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Bruno pega 22 anos e 3 meses de prisão por sequestro e morte de Eliza

Carlos Eduardo Cherem, Gabriela Fujita, Guilherme Balza e Rayder Bragon

Do UOL, em Contagem (MG)

08/03/2013 02h10Atualizada em 08/03/2013 11h17

O Tribunal do Júri de Contagem (região metropolitana de Belo Horizonte) condenou, nesta sexta-feira (8), o goleiro Bruno Fernandes, 28, a 22 anos e três meses de prisão, por homicídio triplamente qualificado, sequestro e ocultação do cadáver da modelo Eliza Samudio, mãe de seu filho Bruninho, morta em 10 de junho de 2010. A professora Dayanne Souza, 25, ex-mulher e mãe das duas filhas do goleiro, foi absolvida da acusação do sequestro de Bruninho Samudio. "Estou muito feliz", disse Dayanne, após a absolvição.

Com a condenação, Bruno permanece recluso na penitenciária federal de segurança máxima Nelson Hungria, em Contagem (MG), onde está detido desde julho de 2010. O advogado Lúcio Adolfo da Silva, que defendeu o goleiro, afirmou que vai recorrer da decisão. O goleiro, que já cumpriu dois anos e oito meses de prisão enquanto aguardava o julgamento, poderá ir para o regime semiaberto em cerca de cinco anos (em 2018)

O promotor solicitou aos jurados que absolvessem Dayanne depois que ela pediu para ser reinterrogada na abertura da última sessão. A ex-mulher de Bruno afirmou que foi coagida pelo ex-policial José Laureano Assis, o Zezé --que passou a ser investigado recentemente por suspeitas de que ele participou da morte de Eliza-- para esconder a criança.

A juíza Marixa Fabiane Lopes, do Tribunal do Júri, classificou Bruno, em sua sentença, como um pessoa "fria, violenta e dissimulada". De acordo com a sentença da juíza, o goleiro "demonstra absoluta impiedade".

Crime chocou o país

Bruno foi preso quando vivia o melhor momento na carreira no futebol. O atleta era titular do Flamengo e negociava transferência com o Milan da Itália. Também era cotado para assumir a camisa 1 da seleção brasileira. Os crimes contra Eliza e o bebê tiveram repercussão internacional e chocaram o país a cada fato novo que surgia.

Ao longo do processo, o goleiro nunca havia admitido a morte de Eliza e negava ter participado dos crimes contra ela e o filho. Em interrogatório na quarta-feira (6), o jogador confirmou, pela primeira vez, que a modelo foi morta.

Embora tenha confessado culpa por não ter evitado crime, apontou Luiz Henrique Romão, o Macarrão, seu funcionário e amigo de infância, como mentor do sequestro e homicídio.

O jogador ainda indicou que Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, foi contratado por Macarrão para matar a modelo --pela primeira vez algum dos envolvidos delatou Bola em juízo.

Jogador admite morte

Ontem (7) pela manhã, o goleiro pediu para ser interrogado novamente pois queria explicar de que forma contribuiu para o assassinato de Eliza. Em apenas uma declaração, Bruno afirmou que “sabia” da morte da modelo por conta das brigas que ela tinha com Macarrão.

Desde o início do julgamento, o goleiro adotou postura diversa da que teve no júri de novembro passado, no qual deveria ter sido julgado, mas teve o processo desmembrado porque destituiu seu advogado. O atleta abandonou a postura altiva, esteve a maior parte do tempo cabisbaixo e chorou por diversas vezes.

“Criminoso facínora”

Em sua explanação nessa quinta-feira (7), o promotor Henry Wagner de Castro afirmou que Bruno “estava no comando” do plano traçado para seqüestrar Eliza e o bebê e matar a modelo. Castro qualificou o goleiro como um “criminoso facínora”, chefe do tráfico de drogas em Ribeirão das Neves (MG), cidade pobre onde cresceu, e inescrupuloso no trato com as mulheres.

Segundo a denúncia, o goleiro planejou a morte de Eliza porque não queria pagar pensão alimentícia para o filho. Para cumprir a tarefa, envolveu uma série de amigos, em especial Macarrão, seu braço direito.

Após alguns episódios de ameaças e agressões contra a modelo --que incluem tentativas de fazer ela abortar o feto-- o jogador teria atraído Eliza com o argumento de que queria fazer um teste de DNA e assumir a criança.

Depois de ser agredida e sequestrada por Macarrão e Jorge Luiz Rosa, primo do goleiro, no Rio de Janeiro, em 4 de junho de 2010, Eliza foi levada ao sítio do atleta em Esmeraldas (MG), no dia seguinte.

Além de Macarrão e Jorge, Fernanda Gomes de Castro, então amante do goleiro, acompanhou o grupo na viagem. Antes de chegarem ao sítio, eles pernoitaram em um motel em Contagem (MG).

Eliza ficou no cárcere, dentro do sítio, entre 6 e 10 de junho, até ser levada por Macarrão e Jorge ao encontro de Bola. A modelo foi morta por asfixia e esganadura. Seu corpo foi esquartejado --partes foram jogadas a cães-- e até hoje não foi encontrado.

Depois da morte de Eliza, Bruninho Samudio foi levado para o sitio em Esmeraldas, já que Bola não quis matá-lo, segundo a Promotoria. Quando o caso veio à tona, a criança foi levada por Dayanne ao encontro de Wemerson Marques de Souza, o Coxinha, que entregou o bebê para moradores do bairro Liberdade, em Ribeirão das Neves. Lá, Bruninho passou de casa em casa até ser localizado pela polícia, em 26 de julho de 2010.

Próximos julgamentos

Ainda irão a júri Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, em abril próximo, Wemerson e Elenílson Vítor da Silva, que era administrador do sítio do goleiro, que serão julgados em maio deste ano.

Macarrão e Fernanda foram julgados em novembro passado. O ex-amigo de Bruno, que apontou o goleiro como o mandante dos crimes, foi condenado a 15 anos de prisão –sua pena foi reduzida em oito anos por ele ter confessado o crime. Já Fernanda pegou cinco anos por participação no sequestro de Eliza e do bebê.