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24h depois, moradores de epicentro do confronto em SP ainda se dizem espantados com ação da PM

Janaina Garcia

Do UOL, em São Paulo

14/06/2013 21h54

Vinte e quatro horas depois, o clima de medo e espanto ainda dava a tônica, nesta sexta-feira (14), às declarações de moradores e comerciantes da região das ruas da Consolação e Maria Antonia, região central de São Paulo. Foi no cruzamento das duas vias que policiais militares da Tropa de Choque enfrentaram manifestantes contra o reajuste da tarifa do transporte coletivo como forma de impedi-los do acesso à avenida Paulista.

Cenas do protesto em SP

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Vídeo gravado durante os protestos em São Paulo mostra um policial quebrando, com socos, um dos vidros do próprio carro da polícia. Assista

As balas de borracha que restaram da ação policial foram retiradas do local até o final da manhã, mas as marcas das bombas ainda eram nítidas no asfalto.

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Morador de um prédio vizinho à confusão, o estudante Felipe Vilela Ramalho, 20, disse ter visto “uma cena de guerra” pelos fundos do apartamento. “Foi assustador, ainda mais quando a fumaça das bombas da PM começou a subir ao meu apartamento”, disse.

Também estudante, Vítor Alarcon, 21, relatou que estava em um bar quando o confronto teve início. Segundo ele, os policiais passaram pedindo que os clientes do lado de fora entrassem. “A gente só ouvia deles ‘entra todo mundo pro bar senão o pau vai comer!’ A gente entrou, mas não cabia todo mundo. Nisso, contei 18 carros do Choque descendo a Maria Antonia [rumo à Consolação]. Foi o dia mais protegido aqui na região”, concluiu.

Também moradora na Maria Antonia, a estudante Catherine Riveli, 21, relatou que “ficou o medo após tudo o que vi da minha janela”.

“Vi um jovem que andava pela calçada ser revistado e agredido por policiais, vi armas sendo apontadas para quem simplesmente passava por aqui e achei que as bombas fossem cair aqui dentro”, definiu. “Estou com medo, não sei como será se houver outras manifestações aqui e a PM agir dessa maneira. Estou chocada”.

Em um posto de combustíveis na esquina do confronto, já na Consolação, o frentista José Lopes Ferreira Junior, 55, foi enfático: “Foi o pior dia da minha vida, achei que o posto fosse se incendiar com as bombas caindo aqui perto. Estou apreensivo com a possibilidade de ocorrer de novo”, declarou.

Segundo o funcionário, “os manifestantes jogaram pedras” na PM e alguns deles teria pego mesas e cadeiras da loja de conveniência da parte externa do posto para usar no confronto. “Mas usaram como escudo, pelo que eu vi”, ressalvou.

Já na saída do local, a reportagem foi abordada por uma idosa que fez questão de mostrar a marca no rosto –da bala de borracha da noite anterior, do lado esquerdo da face. Professora aposentada, Maria Bernardete de Carvalho, 67, foi um dos casos mais divulgados desde ontem como exemplo de que a PM atirara a esmo. Ela voltava, pelo caminho dos manifestantes, de uma missa na igreja de São Francisco, no Largo São Francisco –bem próximo ao Theatro Municipal, na Praça Ramos de Azevedo, de onde a passeata saíra pouco após as 18h.

“Minha indignação é porque eu estava sozinha na rua Guimarães Rosa, logo após o confronto na Maria Antonia, e fui atingida mesmo assim. Ainda tive que correr machucada até a Augusta, onde moro, e fui salva por um entregador de gelo que me viu machucada e cedeu uns pedaços para eu colocar no ferimento. Depois disso, ainda tive a bolsa revistada por três policiais”, contou. “A polícia vai continuar querendo resolver tudo já á base da repressão imediata?”, questionou.

Um PM para cada cinco manifestantes

No quarto protesto contra o reajuste da tarifa de ônibus, realizado na noite de quinta-feira na capital paulista, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), destacou pelo menos um policial militar para cada cinco manifestantes, em sua maioria jovens. O efetivo da PM foi de quase 1,2 mil homens para conter as cerca de 5 mil pessoas que participaram da manifestação, segundo balanço divulgado nesta sexta-feira (14) pelo governo estadual.

Só da Tropa de Choque, elite policial, foram pelo menos 500 homens para as ruas da região central da capital paulista. A PM reforçará ainda mais seu efetivo nos protestos previstos para a próxima semana e a Tropa de Choque será usada novamente.

O secretário de Segurança Pública de São Paulo, Fernando Grella, disse nesta sexta-feira que a mudança no trajeto do protesto contra o aumento da tarifa do transporte em São Paulo, na noite de ontem, gerou o confronto entre policiais e manifestantes. Grella negou que tenha havido erro na estratégia da polícia, que foi respaldada pela Tropa de Choque, e disse que o governo vai apurar as denúncias de abusos cometidos pela PM. (* Com Valor)
 

Protestos contra o aumento da tarifa do transporte coletivo
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