Topo

Em discurso bilíngue, papa faz metáforas com futebol: 'Jesus nos oferece algo maior do que a Copa'

Carolina Farias, Hanrrikson de Andrade e Maurício Stycer

Do UOL, no Rio

27/07/2013 20h59Atualizada em 27/07/2013 22h23

Em discurso na noite deste sábado (27) durante Vigília de Oração na praia de Copacabana, zona sul do Rio de Janeiro, o papa Francisco fez metáforas com o futebol ao incentivar os jovens a se apegarem a Jesus Cristo e ajudarem a reconstruir a Igreja Católica. Parte do pronunciamento, com tom bastante coloquial, foi feita em português e outra parte em castelhano.

Os discursos do papa na Jornada

  • Papa Francisco critica discussão sobre liberação das drogas

  • Papa chama dinheiro, poder, sucesso e prazer de ídolos passageiros

  • Francisco apela a jovens para que lutem contra injustiça e 'nunca desanimem' diante da corrupção

Em discurso durante vigília, papa pede 'resposta cristã' a protestos; veja a íntegra

"Acho que a maioria de vocês ama os esportes. E aqui no Brasil, como em outros países, o futebol é uma paixão nacional. Ora bem, o que faz um jogador quando é convocado para jogar em um time? Deve treinar, e muito! Também é assim na nossa vida de discípulos do senhor. Jesus nos oferece algo muito superior que a Copa do Mundo! Oferece-nos a possibilidade de uma vida fecunda e feliz e nos oferece também um futuro com ele que não terá fim: a vida eterna", declarou.

No mesmo discurso, o líder máximo da Igreja afirmou que a transferência dos eventos do Campus Fidei, montado em Guaratiba, no extremo oeste da cidade, para Copacabana por conta da chuva que atingiu o Rio nos últimos dias pode ser um recado de Deus.

"Bom, penso que nós podemos aprender alguma coisa do que aconteceu esses dias: como nós tivemos que cancelar, por causa do tempo, a realização dessa vigília no Campus Fidei (Campo da Fé), Guaratiba. Não estaria o Senhor querendo nos dizer que o verdadeiro Campo da Fé não é um lugar geográfico, mas sim nós mesmos? Sim, cada um de nós, cada um de vocês e ser discípulo missionário significa saber reconhecer que somos o campo da fé de Deus", afirmou.

No final do pronunciamento, voltou a falar dos protestos protagonizados pela juventude. "Eu acompanho as notícias nos jornais e vejo que muitos jovens saíram em várias regiões do mundo pedindo mudança. Os jovens nas ruas, vocês têm de ser protagonistas, vocês têm de superar a apatia e oferecer uma resposta cristã para as inquietações sociais. Que se envolvam em um trabalho pelo mundo melhor. Não sejam covardes, se metam, saiam às ruas, como fez Jesus."

E encerrou resumindo o teor do discurso. "Queridos amigos, vocês são o campo da fé, os atletas de cristo,os construtores de uma Igreja mais bonita."

Segundo a organização a Jornada Mundial da Juventude, três milhões de pessoas acompanham a vigília. A estimativa não tem nenhum fundamento científico, como afirmam os próprios organizadores, e baseia-se em uma projeção feita pelo prefeito Eduardo Paes, que, por sua vez, também não adotou nenhum método científico ou informação oficial para chegar ao número.

A Polícia Militar disse que não irá calcular o público por conta de "contratempos" ocorridos em eventos anteriores, quando os números apresentados pela PM foram questionados.

Vigília

O pontífice chegou por volta de 18h35 à Copacabana para participar da vigília junto com os jovens que integraram ao longo do dia uma caminhada de 9,5 km da Central do Brasil, no centro da capital, até a praia. 

Ele aterrissou no Forte de Copacabana e seguiu de papamóvel até o posto 2 da praia, onde está montada a estrutura para a vigília. No trajeto, ganhou objetos de fiéis, vestiu um chapéu mexicano e desceu do carro para abençoar um cadeirante.

A vigília começou às 19h, com a encenação da reconstrução de uma igreja, simbolizando a atuação de Francisco de Assis, conhecido como o reconstrutor de igrejas. Em seguida, o ator Tony Ramos fez a abertura da vigília, sendo sucedido por um ex-dependente químico, por um padre, por um cadeirante e por uma jovem, que deram depoimentos pessoais.

Em meio às falas, houve show da cantora inglesa Judy Bailey e do sertanejo Luan Santana. O pontífice começou a discursar por volta de 20h35.

Almoço e discurso a políticos

Mais cedo, Francisco almoçou com cardeais e bispos no Palácio João Paulo 2º, na Glória (zona sul). O encontro inicialmente seria realizado no centro de estudos do Sumaré, na zona norte da capital, mas a agenda foi alterada na última hora. O motivo da mudança não foi divulgado pela organização.

Pela manhã, o pontífice celebrou missa na Catedral Metropolitana de São Sebastião, no centro da capital, e participou de encontro com autoridades, diplomatas, políticos e artistas no Theatro Municipal. Em discurso direcionado a autoridades, o papa propôs o "diálogo" como solução para protesto violento e indiferença egoísta.

"Entre a indiferença egoísta e o protesto violento, há uma opção sempre possível: o diálogo", relatou o pontífice, que afirmou que um país cresce, quando dialogam de modo construtivo as suas diversas riquezas culturais. "Quando os líderes dos diferentes setores me pedem um conselho, a minha resposta é sempre a mesma: diálogo, diálogo, diálogo."

Igreja nas favelas

Durante a missa celebrada na Catedral Metropolitana de São Sebastião para mais de mil bispos, sacerdotes, religiosos e seminaristas,o papa Francisco lembrou de madre Teresa de Calcutá e chamou os líderes da Igreja Católica a irem até as periferias, onde as pessoas "têm sede de Deus".

"Que [Deus] nos empurre a sair ao encontro de tanto irmãos e irmãs que estão na periferia, que têm sede de Deus. Que não nos deixe em casa, mas que nos empurre a sair de casa. E assim sejamos discípulos do senhor", afirmou Francisco.

Francisco chegou a citar uma frase de madre Teresa de Calcutá: "Devemos estar muito orgulhos de nossa vocação, que nos dá a oportunidade de levar cristo aos pobres, às favelas, às vidas miseráveis". Francisco falou sobre a vocação religiosa e ressaltou que os sacerdotes têm que estar "muito orgulhosos" das suas, por elas lhes darem "a oportunidade de servir a Cristo nos pobres". "É nas favelas, nas povoações pobres, nas vilas onde é preciso ir buscar e servir a Cristo. Devemos ir a eles como o sacerdote se aproxima do altar: com alegria", declarou.

"Jesus nos oferece algo maior do que a Copa", diz Francisco