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Vídeo mostra PMs agredindo e prendendo jornalista em protesto contra tarifa de transporte em SP

Fabiana Maranhão

Do UOL, em São Paulo

12/06/2013 18h14Atualizada em 13/06/2013 10h29

Um vídeo divulgado nas redes sociais mostra um jornalista do site Portal Aprendiz, parceiro do UOL, sendo agredido e preso por policiais militares durante o protesto contra o aumento do preço das passagens de ônibus, metrô e trem em São Paulo, nesta terça-feira (11).

Um cinegrafista amador flagrou o momento em que policiais começam a bater no repórter. A jovem Johanna Jaumont assistiu às imagens e não tem dúvidas que se trata do seu namorado, Pedro Ribeiro Nogueira, 27.

Ela lembra que estava junto com ele e outras duas amigas na região da avenida Paulista, área central da capital, quando viram policiais militares jogando bombas de efeito moral.

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"Corremos com medo. Quando entramos na rua São Carlos do Pinhal, nos deparamos com mais policiais. Uma das minha amigas começou a passar mal e paramos para socorrê-la. Foi quando os policiais foram pra cima dele", conta.

De acordo com a namorada do jornalista, sete PMs agrediram o jovem. "Bateram muito nele. Ele está com ferimentos no rosto, nas costas", fala.

O jornalista foi detido e levado para o 78º DP (Jardins), onde foi autuado em flagrante por formação de quadrilha, por provocar incêndio e por dano contra o patrimônio. Ele não teve direito a pagar fiança. Na manhã desta quarta-feira (12), ele foi transferido para o 2º DP (Bom Retiro).

"Isso é um absurdo. Ele estava exercendo a função dele [como jornalista] e tentava nos proteger para que não levássemos cacetada. É injusto", desabafa a jovem.

Por meio de nota, a SSP (Secretaria de Segurança Pública) informou que o delegado que indiciou o jornalista considerou que ele teve participação nos "atos de vandalismo". 
 
"A convicção jurídica do delegado se baseia em depoimentos de policiais que avistaram o rapaz danificando uma viatura e uma guarita policial", diz a nota. A SSP esclareceu que cabe agora à Justiça decidir se ele deve ou não ser colocado em liberdade.
 

Portal Aprendiz repudia prisão

O Portal Aprendiz condenou nesta quarta-feira a prisão de seu repórter Pedro Ribeiro Nogueira durante os protestos na área central de São Paulo.

Em nota, a Associação Cidade Escola Aprendiz, responsável pelo site, explica que o jornalista fazia a cobertura do acontecimento para o portal quando foi agredido e detido. "O que vimos foi uma ação policial baseada na truculência e na violência, o que constituiu um abuso contra as liberdades democráticas e um ataque violento à liberdade de imprensa", diz o comunicado.

Protestos contra o aumento da tarifa do transporte coletivo
Protestos contra o aumento da tarifa do transporte coletivo
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Ainda segundo a nota, a associação lamenta "que, ainda nos dias de hoje, alguns jornalistas sejam calados forçosamente, vítimas de uma censura que parece ter sido herdada do tempos da Ditadura Militar. É o país inteiro que perde com isso".

Jornalistas presos durante protesto

Das cerca de 20 pessoas que foram detidas durante os protestos, três são jornalistas. O repórter da Folha Leandro Machado foi detido quando cobria a manifestação na avenida Paulista.
 
O fotógrafo do UOL Leandro Moraes também foi preso. Eles foram levados para o 78º DP (Jardins) em um carro da PM e liberados após uma hora. O repórter Fernando Mellis, do portal R7, foi agredido por policiais durante o protesto.
 
Onze detidos foram transferidos na manhã de hoje do 78º DP para o Centro de Detenção Provisória da Capital, na unidade Chácara Belém II.
 
A Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) condenou a agressão e as prisões. "A associação considera preocupante que esta ação contrária ao trabalho da imprensa parta do Estado, e justamente da PM, mandada à rua para manter a ordem e garantir direitos", afirmou em nota.
 

Rastro de destruição

A manifestação desta terça-feira foi a terceira e mais violenta realizada em menos de uma semana contra o reajuste das passagens em São Paulo.
 
De acordo com a PM, cerca de 5.000 pessoas participaram do protesto, que deixou um rastro de destruição pelas ruas da área central da capital. Os manifestantes picharam muros, depredaram agências bancárias e uma estação de metrô e danificaram 85 ônibus.
 

 

Protestos pelo Brasil

O transporte coletivo e suas tarifas vêm sendo alvos de protestos, manifestações e ações judiciais em várias capitais brasileiras desde o início de 2013. Em Fortaleza, as passagens foram reajustadas de R$ 2 para R$ 2,20, depois reduzidas de R$ 2,20 para R$ 2 e, em seguida, voltaram a custar R$ 2,20.

 

Em Natalestudantes foram às ruas protestar depois que a prefeitura anunciou aumento de R$ 2,20 para R$ 2,40, em maio. Um mês depois, uma portaria reduziu o valor da tarifa para R$ 2,30.

 

A Prefeitura do Rio de Janeiro anunciou no início do mês de junho o reajuste no valor das passagens de ônibus, que subiram de R$ 2,75 para R$ 2,95. O aumento provocou reação. Nesta segunda-feira (10), manifestantes foram às ruas protestar contra o reajuste, e 31 foram presos.

 

Em São Paulo não foi diferente. No último dia 2 de junho, as tarifas de ônibus e metrô subiram para R$ 3,20. No dia seguinte, manifestantes foram às ruas protestar contra o aumento. Cinco dias depois, atos de vandalismo foram registrados durante manifestação na região central da cidade.

 

Em Goiânia, a tarifa foi reajustada de R$ 2,70 para R$ 3. Houve protestos. Uma liminar determinou que o valor voltasse a R$ 2,70, mas não foi cumprida. E Florianópolis enfrentou dois dias de greve do transporte coletivo, com paralisação de 100% dos ônibus. Cerca de 400 mil pessoas ficaram sem ônibus. As tarifas na capital catarinense são de R$ 2,90. (Com Estadão Conteúdo)

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