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Papa propõe diálogo como solução para "protesto violento" e "indiferença egoísta"

Carolina Farias

Do UOL, no Rio de Janeiro

27/07/2013 11h49

Em discurso direcionado a autoridades, diplomatas, políticos e artistas, realizado na manhã deste sábado (27), no Theatro Municipal, na área central do Rio de Janeiro, o papa Francisco propôs o "diálogo" como solução para protesto violento e indiferença egoísta.

"Entre a indiferença egoísta e o protesto violento, há uma opção sempre possível: o diálogo", relatou o pontífice, que afirmou que um país cresce, quando dialogam de modo construtivo as suas diversas riquezas culturais. "Quando os líderes dos diferentes setores me pedem um conselho, a minha resposta é sempre a mesma: diálogo, diálogo, diálogo."

Papa usa cocar de índio durante encontro com autoridades

É a primeira vez que o pontífice se manifesta sobre a violência dos protestos populares que acontecem no Brasil. Ontem, manifestantes pediam por um "estado laico" durante ato contra gastos com a vinda do papa Francisco e a JMJ (Jornada Mundial da Juventude), nos arredores do palco montado em Copacabana para receber o sumo pontífice. A polícia acompanhou o ato, mas sem entrar em confronto, diferente do dia anterior. Em São Paulo, paulistas protestaram em apoio aos cariocas e o ato terminou com cinco agências do Itaú, uma do Bradesco e uma do Santander destruídas, a depredação de semáforo, relógios SOS e canteiros centrais.

Segundo Francisco, o diálogo é a única maneira para uma pessoa, uma família, uma sociedade crescer. "É a única maneira para fazer avançar a vida dos povos é a cultura do encontro; uma cultura segundo a qual todos têm algo de bom para dar, e todos podem receber em troca algo de bom. O outro tem sempre algo para nos dar, desde que saibamos nos aproximar dele com uma atitude aberta e disponível, sem preconceitos."

No início do discurso, o pontífice, em um tom sério, disse que todos aqueles que possuem um papel de responsabilidade em uma nação são chamados a enfrentar o futuro "com os olhos calmos de quem sabe ver a verdade", ao fazer referência ao pensador brasileiro Alceu Amoroso Lima. E citou três aspectos deste olhar, que classificou de calmo, sereno e sábio: "primeiro, a originalidade de uma tradição cultural; segundo, a responsabilidade solidária para construir o futuro; e terceiro, o diálogo construtivo para encarar o presente."

Papa também defende Estado laico

Diante de autoridades, o papa Francisco também defendeu a existência do Estado laico. "Será fundamental a contribuição das grandes tradições religiosas, que desempenham um papel fecundo de fermento da vida social e de animação da democracia", disse ele ao se refererir ao papel das Igrejas no desempenho social.

"Favorável à pacífica convivência entre religiões diversas é a laicidade do Estado que, sem assumir como própria qualquer posição confessional, respeita e valoriza a presença do fator religioso na sociedade, favorecendo as suas expressões concretas".

Igreja nas favelas

Durante a missa celebrada na Catedral Metropolitana de São Sebastião para mais de mil bispos, sacerdotes, religiosos e seminaristas,o papa Francisco lembrou de madre Teresa de Calcutá e chamou os líderes da Igreja Católica a irem até as periferias, onde as pessoas "têm sede de Deus".

"Que [Deus] nos empurre a sair ao encontro de tanto irmãos e irmãs que estão na periferia, que têm sede de Deus. Que não nos deixe em casa, mas que nos empurre a sair de casa. E assim sejamos discípulos do senhor", afirmou Francisco.

Francisco chegou a citar uma frase de madre Teresa de Calcutá: "Devemos estar muito orgulhos de nossa vocação, que nos dá a oportunidade de levar cristo aos pobres, às favelas, às vidas miseráveis". Francisco falou sobre a vocação religiosa e ressaltou que os sacerdotes têm que estar "muito orgulhosos" das suas, por elas lhes darem "a oportunidade de servir a Cristo nos pobres".

"É nas favelas, nas povoações pobres, nas vilas onde é preciso ir buscar e servir a Cristo. Devemos ir a eles como o sacerdote se aproxima do altar: com alegria", declarou.

Segundo o pontífice, as relações humanas são regidas "por dois "dogmas" modernos: eficiência e pragmatismo". Por isso, "há lugar para os idosos, não há tempo para gastar com os pobres na rua".

"Não podemos ficar encerrados na paróquia, nas nossas comunidades, quando há tanta gente esperando o evangelho! Não se trata simplesmente de abrir a porta para acolher, mas de sair pela porta fora para procurar e encontrar. Decididamente, pensemos a pastoral a partir da periferia, daqueles que estão mais afastados, daqueles que habitualmente não frequentam a paróquia", disse o líder da Igreja Católica. "Também eles são convidados para a Mesa do Senhor."

Agenda

O papa chegou às 8h50 para celebrar a missa na Catedral. Às 11h30, Francisco terá um encontro com autoridades e a sociedade, no Theatro Municipal, na Cinelândia, no centro da cidade. Está previsto um discurso do papa no local.

Pela noite, o papa estará presente na Vigília de Oração junto com os jovens que participaram ao longo do dia de uma caminhada de 9,5 km (da Central do Brasil, no centro, até a praia de Copacabana, na zona sul). O evento seria realizado em Guaratiba, mas por conta das fortes chuvas, foi transferido de local.

A vigília é o quarto ato central da Jornada Mundial da Juventude e o momento em que o papa fará a adoração ao Santíssimo Sacramento com os jovens presentes.