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Estado foi atacado e reagiu, diz secretário de Segurança do Rio sobre operação do Bope

Casa de morador na favela Nova Holanda, no complexo da Maré, no Rio de Janeiro, onde o Bope fez operação da noite de segunda (24) até a tarde de terça - Elisângela Leite/UOL
Casa de morador na favela Nova Holanda, no complexo da Maré, no Rio de Janeiro, onde o Bope fez operação da noite de segunda (24) até a tarde de terça Imagem: Elisângela Leite/UOL

Do UOL, no Rio

26/06/2013 10h09Atualizada em 26/06/2013 11h19

O secretário de Segurança do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame, afirmou na manhã desta quarta-feira (26), em entrevista à rádio “CBN”, que a operação do Bope (Batalhão de Operações Especiais) no complexo da Maré entre a noite da segunda (24) e a tarde de terça-feira (25) foi a volta a um “velho cenário” e que o conflito aconteceu porque "o Estado foi atacado e reagiu". Pelo menos nove pessoas morreram e outras 14 ficaram feridas.

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“O que tivemos foi o desdobramento de outra ocorrência, e aí se voltou àquele velho cenário, que é ruim pra todo mundo”, disse Beltrame. “Nós ainda temos locais que, quando a polícia vai, acontece esse cenário. Infelizmente na Maré encontramos uma situação específica de conflito, onde o Estado foi atacado e reagiu.”

O secretário ainda afirmou que houve mortes em ambos os lados. Entre as vítimas fatais, havia um sargento do Bope e, de acordo com informações da PM, seis suspeitos de tráfico. Os outros dois mortos eram moradores da favela. “A dor dessas pessoas deve ser muito grande, assim como a da família do sargento”, disse. “A guerra não é boa para nenhuma das partes. Isso não é mais uma prática da Polícia Militar, isso não acontece de maneira recorrente como acontecia algum tempo atrás. Em alguns pontos do Rio ainda há a lógica da guerra, mas essa não é mais a lógica da polícia”

Beltrame também falou que o alto número de mortos na operação já é um indicativo de que pode ter havido excessos. "Se tivermos que punir [algum policial, ele] vai ser punido, não tenha dúvida disso", disse. "Estamos captando informações e apurando se houve excessos por parte de policiais e quem matou o sargento."

Operação

Cerca de 300 policiais do Bope, com apoio do 22º Batalhão de Polícia Militar (Maré) e de policiais civis, ocuparam a Maré em uma operação para prender os suspeitos de matar um policial do Bope na noite de segunda. A operação começou após um arrastão ocorrido em Bonsucesso durante uma manifestação. Policiais do Bope e da Força Nacional de Segurança foram para a região. O sargento que morreu na operação tinha 17 anos de serviço, sendo 13 deles no Bope, e deixa mulher e dois filhos.

Os moradores das favelas reclamaram de truculência policial e chegaram a protestar no local para  que a operação tivesse fim. "Eles estão pensando que morador é bandido. Matando morador, invadindo casa de morador a torto e a direito. Eles são covardes", afirmou Edilaine Silva, 25, que mora na favela Nova Holanda.

A diretora da ONG Redes da Maré, Eliana Sousa Silva, afirma que moradores foram à instituição, que atua na mobilização de moradores quanto ao tema da segurança pública, para denunciar a violência policial desde o início da operação. "Eles estão matando as pessoas e colocando dentro de um saco", disse. "Estão gritando dentro da comunidade que vão matar todo mundo."

A aposentada Clemilda Lopes de Lima, 63, afirma que teve a casa revirada e móveis destruídos pela polícia. "Arrombaram minha casa, reviraram tudo. Isso é uma pouca vergonha. Tem que entrar com autorização", disse. "Eles têm que respeitar o morador." O major Ivan Blaz, do Bope negou as acusações dos moradores. "Nada disso procede", afirmou.

Segundo balanço divulgado pela Polícia Militar, um suspeito de ter matado o PM identificado como Edvan Ezequiel Bezerri, conhecido como Ninho, foi preso juntamente com outros dois homens e três menores foram apreendidos com uma pistola 380. Foram apreendidos ainda dois fuzis, uma submetralhadora, três pistolas, uma granada e mais de 2.000 trouxinhas de maconha.

As ocorrências foram registradas na 21ª DP (Bonsucesso) e na 37ª DP (Ilha do Governador).

UPP

Beltrame também afirmou que o planejamento de instalação de uma UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) na Maré continua na pauta, e que a operação de ontem não muda nada. "O planejamento está pronto, a [UPP da] Maré está muito próxima. Nós temos que agir com o critério que sempre agimos, com a logística que sempre agimos. E vamos fazer como está planejado", afirmou. "Vamos continuar na execução daquilo que está planejado e prometido."

Sobre o possível estremecimento na relação entre a PM e os moradores das favelas, Beltrame disse que já há um trabalho de aproximação sendo realizado por equipes da Secretaria de Segurança. "Nós já temos contato com as pessoas da Maré, o próprio Bope já tem contato, tudo no sentido de ir conversando para ver o momento de fazer a ocupação nesse sentido."