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Bruno não vai responder perguntas da Promotoria e de advogados de acusação

Carlos Eduardo Cherem, Guilherme Balza e Rayder Bragon

Do UOL, em Contagem (MG)

06/03/2013 14h01

Começou, por volta de 14h, o interrogatório do goleiro Bruno Fernandes ao Tribunal do Júri de Contagem (região metropolitana de Belo Horizonte). Antes do início do depoimento, o advogado Lúcio Adolfo da Silva, defensor do goleiro, afirmou que ele não irá responder qualquer pergunta do promotor Henry Wagner de Castro e de advogaados de acusação e só retrucará os questionamentos da juíza Marixa Fabiane Lopes, dos sete jurados e de seus defensores.

Acusado pelo sequestro de Eliza Samudio e seu filho Bruninho e pela morte da modelo, o goleiro dará sua versão sobre o episódio. Com autorização da juíza, a defesa do goleiro Bruno se reuniu com o réu antes do interrogatório. Na conversa, os advogados devem decidir com Bruno qual será a estratégia ao longo do depoimento. Existe a expectativa de Bruno confessar, ao menos parcialmente, a participação no crime. Ontem, a ré Dayanne Souza, ex-mulher do goleiro, depôs por cerca de 4 horas.

Mudança de postura

Nos dois primeiros dias de julgamento, Bruno comportou-se de maneira diferente do que em outros momentos de exposição por conta do crime, como no júri de novembro passado.

O ex-goleiro do Flamengo abandonou a postura altiva e se manteve cabisbaixo a maior parte do tempo ao longo do júri. Com a Bíblia na mão, o goleiro chorou de maneira contida na segunda-feira e repetiu a dose, com mais intensidade, na sessão de ontem.

A possibilidade de confissão foi admitida tanto pela acusação quando pela defesa. A atual noiva do goleiro, Ingrid Calheiros, afirmou que ele contará “tudo que sabe” sobre o caso.

O advogado Cidney Mendes Karpinski, assistente de acusação da Promotoria, confirmou nesta terça-feira (5) ter havido uma conversa com a defesa do goleiro Bruno Fernandes com relação a uma possível confissão do réu no julgamento sobre o sumiço de Eliza Samudio, ex-amante do jogador desaparecida desde 2010. O júri popular começou na segunda-feira (4).

Negociação para confissão

Karpinski afirmou ter procurado Lúcio Adolfo da Silva e Tiago Lenoir, advogados do ex-atleta, no final da sessão do primeiro dia de julgamento e "aconselhado" a eles que orientassem o cliente a produzir uma confissão.

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"Eu aconselhei e conversei rapidamente com o Lúcio Adolfo e com o Tiago no sentido de que viessem a avaliar essa situação desfavorável ao Bruno. O atenuante [confissão] poderia ser favorável ao Bruno. Essa confissão daria benefícios ao réu", disse o advogado. Questionado sobre a intenção declarada em ajudar o goleiro, já que ele é da acusação, Karpinski afirmou que a busca é pela "justiça".

"Na realidade, o que se busca é a justiça. Se ele confessa, o que é um direito dele, é porque a gente acredita também na reabilitação dele, embora o crime tenha sido brutal", disse o representante do pai de Eliza Samudio. Conforme o advogado, o goleiro não se beneficiaria em nada negando o crime.

"Mas isso vai ficar a critério dele", resumiu o defensor. Perguntado sobre qual teria sido o posicionamento dos advogados do goleiro, Karpinski disse que a proposta não teria sido rechaçada. "Na verdade, eles não chegaram a responder. Eles disseram assim: doutor, traga a proposta e depois nós conversamos", declarou.

Defesa nega

Lúcio Adolfo da Silva confirmou ter mantido a conversação com Karpinski, mas se recusou a revelar o teor do diálogo. Em entrevista à imprensa do lado de fora do fórum, no entanto, o advogado negou a existência de um acordo em curso para uma suposta confissão de Bruno. "Tribunal do júri não é balcão de negócios", disse o defensor do goleiro Bruno.

Mais tarde, em uma rápida conversa com o UOL, Adolfo da Silva disse que o cliente "pode falar o que quiser". Em seguida, ele afirmou que não iria "adiantar nada para ninguém". "Vocês estão querendo saber antes da hora", afirmou Silva.

Sem acordo

Na segunda-feira (4), o promotor Henry Wagner de Castro afirmou que não existir qualquer "possibilidade de acordo" para que o atleta confesse o crime.

"Não existe a menor possibilidade de acordo tal qual não existiu no julgamento de Macarrão e Fernando Gomes de Castro. Ali, não houve acordo. Se Bruno confessar, ele será beneficiado por conta do dispositivo legal de atenuação da pena", afirmou Castro, ao se referir Luiz Henrique Romão, o Macarrão, condenado a 15 anos pelo sequestro na morte de Eliza.

Bruno só não foi julgado com Macarrão porque, no meio do júri, dispensou o advogado Rui Pimenta, com o argumento de que não se sentia seguro com o defensor.

"Não trabalho com a expectativa de confissão. A confissão de Bruno não é imporante para que provemos a culpa. As provas são robustas, constantes e respaldadas."