Para especialistas, acusado de matar Eliza será condenado
O julgamento do ex-policial Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, começa nesta segunda-feira (22) com consenso entre especialistas sobre a sua condenação pela morte de Eliza Samudio em razão dos resultados de julgamentos anteriores do caso em que os jurados consideraram culpados figuras centrais da trama. Bola é acusado de ser o executor da ex-amante do goleiro Bruno Fernandes, condenado a 22 anos de prisão, em março deste ano, no Fórum Doutor Pedro Aleixo, em Contagem, cidade da região metropolitana de Belo Horizonte, mesmo local onde Bola será julgado. Ele irá responder pelos crimes de homicídio duplamente qualificado e ocultação de cadáver.
Veja como foi o julgamento do goleiro Bruno
Para Francisco Santiago, um dos promotores mais experientes de Minas Gerais, com pelo menos 1.000 júris populares no currículo, a questão a ser considerada no julgamento será uma possível atenuante da pena em caso de confissão do réu. Apesar de não ser o representante do Ministério Público no caso, Santiago acompanhou os dois julgamentos anteriores.
“Não tem como prever outro resultado que não seja a condenação. A prova já está fechada e já temos condenações de quem teria mandado [matar Eliza], de quem teria levado essa menina até o Marcos [Aparecido dos Santos]. A confissão parcial do goleiro Bruno sobre a participação do Bola na trama não deixa margem para outra interpretação. A condenação é tranquila”, disse o promotor, referindo-se ao fato de o goleiro ter afirmado, durante seu julgamento, que Macarrão teria contratado Bola para matar Eliza.
“A expectativa agora é saber se ele vai confessar alguma coisa para tentar uma atenuante da pena. Se ele confessar, acho que a pena fica entre 13 a 15 anos de prisão. Se ele não confessar, acho que a pena dele será semelhante ao que foi dada ao goleiro”, afirmou.
Especialista em direito penal, o advogado André Myssior também tem discurso parecido com o do promotor.
“Já houve duas condenações, além de outros corréus, mas principalmente dos principais acusados, o Macarrão e o goleiro Bruno. Além disso, no seu julgamento, o Bruno implicou o Bola na morte da Eliza. Isso vai ter um impacto muito grande no julgamento do Bola”, disse o especialista.
Segundo ele, Henry Castro, o promotor que representa o Ministério Público no caso, não deixará de explorar essa declaração do goleiro. “Na acusação que o Ministério Público irá produzir, isso muito provavelmente irá impactar na decisão dos jurados”, afirmou.
Defesa
Para o advogado Fernando Magalhães, um dos defensores do ex-policial, a declaração de Bruno não incrimina o cliente e disse que não a encara como tendo sido uma confissão.
“Ele fez isso tão somente para tentar uma redução da pena”, disse, para complementar: “Bruno não revelou nada. Ele disse que soube pelo Macarrão. Este, por sua vez, não cita o nome do Marcos Aparecido. Ele [Marcos Aparecido] é absolutamente inocente”, afirmou.
Magalhães afirmou que uma das linhas a ser seguidas pela defesa será tentar descontruir o inquérito policial.
“Ele [ínquérito] foi direcionado, mal conduzido e mal-intencionado, tanto é que se abriu uma nova investigação para apurar quem são as pessoas que foram citadas nas ligações telefônicas e que até então não haviam sido mencionadas pela autoridade policial”, disse o advogado, referindo-se a uma investigação complementar que está sendo feita pela Polícia Civil a pedido do Ministério Público.
Ela é conduzida de maneira sigilosa, mas apura a suposta participação de outros dois ex-policiais na morte da ex-modelo.
Magalhães não quis comentar as declarações do promotor e do especialista na área penal.
“Vai ser um trabalho muito árduo, mas temos confiança na inocência de Marcos Aparecido”, afirmou.
O advogado disse ter se encontrado recentemente com o cliente, que teria demonstrado “ansiedade” pela proximidade do início do seu julgamento.
“Ele está ansioso, mas tem plena confiança que será inocentado e quer que a Justiça seja feita no seu caso”, afirmou.
Bola também é acusado de ter participado da morte de outros dois homens. Ele e ex-integrantes de um grupo de elite já extinto da Polícia Civil mineira são apontados como os autores do duplo homicídio, ocorrido em 2008, na cidade de Esmeraldas, localizada na região metropolitana de Belo Horizonte. O processo está na Justiça da cidade mineira e ainda não foi julgado.
Em outro processo, já no Fórum Lafayette, em Belo Horizonte, o ex-policial é acusado da morte de um homem, em Venda Nova, na capital mineira.
O crime ocorreu em 2009 e ele teria sido reconhecido por testemunhas depois de sua exposição na mídia por causa do caso Eliza Samudio. Uma audiência do processo está marcada para o dia 23 de outubro deste ano. A defesa nega o envolvimento dele nos dois casos.
Acusação
De acordo com as investigações da Polícia Civil mineira e a acusação do Ministério Público (MP), Eliza Samudio foi morta pelo ex-policial Marcos Aparecido dos Santos por estrangulamento no dia 10 de junho de 2010.
O crime teria ocorrido na casa do ex-policial, situada na cidade de Vespasiano, na região metropolitana de Belo Horizonte. Segundo a polícia, a moça foi sequestrada na cidade do Rio de Janeiro e, após passar alguns dias no sítio do goleiro, situado na cidade de Esmeraldas (MG), teria sido levada para lá por Luiz Henrique Ferreira Romão e por um primo do goleiro Bruno que à época era menor de idade.
O rapaz foi uma das principais testemunhas do caso e cumpriu medida socioeducativa em Minas Gerais após condenação da Vara da Infância e Juventude de Contagem (MG). Até hoje o corpo de Eliza Samudio não foi encontrado.
Atualmente, Bola está confinado na penitenciária Professor Jason Soares Albergaria, na cidade de São Joaquim de Bicas, região metropolitana de Belo Horizonte.
Já outros dois réus, Elenilson Vitor da Silva e Wemerson Marques de Souza, acusados de sequestrar e manter em cárcere privado o filho de Eliza Samudio, serão julgados em 15 de maio deste ano, também no Fórum de Contagem (MG). Atualmente, eles respondem ao processo em liberdade.
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