Radicalizar é difícil, diz idosa de grupo de aposentados acampado em prédio de fundo de pensão no Rio
Um grupo de 13 aposentados, com média de 75 anos de idade, ocupa desde a última quinta-feira (27) uma sala de 12m² no Instituto Aerus, sede do fundo de pensão dos aeroviários, no centro do Rio de Janeiro. “Somos pessoas de idade, radicalizar é difícil, mas estamos firmes. Não vamos sair daqui a ter uma posição sobre a nossa aposentadoria e os benefícios”, afirmou a ex-presidente do Sindicato Nacional dos Aeronautas, Graziella Baggio, 71, que trabalhava como comissária de bordo.
Os aposentados levaram colchões e alimentos para passarem os dias no prédio
Os aposentados e pensionistas da antiga Varig e Transbrasil decidiram ficar no local até que o STF (Supremo Tribunal Federal) tome uma decisão sobre o processo em que o governo foi condenado pelo plenário do Supremo, em 2010, a assumir o pagamento integral das aposentadorias de 10 mil ex-funcionários das empresas.
Nos últimos cinco dias dentro do Aerus, os 13 idosos permaneceram dentro do instituto. Às 19h, quando o escritório fecha, eles conseguem descansar no sofá da recepção. De acordo com o diretor do Sindicato Nacional dos Aeronautas, Marcelo Bona, 61, a chegada ao instituto foi feita de forma surpreendente.
"Já fizemos muitas manifestações, resolvemos radicalizar. Viemos em grupos, trouxemos colchões, comida e nos instalamos aqui. Decidimos na própria quinta-feira, pela manhã, e viemos durante a tarde", explica ele.
A antiga comissária Graziella contou que durante o fim de semana o prédio foi trancado, como ocorre toda semana, e o grupo não pôde sair do local. "Ficamos sem luz durante 45 minutos. O ar condicionado parou de funcionar e ficou muito quente. Queríamos fazer um revezamento, para ir em casa descansar, mas não foi possível", conta ela. "Estamos vendo se conseguimos um médico para vir examinar todo mundo, conferir a pressão."
Reivindicações
Segundo o comandante aposentado Zorocastro Ferreira Lima Filho, 82, o fundo de pensão vem reduzindo os pagamentos desde 2006. Do montante total que ganhava, atualmente ele recebe 8%.
"Houve primeiramente uma diminuição para 70% e depois para 50%. Nos últimos três anos, estamos recebendo apenas 8% do valor total das aposentadorias. A nossa média de idade é de 75 anos, precisamos de remédios, planos de saúde”, conta. “É uma humilhação trabalhar tanto tempo e terminar assim."
O interventor José Pereira Filho, nomeado pelo governo para trabalhar no Aerus, informou que o responsável por resolver a situação é o STF. "Não posso falar muito sobre o caso. Eu me sensibilizo com a causa, mas o Supremo é quem pode resolver isso", diz ele.
Graziella Baggio diz que as aposentadorias recebidas pelo fundo de pensão, atualmente, variam entre R$ 200 e R$ 1.000. "O fundo era financiado por um tripé: empresa, funcionários e 3% dos valores das passagens. As empresas não repassaram ao instituto a parte delas e a nossa. O governo era o responsável por fiscalizar esse repasse do dinheiro para o fundo de pensão e não viu que isso não estava acontecendo?", explica. "O Aerus não tem mais dinheiro para a aposentadoria destes 10 mil ex-funcionários, e o último pagamento sai em agosto, referente a julho. Depois não tem mais dinheiro."
Em 2010, os aeronautas ganharam uma ação civil pública dos sindicatos contra a União, na qual o governo foi considerado responsável pela falta de fiscalização do Aerus, e obrigado a assumir o pagamento integral das pensões e aposentadorias.
"Os sindicatos já conquistaram o ganho da causa em primeira instância, mas a antecipação de tutela concedida não foi cumprida pela União, e um recurso conseguiu adiar esse pagamento", afirma Graziella.
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