Estudante tenta beijar PM em cordão de isolamento de protesto no centro do Rio
A estudante Patrícia de Almeida Vasconcellos, 22, tentou beijar um dos policiais militares que formaram um ostensivo cordão de isolamento na frente do prédio da Fetranspor (Federação das Empresas de Transporte), alvo do sétimo ato contra a tarifa do transporte coletivo no Rio de Janeiro, nesta quinta-feira (27), no centro da capital fluminense.
Destemida, a jovem arrancou sorrisos do policial, que ficou visivelmente constrangido. Ao UOL, Patrícia afirmou ter tomado essa atitude para mostrar que os policiais militares fazem parte do "povo explorado".
Sabatina Folha/UOL
Movimento Passe Livre desconfia que polícia infiltre agentes para incitar violência em protestos
"De alguma forma, temos que trazer a polícia para o nosso lado. Eles também são do povo. Um povo explorado e perseguido”, disse ela, que é aluna da Escola de Belas Artes da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). “A luta também é deles."
A estudante afirmou que estava presente em todas as passeatas anteriores e que chegou ser vítima da "ação violenta" da Polícia Militar na última quinta-feira (20), quando houve confronto na região da Lapa, no centro. Na ocasião, dezenas de jovens ficaram presos nos bares que se estendem pela avenida Mem de Sá.
"Eu vi a polícia perseguindo geral. Eles foram até a Lapa depois que a passeata acabou, jogaram bombas de gás com as pessoas presas dentro dos bares", disse. "É por isso que lutamos também pela questão da desmilitarização."
Protesto
Mais de 5.000 pessoas protestaram contra a tarifa do transporte coletivo na capital fluminense e a militarização da polícia, entre outras causas, no centro do Rio nesta quinta. Segundo a Polícia Militar, o número pode ter chegado a 8.000. Os manifestantes foram até o prédio da Fetranspor (Federação das Empresas de Transporte de Passageiros do Estado do Rio), na rua da Assembleia, no centro, onde havia um forte esquema de policiamento, e pediram que haja passe livre na cidade. A Fetranspor fica em um prédio quase em frente à Alerj (Assembleia Legislativa do Rio). De lá, a passeata foi até a Cinelândia, onde começou a dispersão.
Passe Livre foi criado por membros do PT há 13 anos
Marco zero das manifestações que tomaram o país, os recentes protestos do Movimento Passe Livre em São Paulo são fruto de uma experiência iniciada há 13 anos.
Começou com trotskistas do PT que, desiludidos com a política partidária e influenciados pelos movimentos antiglobalização, passaram a agir de forma autônoma
Cerca de 500 homens do Batalhão de Choque da Polícia Militar e outros 900 PMs foram deslocados para as ruas do centro. Os policiais "cercaram" a passeata, com um pelotão na frente, puxando o ato, PMs nas laterais da avenida Rio Branco em fila indiana, e um grupo com escudos ao fim da manifestação.
Diferentemente das últimas passeatas no Rio, não houve repressão dos manifestantes em relação aos militantes de partidos políticos, sindicatos e outros movimentos ligados ao governo ou à oposição. Havia bandeiras do PSOL, Sintuff (Sindicato dos Trabalhadores em Educação da Universidade Federal Fluminense), MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), LBI (Liga Bolchevique Internacionalista), entre outros.
Um pelotão de policiais com escudos e cassetetes se posicionou na calçada da Igreja da Candelária, onde a passeata começou. Os PMs distribuíram panfletos pedindo paz aos manifestantes. Os batalhões do Centro e de São Cristóvão vão dar apoio ao patrulhamento, com ajuda de blindados, helicópteros e motos. Já o Bope (Batalhão de Operações Especiais) ficou apenas de prontidão no quartel.
Qual deve ser o principal tema dos próximos protestos no Brasil?
Na concentração do grupo de manifestantes na Candelária, em meio aos tradicionais ambulantes que vendem cerveja, pipoca e amendoim, apareceram também vendedores de bandeiras do Brasil e máscaras de Guy Fawkes, rosto que foi popularizado pelo filme "V de Vingança", de 2006, mas que representa um soldado inglês envolvido na Conspiração da Pólvora, levante católico do começo do século 17 cujo objetivo era explodir o parlamento da Inglaterra.
Cerca de 20 índios, alguns retirados da Aldeia Maracanã em março deste ano, estiveram na manifestação para dar apoio e relembrar a própria causa. "A nossa pauta é a de sempre: a volta para a Aldeia Maracanã. Nosso processo de reintegração ainda corre na Justiça e temos esperança de voltar. Viemos fazer uma pressão para que esse caso se resolva", contou o índio Kaiah, da etnia Waiwai.
Outra vertente que fez barulho na manifestação de hoje foi o grupo SOS Bombeiros, levantando a sua bandeira pela PEC 300, lei que, se aprovada, criaria um piso nacional salarial para os profissionais de segurança pública. O subtenente Macedo, bombeiro de 47 anos, explicou que o projeto da lei "está engavetado no Congresso há muito tempo, enquanto poderia estar resolvendo a vida de muitos bombeiros e policiais militares do Brasil".
Na avenida Rio Branco, por onde a passeata seguiu até a chegada ao prédio da Fetranspor, todas as agências bancárias utilizam tapumes para evitar depredações. Lojas e estabelecimentos comerciais encerraram o expediente mais cedo. Devido à manifestação, na estação Carioca do Metrô, apenas os acessos avenida Rio Branco e Convento estão abertos. Na Cinelândia apenas o acesso Odeon está liberado.
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