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Dois anos após massacre de Realengo, organizações reclamam de abandono em escolas

Alunos no novo pátio do colégio Tasso da Silveira - Hanrrikson de Andrade/UOL
Alunos no novo pátio do colégio Tasso da Silveira Imagem: Hanrrikson de Andrade/UOL

Hanrrikson de Andrade

Do UOL, no Rio

07/04/2013 06h00

Após dois anos do massacre no colégio Tasso da Silveira, em Realengo, na zona oeste do Rio de Janeiro, quando um ex-aluno invadiu a escola disposto a assassinar o maior número possível de estudantes --12 morreram e 12 ficaram feridos--, as condições de segurança nas unidades educacionais da rede pública municipal não melhoraram.

A opinião sobre a situação ruim nas escolas da região é compartilhada por familiares de vítimas, representantes dos professores e consultores de segurança.

"As escolas estão totalmente abandonadas. (...) Depois desse fato que abalou todo o país e o mundo, eu esperava muito mais das autoridades. Nossas crianças foram executadas com tiros na cabeça. Muito se falou, mas nada aconteceu. Minha maior tristeza é ligar a TV e ver que nada mudou", disse Adriana Maria da Silveira, mãe da vítima Luiza Paula da Silveira.

"Não houve uma melhora porque o governo não consegue fazer um trabalho preventivo e educativo. Só policiamento ostensivo não adianta. As escolas continuam sem número suficiente de professores, merendeiros, inspetores e funcionários em geral. (...) A falta concreta de funcionários contribui para que essa situação de insegurança se perpetue", afirmou a diretora-geral do Sepe (Sindicato Estadual de Profissionais de Educação), Gesa Linhares.

Para a Secretaria Municipal de Educação, por outro lado, o tema da segurança escolar passou a ser tratado com mais empenho desde que o ex-aluno Wellington Menezes de Oliveira invadiu o colégio Tasso da Silveira para cometer um crime sem precedentes na história do país.

"Desde o atentado, todas as escolas da rede possuem um porteiro e a exigência de crachá para visitantes e funcionários", afirmou a pasta, em nota. O governo municipal nega que a escola palco do massacre esteja desprotegida.

Pais reclamam de falhas de segurança no Tasso da Silveira

Adriana, que criou a organização não governamental Os Anjos de Realengo para cobrar questões como a presença de agentes da Guarda Municipal nos colégios da rede pública, afirmou que se encontrará com o prefeito Eduardo Paes, em breve, para entregar uma carta de reivindicações.

Relembre em vídeo o caso do "massacre de Realengo"

"Essa luta é por mudanças no geral, mas principalmente na área da segurança. Não estamos mandando nossos filhos para campos de batalha. Só queremos o direito de levá-los com vida e buscá-los com vida", afirmou.

No próprio colégio Tasso da Silveira, disse Adriana, "ainda há falhas de segurança". Segundo ela, há guardas municipais "vez ou outra" nas proximidades da unidade educacional. Além disso, embora reconheça que houve reforço em relação ao número de inspetores, a presidente da ONG Os Anjos de Realengo afirma que há uma "sensação de fragilidade".

"De vez em quando, eles [guardas municipais] aparecem. Os inspetores que eles colocaram lá deveriam pessoas mais qualificadas. A maioria é de senhoras de idade, mulheres, pessoas que não teriam capacidade de tomar uma providência imediata em casos de violência entre alunos, como já houve", declarou.

Secretaria diz que colégio era único que contava com câmera de vigilância

De acordo com a assessoria Secretaria Municipal de Educação, ironicamente, o colégio Tasso da Silveira era, na ocasião da tragédia, a única a ter porteiro e câmera de vigilância --a rede municipal possui mais de mil escolas. Atualmente, após reforma que custou cerca de R$ 9 milhões, a escola de Realengo foi adequada ao modelo "escola padrão".  A sala de aula onde ocorreu a tragédia, por exemplo, e teve as paredes demolidas e virou área de passagem para um prédio anexo.

Além disso, o governo municipal afirmou investir na assistência psicológica e pedagógica aos alunos do Tasso da Silveira a fim de minimizar os impactos produzidos pela morte dos colegas. A secretaria mantém uma equipe do Niap (Núcleo Interdisciplinar de Apoio às Escolas) desde o início do processo de recuperação do ambiente escolar.

No âmbito estadual, após a chacina, a Seeduc (Secretaria Estadual de Educação) afirmou que "todas as unidades escolares contam com a atuação de vigias, que controlam os acessos de entrada, identificando as pessoas que desejam transitar no imenso espaço escolar". Há, de acordo com o governo, rondas periódicas no entorno das escolas feitas por policiais militares dos respectivos batalhões locais.

PMs armados dentro das escolas

Em maio de 2012, o governo do Estado assinou um termo de cooperação para que policiais de folga atuem no reforço da segurança das escolas da rede estadual. Segundo o coronel da PM Odair Lopes Júnior, 423 policiais militares que não estão de serviço iniciaram, ainda no ano passado, o patrulhamento na parte externa de 90 unidades educacionais.

Segundo a assessoria da Seseg (Secretaria de Estado de Segurança Pública do Rio de Janeiro), os resultados obtidos até o momento são positivos. Os números ainda não foram divulgados.

Os PMs podem atuar no interior das escolas desde que ocorra uma solicitação dos diretores ou em casos de alta periculosidade, a exemplo da tragédia em Realengo, quando 12 estudantes foram assassinados pelo ex-aluno do colégio Tasso da Silveira Wellington Menezes de Oliveira.

"A segurança será feita prioritariamente na parte externa. Quando as escolas estiverem fechadas ou se os diretores assim solicitarem, também poderemos atuar dentro dos colégios. Sempre com o intuito de garantir a segurança de todos e evitar a depredação do patrimônio", afirmou Júnior durante a assinatura do acordo.

Desde então, a medida vem sendo duramente criticada pelo Sindicato Estadual de Profissionais de Educação. Para a diretora-geral Gesa Linhares, o problema é complexo, mas "armar policiais e colocá-los no ambiente escolar não ajuda a torná-lo mais seguro".

"No entendimento dos professores, não basta reprimir um possível ato de violência de uma forma também violenta. Isso caracteriza uma postura autoritária", disse.

O consultor em segurança escolar Carlos Alberto Reis afirmou que a presença de PMs nas escolas é uma "medida drástica", porém necessária em alguns casos. "É uma forma de se respeitar na hora em que a coisa está firme. É claro que a abordagem não pode ser a mesma. Ninguém vai se defender com uma arma quando do outro lado está uma pessoa armada com um palito de dente. Mas cada situação é uma situação. Dependendo do caso, é uma medida por vezes necessária", explicou.

Homenagens

Neste domingo (7), dia no qual o massacre de Realengo completa dois anos, os familiares e amigos das vítimas participaram de uma missa em homenagem aos estudantes mortos. 

Após a missa, os membros da ONG Os Anjos de Realengo fariam um ato em frente ao colégio Tasso da Silveira. Os muros da unidade receberão desenhos de grafiteiros. Durante a manifestação, crianças de até 12 anos poderão trocar armas de brinquedo por outros itens, tais como jogos e bolas de futebol.

Na sequência, haverá uma carreata pelas ruas de Realengo em favor do desarmamento e, por fim, a exibição do documentário "Os Armados", na Igreja Presbiteriana em Piraquara, localizada em frente à escola Tasso da Silveira.