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"Tiraram todos os direitos que minha filha tinha", diz mãe de Eliza Samudio

Do UOL, em São Paulo

08/03/2013 09h20

"Tiraram todos os direitos que minha filha tinha. De ser mãe, de viver, da convivência, do carinho e do amor do filho e dela pelo filho". Foi com essas palavras que Sônia de Fátima Moura, mãe de Eliza Samudio, comentou no programa Mais Você, da rede Globo, o desfecho do julgamento do goleiro Bruno, condenado a 22 anos e três meses de prisão pela morte de Eliza

Com Eliza, Bruno teve um filho, Bruninho Samudio, hoje com três anos. Bruninho vive com a avó Sônia.  

Na conversa com a apresentadora Ana Maria Braga, Moura expressou sua insatisfação por não ter sido revelado, segundo ela, o que aconteceu com o corpo de Eliza. "Eu esperava que a Justiça me desse um presente. Vim buscar uma resposta que não me deram. Não sei o que foi feito do corpo de minha filha. Essa resposta era muito importante para mim e principalmente para meu neto". 

Em depoimento à Justiça, Bruno confessou que sabia que Eliza fora morta e que seu corpo teria sido esquartejado e jogado para cachorros comerem

Moura também afirmou que jamais perdoará Bruno e contou que não há qualquer tipo de contato entre o goleiro e o filho. "O filho, para ele [Bruno], não existe". 

Com a condenação, Bruno permanece recluso na penitenciária federal de segurança máxima Nelson Hungria, em Contagem (MG), onde está detido desde julho de 2010.

A juíza Marixa Fabiane Lopes, do Tribunal do Júri, classificou Bruno, em sua sentença, como um pessoa "fria, violenta e dissimulada". De acordo com a senteça da juíza, o goleiro "demonstra absoluta impiedade".

 

Crime chocou o país

Bruno foi preso quando vivia o melhor momento na carreira no futebol. O atleta era titular do Flamengo e negociava transferência com o Milan da Itália. Também era cotado para assumir a camisa 1 da seleção brasileira. Os crimes contra Eliza e o bebê tiveram repercussão internacional e chocaram o país a cada fato novo que surgia.

Ao longo do processo, o goleiro nunca havia admitido a morte de Eliza e negava ter participado dos crimes contra ela e o filho. Em interrogatório na quarta-feira (6), o jogador confirmou, pela primeira vez, que a modelo foi morta.

Embora tenha confessado culpa por não ter evitado crime, apontou Luiz Henrique Romão, o Macarrão, seu funcionário e amigo de infância, como mentor do sequestro e homicídio.

O jogador ainda indicou que Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, foi contratado por Macarrão para matar a modelo --pela primeira vez algum dos envolvidos delatou Bola em juízo.

Jogador admite morte

Ontem (7) pela manhã, o goleiro pediu para ser interrogado novamente pois queria explicar de que forma contribuiu para o assassinato de Eliza. Em apenas uma declaração, Bruno afirmou que "sabia" da morte da modelo por conta das brigas que ela tinha com Macarrão.

Desde o início do julgamento, o goleiro adotou postura diversa da que teve no júri de novembro passado, no qual deveria ter sido julgado, mas teve o processo desmembrado porque destituiu seu advogado. O atleta abandonou a postura altiva, esteve a maior parte do tempo cabisbaixo e chorou por diversas vezes.

"Criminoso facínora"

Em sua explanação nessa quinta-feira (7), o promotor Henry Wagner de Castro afirmou que Bruno "estava no comando" do plano traçado para seqüestrar Eliza e o bebê e matar a modelo. Castro qualificou o goleiro como um "criminoso facínora", chefe do tráfico de drogas em Ribeirão das Neves (MG), cidade pobre onde cresceu, e inescrupuloso no trato com as mulheres.

Segundo a denúncia, o goleiro planejou a morte de Eliza porque não queria pagar pensão alimentícia para o filho. Para cumprir a tarefa, envolveu uma série de amigos, em especial Macarrão, seu braço direito.

Após alguns episódios de ameaças e agressões contra a modelo --que incluem tentativas de fazer ela abortar o feto-- o jogador teria atraído Eliza com o argumento de que queria fazer um teste de DNA e assumir a criança.

Depois de ser agredida e sequestrada por Macarrão e Jorge Luiz Rosa, primo do goleiro, no Rio de Janeiro, em 4 de junho de 2010, Eliza foi levada ao sítio do atleta em Esmeraldas (MG), no dia seguinte.

Além de Macarrão e Jorge, Fernanda Gomes de Castro, então amante do goleiro, acompanhou o grupo na viagem. Antes de chegarem ao sítio, eles pernoitaram em um motel em Contagem (MG).

Eliza ficou no cárcere, dentro do sítio, entre 6 e 10 de junho, até ser levada por Macarrão e Jorge ao encontro de Bola. A modelo foi morta por asfixia e esganadura. Seu corpo foi esquartejado --partes foram jogadas a cães-- e até hoje não foi encontrado.

Depois da morte de Eliza, Bruninho Samudio foi levado para o sitio em Esmeraldas, já que Bola não quis matá-lo, segundo a Promotoria. Quando o caso veio à tona, a criança foi levada por Dayanne ao encontro de Wemerson Marques de Souza, o Coxinha, que entregou o bebê para moradores do bairro Liberdade, em Ribeirão das Neves. Lá, Bruninho passou de casa em casa até ser localizado pela polícia, em 26 de julho de 2010.

Próximos julgamentos

Ainda irão a júri Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, em abril próximo, Wemerson e Elenílson Vítor da Silva, que era administrador do sítio do goleiro, que serão julgados em maio deste ano.

Macarrão e Fernanda foram julgados em novembro passado. O ex-amigo de Bruno, que apontou o goleiro como o mandante dos crimes, foi condenado a 15 anos de prisão –sua pena foi reduzida em oito anos por ele ter confessado o crime. Já Fernanda pegou cinco anos por participação no sequestro de Eliza e do bebê.