Carro alegórico que matou quatro no Carnaval de Santos (SP) era maior que o permitido, diz laudo
O carro alegórico que tocou fios de alta tensão e pegou fogo no Carnaval deste ano, em Santos (72 km de São Paulo), deixando quatro mortos, tinha altura acima da permitida após deixar a área de dispersão do desfile oficial das escolas de samba. A conclusão está no laudo do Núcleo de Perícias Criminalísticas no município para apurar as causas do acidente, ocorrido em 12 de fevereiro.
O documento foi apresentado nessa quarta-feira (24) pelo diretor da Polícia Civil na Baixada Santista e no Vale do Ribeira, Aldo Galiano Júnior, em audiência na comissão permanente de Fiscalização, Combate às Drogas e Segurança Pública da Câmara de Santos. A conclusão do inquérito –trabalho que definirá responsabilidades pelo fato e embasará uma ação judicial– ainda deve levar 30 dias.
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“A altura máxima [do carro alegórico] seria [de] cinco metros. Eles [os manobristas] tentaram passar com o veículo com os 9,5 metros [de altura] que ele tinha. Esse é um ponto decisivo na confecção do laudo”, disse o delegado. Denominado “Rei da Bola”, o carro era da escola de samba Sangue Jovem, e, nele, se homenageava Edson Arantes do Nascimento, o Pelé.
O laudo também confirmou, segundo Galiano, que, por pesar 3.900 quilos, o carro era conduzido por menos pessoas do que o recomendável –quatro, em vez de pelo menos cinco– e tinha “condições precárias”. “A pessoa [que o dirigia], além de não ter visão, não tinha o domínio da direção do veículo e se precisasse de freio, também não tinha.”
A situação havia sido descrita ao UOL, no dia seguinte ao acidente, pelo delegado-assistente do 5º DP (Distrito Policial) de Santos, João Octávio de Mello, que acompanhou a realização da perícia. “Se [o carro] pega impulso, não tem como frear. E o condutor não tem visão [do lado de fora]: só fica ouvindo instruções.” Não havia, entretanto, outros defeitos mecânicos.
O documento também afasta a hipótese de que o declive da avenida Nossa Senhora de Fátima, por onde trafegaram os carros alegóricos das escolas ao deixar a dispersão da passarela Dráusio da Cruz, tenha contribuído para a tragédia. Segundo Galiano, “se fossem cumpridas as determinações, as cautelas e as normas na confecção do carro alegórico, não teria acontecido o acidente”.
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O caso
O acidente aconteceu por volta da 1h15 de 12 de fevereiro. Os manobristas perderam o controle do carro alegórico, que encostou na rede elétrica. Três homens que estavam no carro e uma jovem que estava sentada em uma cadeira de praia na calçada diante de sua casa, na direção do poste de energia, foram fulminados por uma descarga elétrica de 13.800 volts. Outras sete pessoas ficaram feridas. Depois da colisão, o desfile foi cancelado, e o grupo especial do Carnaval não teve vencedor.
Em 14 de fevereiro, quando prestaram depoimentos no 5º DP de Santos, o secretário municipal de Cultura, Raul Christiano, e representantes da Sangue Jovem divergiram. Christiano alegou que a responsabilidade pelas manobras dos carros cabia às agremiações que participaram do desfile. Contudo, representantes da escola disseram não haver fiscais da prefeitura para orientar as manobras –o que foi negado pelo secretário.
Explicações e mudanças
O secretário de Cultura de Santos, Raul Christiano, explicou que o regulamento do desfile deste ano não exigia que os carros fossem desfeitos logo após a área de dispersão: somente em uma área de desmonte, situada “a metros” do local do acidente. Mas, com o acidente, haverá mudança nas regras para 2014.
“O Artigo 18 do regulamento do Carnaval estabelece que, no deslocamento entre os barracões [das escolas de samba] e a área da concentração, os carros tenham cinco metros de altura por seis de largura. E, quando cada carro termina de desfilar, vai para a área de desmonte. Nesse trajeto, nenhuma linha de energia cruza a avenida, e outros carros do mesmo tamanho passaram por ali [sem incidentes]”, disse o secretário.
Christiano adiantou que, para o próximo desfile, as escolas de samba terão de apresentar ART (anotação de responsabilidade técnica) assinado por um engenheiro ou arquiteto para cada carro alegórico. “Isso só é feito no Rio de Janeiro. Se houver diferença entre o projeto e o carro [na avenida, verificada antes do desfile], alguém responderá por ela”.
Procurada pelo UOL nesta quinta-feira (25), a advogada da escola de samba, Agra Tavoloni, ainda não se manifestou..
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