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Mulher que acusa pastor de estupro diz que teme por sua família

Trecho de depoimento de suposta vítima de abuso sexual por parte do pastor Marcos Pereira, da Assembleia de Deus dos Últimos Dias - Julia Affonso/UOL
Trecho de depoimento de suposta vítima de abuso sexual por parte do pastor Marcos Pereira, da Assembleia de Deus dos Últimos Dias Imagem: Julia Affonso/UOL

Julia Affonso

Do UOL, no Rio

08/05/2013 17h59

Uma das mulheres que acusa de estupro o pastor Marcos Pereira, preso na noite de terça-feira (7), afirmou temer pela segurança de sua família após ter realizado a denúncia. A mulher, que tem medo de se expor, pede que não sejam feitas fotos dela. "Saímos de lá [da igreja], mas não deixamos de acreditar em Deus. Não sou só eu, não sou sozinha. A gente tem filhos, família e fica com medo”, disse à reportagem do UOL. “A gente é uma formiguinha na frente de um batalhão."

"Tem coisas que é muito complicado falar, mas eu resolvi denunciar para que isso sirva de alerta e outras mulheres não sofram com isso", explica, sob o olhar atento da filha mais velha. 

Segundo o depoimento da mulher, ela morou em um abrigo da Assembleia de Deus dos Últimos Dias e, lá, foi obrigada a fazer um "Conserto Espiritual", que consistia em contar ao Pastor detalhes de sua vida pessoal, como dizer se era virgem e se já havia namorado.

Ela contou à polícia detalhes dos abusos que sofreu durante dois anos, sempre dentro da igreja. Segundo ela, o pastor a procurava sempre que ela estava brigada com o marido. Além disso, ela falou também, em depoimento, sobre uma suposta lavagem de dinheiro que o pastor faria na Assembleia.

"Que o pastor Marcos recebia o dinheiro dos traficantes, nos valores entre R$ 15 mil e R$ 20 mil e entregava CDs e DVDs no intuito de se resguardar na lavagem de dinheiro; que o pastor dizia aos membros da sua congregação que estava vendendo os CDs para evangelização e não pegando o dinheiro com o tráfico", explica no depoimento.

A mulher e a família deixaram a igreja há quatro anos e, segundo depoimento dela, tiveram que passar por "tratamento psicológico constante para tentar uma vida normal".

Ele é suspeito de abusar sexualmente de seis fiéis da igreja que comanda, a Assembleia de Deus dos Últimos Dias. Uma das vítimas já foi casada com o pastor e teria sido abusada enquanto ainda era mulher do suspeito.

Em depoimento à polícia, uma das mulheres contou que foi estuprada por Marcos Pereira dos 14 aos 22 anos. Na delegacia para onde foi levado, o suspeito não quis dar entrevista. Ele se limitou a dizer que não tinha detalhes sobre a acusação feita contra ele.

Os mandados foram decretados pelos juízes Richard Fairclough, da 1ª Vara Criminal de São João de Meriti, e Ana Helena Mota Lima, da 2ª Vara Criminal da mesma comarca, na última quinta-feira (02).

Segundo o delegado Márcio Mendonça, da DCOD (Delegacia de Combate às Drogas), as investigações começaram há pouco mais de um ano, a partir de acusações que o coordenador da ONG AfroReggae, José Júnior, fez sobre o suposto envolvimento de Marcos Pereira com tráfico de drogas e lavagem de dinheiro. Ao longo das investigações, a polícia descobriu que o pastor teria estuprado seis fiéis, entre elas três menores de idade.

Possessão

O delegado afirmou ainda que o pastor fazia orgias com homens, mulheres e menores dentro de uma igreja em São João de Meriti, na Baixada Fluminense. O pastor alegaria que as pessoas estavam possuídas por demônios e precisavam ter relações sexuais com ele, que era uma pessoa santa.

Segundo o delegado, Pereira visitou o traficante Marcinho VP, apontado pela polícia como um dos principais líderes da facção criminosa Comando Vermelho, por duas vezes, nos presídios federais de Catanduvas (PR) e Mossoró (RN).

Habeas corpus

O advogado do pastor Marcos Pereira afirmou que deve pedir ainda nesta quarta-feira (8) um habeas-corpus pela soltura de seu cliente. Segundo Marcelo Patrício, o pastor está "tranquilo" e "sereno" na prisão, porque se considera inocente.

"É uma covardia o que está sendo feito com o pastor. É tudo mentira. Isso é invenção de pessoas que não gostam dele", disse Patrício. "Duas pessoas foram forçadas a fazerem isso [acusá-lo]. Uma menor fez um exame no IML [Instituto Médico Legal], que comprovou que ela é virgem. Ele é uma pessoa muito boa, nunca ameaçou ninguém."