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Ex-comandante da PM mentiu em depoimento, diz assistente de acusação no julgamento da morte de juíza no Rio

Júlia Affonso

Do UOL, no Rio

30/01/2013 16h38

O assistente de acusação Tésio Lins e Silva disse, durante o debate no segundo dia do julgamento do assassinato da juíza Patrícia Acioli nestan quarta-feira (30), que o coronel Mário Sérgio Duarte, ex-comandante da PM (Polícia Militar), mentiu em depoimento dado ontem (29). Lins e Silva afirmou que o coronel sabia das ameaças que Patrícia Acioli estava sofrendo.

Os PMs Jéfferson de Araújo Miranda, Jovanis Falcão Júnior e Junior Cezar Medeiros são acusados de ajudar no planejamento do assassinato da juíza em agosto de 2011 e estão sendo julgados na 3ª Câmara Criminal de Niterói, na região metropolitana do Rio de Janeiro, desde ontem.

"É grave ver o ex-comandante vir ao julgamento mentir. Era fato público e notório que a juíza era ameaçada. Além disso, Patrícia recebeu um ofício da Polícia Federal, em 2009, época em que Mário César era comandante da PM, dizendo que ela corria risco de vida. O documento também foi enviado para o Ministério Público e para o comando da PM", disse Lins e Silva, ao mostrar o documento aos jurados.

 

"Por que o coronel tem indisposição com a Patrícia? Só porque ele é amigo do coronel Cláudio? Ou por que ele é casado com uma oficial da PM, que tem um motorista que também era réu da Patrícia, e têm seus autos de resistência para responder?", perguntou.

Entre os mais de cem policias investigados pela juíza, por fraudes em autos de resistência, um deles era o sargento Antônio Carlos Nascimento Ribeiro, que segundo Lins e Silva, trabalha como motorista da mulher do ex-comandante.

Para o promotor Leandro Navega, o ex-comandante foi uma "testemunha tendenciosa" e o depoimento dado ontem foi "ridículo".

"Ninguém me convence de que ele não tem participação [insinuando que o ex-comandante da PM teria alguma responsabilidade por ter retirado a escolta de Patrícia Acioli]. (...) Acho que isso tem de ser apurado", disse.

"Ele não podia fazer o que fez e dar impressões suas sobre o processo, a lei proíbe que testemunha faça uma análise pessoal sobre o caso. O que mais me revolta é o fato de que o ex-comandante deu mais valor aos relacionamentos pessoais da juíza do que especificamente as provas técnicas do processo", afirmou.

"Se a lei fosse cumprida, o coronel teria saído preso deste julgamento, por ter feito análises pessoais do processo", afirmou Lins e Silva.

"A morte da Patrícia é muito grave. Não foi apenas um crime contra uma cidadã, e sim um atentado contra a Justiça brasileira. Ela morreu atingida por balas que foram compradas com dinheiro público e isso não pode se repetir", disse o advogado, em referência às balas usadas no assassinato da juíza.

De acordo com o depoimento de Felipe Ettore, delegado da Divisão de Homicídios responsável pelo caso, as cápsulas recolhidas no local onde Patrícia foi morta, foram identificadas como sendo do 7º BPM (São Gonçalo), onde os réus eram lotados. A Polícia Civil descobriu pela marca e pelo lote das balas que elas haviam sido compradas pela Polícia Militar e distribuídas ao Batalhão de São Gonçalo.