Topo

Jovem detido em protesto no Rio diz que ficou preso com membros de facção em Bangu

Manifestante segura placa da rua da Assembleia, durante os protestos nos arredores da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro - Christophe Simon/AFP
Manifestante segura placa da rua da Assembleia, durante os protestos nos arredores da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro Imagem: Christophe Simon/AFP

Carolina Farias

Do UOL, no Rio

20/06/2013 15h51

O Instituto de Defensores dos Direitos Humanos, com apoio da Comissão de Direitos Humanos da Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro), vai tentar reverter o indiciamento por formação de quadrilha de cinco jovens detidos na manifestação de segunda-feira, além de tentar evitar que o estudante Jorge Luís Chaves de Jesus, 18, responda por porte de artefato explosivo. Jesus ficou preso até quarta (19) e passou por duas penitenciárias, em Bangu, onde diz ter ficado com presos de uma facção criminosa, e em Japeri, onde dividiu uma cela com 120 pessoas.

Seus defensores argumentam que o rapaz teve seu flagrante forjado pela PM na manifestação da última quinta-feira (13), quando policiais disseram que ele portava uma mochila com materiais explosivos. Todos vão entrar com ação por danos morais caso consigam reverter o indiciamento.

O estudante conta que estava na manifestação que seguiu pela Presidente Vargas e que, quando a tropa de choque começou a atirar bombas de gás lacrimogêneo, ele e um amigo correram para dentro da estação Cidade Nova do metrô. Ele disse que não usava mochila e que quando entrou na estação viu uma mochila caída no chão.

"Perguntaram de quem era a mochila, e eu disse que não era minha. Aí o policial jogou spray na minha cara e disse 'agora é sua'. Aí eu vi um policial colocando uma granada em cima da mochila”, disse o estudante. “Forjaram pra mim."

O jovem ficou quatro dias no complexo penitenciário de Bangu e dois na unidade de Japeri. Sua família não pode lhe levar roupas ou comida. Na primeira unidade, ele dormiu sobre um pedaço de pano e na segunda foi "acolhido" por um conhecido que estava preso. "Ele me deu pasta de dente, dormi com ele em cima de um pedaço de concreto", afirmou.

Segundo o deputado Marcelo Freixo (PSOL), presidente da comissão, imagens de manifestantes mostram o rapaz sem a mochila e também um policial com a mochila nas mãos, aparentemente procurando um dono. "Prisões não podem ser feitas assim, sem critério. Não podemos ter esse modelo de Estado. A comissão vai atuar em todos os casos e dar atendimento", disse o parlamentar.

O advogado João Tancredo, do instituto, diz que vai tentar uma medida para impedir que esses processos continuem. "A polícia age mal, o Estado age mal, aí vêm as indenizações, que nós é que pagamos", disse o defensor.

Choro e revolta

Os cinco jovens presos pagaram fiança e foram soltos depois de passarem 13 horas presos em uma cela de três metros quadrados com mais três pessoas. Eles relataram que foram detidos pela tropa de choque depois que o entorno da Alerj estava tomado por policiais e dizem que as pessoas que atacaram os prédios correram quando a tropa chegou.

Os jovens dizem não ter fugido porque não tinham participado das depredações. No ônibus onde ficaram detidos até irem para a 5ª DP, os PMs teriam jogado gás pimenta e os ameaçado de algemá-los deitados no chão.

Pedro Rodrigues, 18, estudante de geografia da Uerj, disse que sempre participou de manifestações e foi preso quando ia embora. Ele chorou muito ao lembrar do movimento pela diminuição da tarifa, que começou no ano passado.

"Até meu caso ser arquivado, eu não posso participar de manifestação. Fui à Aldeia Maracanã, em várias outras. Estudo na Uerj [Universidade do Estado do Rio de Janeiro], onde tem assalto e estupro e não tem policiamento”, disse o estudante.

Os cinco presos relataram que precisaram da ajuda de advogados para conseguirem beber água dentro da cela e que só conseguiram falar com seus parentes na manhã do dia seguinte. "É um misto de indignação, revolta, mas esperança que tudo vai melhorar. Mas, se isso aconteceu com a gente, imagina com os menos favorecidos", disse Derick de Aguiar Santana, 23.

Freixo disse que vai pedir uma reunião com o secretário de Segurança Publica, José Mariano Beltrame, para lhe entregar um relatório sobre as prisões e pedir explicações sobre a ação da polícia.