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Desaparecimento de pedreiro na Rocinha não pode desmoralizar UPP, diz Cabral

Vitor Abdala

Da Agência Brasil, no Rio

31/07/2013 14h53

O governador Sérgio Cabral disse nesta quarta-feira (31) que o desaparecimento do pedreiro Amarildo Souza, na comunidade da Rocinha, zona sul da cidade, não pode ser usado para desmoralizar o projeto da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora). A Rocinha está ocupada por uma UPP desde setembro do ano passado.

CÂMERAS NÃO FUNCIONARAM

  • Alessandro Buzas/Futura Press

    A ONG Rio de Paz colocou manequins na praia de Copacabana, na zona sul, em protesto contra o desaparecimento de Amarildo

  • As câmeras da UPP da Rocinha pararam de funcionar no mesmo dia em que Amarildo foi levado para lá por policiais "para averiguação". O relatório da empresa Emive mostra que, das 80 câmeras instaladas na favela, apenas as 2 da sede da UPP apresentaram problemas. MAIS

“A Unidade de Polícia Pacificadora é perfeita? Claro que não. Se some o Amarildo [na Rocinha], vamos descobrir onde está o Amarildo. Se o Afroreggae é ameaçado [no Complexo do Alemão, outra comunidade com UPP], vamos reabrir o Afroreggae e proteger o Afroreggae", afirmou o governador.

Sérgio Cabral afirmou que o projeto das UPPs não é apenas do governo, mas sim da sociedade. "A todos nós interessa aperfeiçoar este projeto, melhorar este projeto, trazer mais cultura, mais investimento social”, disse o governador durante a solenidade de reabertura da sede da ONG Afroreggae na comunidade do Alemão.

O ajudante de pedreiro Amarildo Souza, morador da Rocinha, desapareceu no dia 14 deste mês, após ter sido levado para averiguação por policiais militares da UPP.

Na versão da família, o pedreiro foi abordado pelos PMs da porta de casa e, depois, os policiais disseram que ele foi liberado porque tinha sido confundido com alguém. "Ninguém sabe por que ele foi levado. Ele estava na porta de casa", afirmou a mulher da suposta vítima, Elizabete Gomes da Silva. Amarildo tinha acabado de chegar de uma pescaria.

Elizabete disse ainda ter certeza de que não voltará a ver o marido com vida. "Não acredito que ele está com vida mais. Já procuramos em tudo o que é lugar e não tivemos resposta de nada. Tenho certeza de que meu marido está morto", declarou.

"PIOR DIA DA VIDA"

Segundo a sobrinha de Amarildo, Michele Lacerda, a família teve o "pior dia da vida" na noite desta terça-feira (30), com a notícia de que o corpo encontrado por policiais militares em um valão na comunidade não era de Amarildo, mas, sim, de uma mulher

DNA

Os filhos do pedreiro estiveram nesta quarta na Acadepol (Academia de Polícia Civil), no centro da cidade, a fim de fazer coleta de material genético para exame de DNA.

O resultado do exame será confrontado com as manchas de sangue encontradas em um carro da Polícia Militar. Segundo informações da Polícia Civil, a análise deve ser concluída em um prazo de 30 dias. O caso está sendo investigado pela DH (Divisão de Homicídios).

Peritos do ICCE (Instituto de Criminalística Carlos Éboli) encontraram sangue no porta-malas e no banco de trás de um dos veículos da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora da Rocinha).

Família rejeita oferta de proteção

A família de Amarildo de Souza declarou à imprensa ter rejeitado a oferta do governo do Estado, feita na última quarta-feira (24), de inclusão no programa de proteção à testemunha. Caso tivessem aceitado o convite da Secretaria Estadual de Direitos Humanos, os parentes do pedreiro teriam que sair da favela da Rocinha.

O rosto de Amarildo se tornou imagem constante nas manifestações contra o governo do Estado. Em face da repercussão do desaparecimento do pedreiro, ativistas criaram uma campanha chamada "Cadê o Amarildo?", que gerou protestos até mesmo durante a visita do papa à capital fluminense.