, que ficou com a asa machucada e perdeu força para voar”, disse o comerciante José Ferreira Lima, um dos proprietários do bar também comandado por sua mulher, Neuzi de Melo Ferreira.
Assim, a caminhada é um dos passatempos de Jeremias. Sobretudo, se alguém surge com alguma sacola. Isso ocorre frequentemente com a dona de casa Maísa Cristina da Silva Tosta, que ainda hoje (13) levou ao pássaro uma sacola cheia de pedaços de frango cru, rapidamente devorados. Também aceita salsichas, desde que sem pele. Carniça? De jeito nenhum.
O urubu se dá bem com outros animais. Uma cadela, batizada pelos vizinhos de Suzi, “defende Jeremias o tempo todo. Um corre atrás do outro, como se brincassem de esconde-esconde. Agora, o Pascoal [outro cachorro], ele belisca”, informou Sônia Regina Lopes, porteira do condomínio, que costuma ser refúgio da ave.
Medo de criança
Há, porém, pessoas com as quais o urubu não se entende. “Uma delas é o meu sobrinho Gabriel. Quando ele chega perto com os braços levantados, como se fosse voar, o Jeremias fica com medo e foge”, disse Sueli Melo Ferreira, filha do casal dono do bar.
Explica-se: certa madrugada, na praça, Jeremias estava em meio a outros urubus, uns dez deles. Apanhou feio. Bicadas por todos os lados. Agora, muito raramente se mistura às aves de sua espécie.
Mas por que deram ao pássaro o nome Jeremias? “Ah, tem um pessoal de São Paulo que vem aqui vender frutas. Um deles é o Jeremias. Aí, eu falei: 'Olha, [o urubu] é igualzinho a você'. Mas ele levou na brincadeira”, informou Neuzi, que sempre recebe a visita de Jeremias –o urubu, não o comerciante– na janela de sua casa.
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