Advogado tenta sensibilizar jurados entregando mensagem à filha de juíza assassinada no Rio
O assistente de acusação Técio Lins e Silva, que representa a família de Patrícia Acioli no segundo julgamento do processo sobre o assassinato da juíza, nesta quarta-feira (30), na 3ª Câmara Criminal de Niterói, abriu a fase de debates com um emocionado discurso sobre a memória da vítima.
Ao fim da explanação, o advogado chamou ao tribunal a filha de Acioli, Ana Clara Acioli, para entregar uma mensagem que havia sido dada a ele por uma das testemunhas arroladas pela acusação. Trata-se de uma frase do filósofo irlandês Edmund Burke: "Para o triunfo do mal basta que os bons não façam nada".
"O pai da Ana Clara [Wilson Chagas, ex-marido da juíza] não conseguiu impedir que ela viesse. Ela está aqui para assistir a justiça sendo feita", disse.
A expressão, segundo Lins e Silva, é a mesma que estava fixada em uma das paredes do gabinete da ex-titular da 4ª Vara Criminal de São Gonçalo, que foi morta com 21 tiros, em agosto de 2011, em função de sua atuação combativa em relação à corrupção policial. O MP denunciou 11 PMs pelo crime, dos quais três estão sendo julgados nesta semana: Jefferson de Araújo Miranda, Jovanis Falcão Júnior e Junior Cezar de Medeiros.
A frase foi copiada e entregue ao assistente de acusação pelo inspetor da Polícia Civil Ricardo Henrique Moreira, ex-chefe do núcleo de homicídios do distrito policial de São Gonçalo (72ª DP), e que "vive de colete balístico até dentro de casa", segundo palavras do próprio, em função de ameaças de morte.
Segundo a investigação para elucidar as circunstâncias da morte de Acioli, Moreira era o primeiro alvo dos PMs lotados no GAT (Grupamento de Ações Táticas) do 7º BPM (São Gonçalo). Na terça-feira (29), em depoimento à Justiça, o policial civil afirmou que os policiais acusados pelo homicídio contra a magistrada fariam parte de um grupo de extermínio chamado "Bonde dos Neuróticos".
CASO PATRÍCIA ACIOLI EM NÚMEROS
11
PMs
Foram denunciados pelo crime, dos quais dez por homicídio triplamente qualificado e formação de quadrilha.
1
PM
Foi denunciado apenas por homicídio, já que, segundo o MP, ele atuou como informante do grupo, o que não configuraria formação de quadrilha.
3
PMs
Serão julgados no dia 29 de janeiro de 2013. São eles: Junior Cezar de Medeiros, Jefferson de Araújo Miranda e Jovanis Falcão Junior.
7
PMs
Ainda esperam resultados de recursos.
21
tiros
Foram disparados contra a juíza Patrícia Acioli na noite do dia 11 de agosto de 2011.
Entenda o caso
De acordo com a investigação da Divisão de Homicídios, dois PMs foram responsáveis pelos 21 disparos que mataram Patrícia Acioli: o cabo Sérgio Costa Júnior e o tenente Daniel Santos Benitez Lopez, que seria o mentor intelectual do crime, a mando do tenente-coronel Cláudio Oliveira.
Outros oito policiais militares teriam realizado funções operacionais no planejamento do assassinato e responderão por formação de quadrilha e homicídio. Apenas Handerson Lents Henriques da Silva, que seria o suposto informante do grupo, não foi denunciado por formação de quadrilha.
O assassinato de Patrícia Acioli se deu por volta de 23h55 do dia 11 de agosto de 2011, quando ela se preparava para estacionar o carro na garagem de casa, situada na rua dos Corais, em Piratininga, na região oceânica de Niterói. Benitez e Costa Júnior utilizaram uma motocicleta para seguir o veículo da vítima.
Algumas horas antes de morrer, a magistrada havia expedido três mandados de prisão contra os dois PMs, réus em um processo sobre a morte de um morador do Morro do Salgueiro, em São Gonçalo.
A juíza era conhecida no município por adotar uma postura combativa contra maus policiais. Segundo a denúncia do MP, o grupo seria responsável por um esquema de corrupção no qual ele e os agentes do GAT recebiam dinheiro de traficantes de drogas das favelas de São Gonçalo.
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