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Ataques ao AfroReggae fazem Cufa encerrar atividades no Complexo do Alemão

Julia Affonso

Do UOL, no Rio

19/08/2013 12h17

A Cufa (Central Única de Favelas), organização não governamental fundada pelo rapper MV Bill, suspendeu nesta segunda-feira (19) as atividades de esporte e educação que eram realizadas no Complexo do Alemão, na zona norte do Rio de Janeiro. A decisão foi tomada em solidariedade ao AfroReggae, que vem sofrendo ameaças nas favelas da Grota e da Vila Cruzeiro, ambas no Alemão.

Cerca de 400 crianças que faziam aulas de artesanato, dança, capoeira, grafite e utilizavam uma sala de leitura serão afetadas com a suspensão dos projetos sociais. De acordo com a Cufa, os professores não serão demitidos e poderão ser realocados para as sedes da Cufa em Madureira, zona norte, ou na Cidade de Deus, na zona oeste.

O primeiro ataque contra a sede do AfroReggae no Alemão ocorreu no dia 16 de julho, quando criminosos incendiaram o local. No dia 30 do mesmo mês, o imóvel foi atingido por pelo menos oito tiros de fuzil. Para a Polícia Civil, o atentado foi ordenado por lideranças da facção criminosa Comando Vermelho em função de denúncias feitas pelo coordenador da ONG, José Júnior.

Em nota, a Cufa informou que vai retomar as operações no Alemão, "quando as restrições impostas ao AfroReggae forem retiradas ou a entidade tiver certeza de que ações no Complexo não vão pôr em risco suas atividades e participantes". O coordenador da Cufa, Celso Athayde, não quis comentar a decisão.

"Após nove anos de atividades, a Central Única de Favelas informa que suspenderá todas as suas atividades no Complexo do Alemão. (...) As operações serão retomadas quando as restrições impostas ao grupo forem retiradas  ou quando  nossa instituição estiver segura e convicta de que nenhuma ação de quem quer que seja poderá levar medo ou risco as suas atividades ou seus membros", informa a nota. "Para tanto  dedicaremos  todo nosso tempo para colaborar com o  desfecho positivo do processo."

O caso AfroReggae

Ataques contra Afroreggae foram articulados dentro da prisão

O titular da Dcod (Delegacia de Combate às Drogas), Márcio Mendonça Dubugras, afirmou na segunda-feira (12) que os atentados contra a sede do grupo AfroReggae foram ordenados por lideranças do tráfico de drogas por conta da prisão do pastor Marcos Pereira da Silva, desafeto do coordenador da ONG, José Júnior.

Em entrevista à "TV Globo", Dubugras afirmou que a polícia já investigava tal possibilidade, e a gravação de uma conversa --exibida pelo "Fantástico", no dia 11 de julho-- entre os traficantes Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, e Márcio dos Santos Nepomuceno, o Marcinho VP, "corroborou a suspeita". Beira-Mar e VP são acusados de liderar a facção Comando Vermelho.

No dia 5 de agosto, agentes da 22ª DP (Penha) haviam prendido Eduardo Martins Dias, 32, o "Dudu", um dos suspeitos de ter participado do ataque a tiros a sede do grupo AfroReggae.

Segundo a polícia, Dias foi detido em flagrante portando um quilo de maconha. Na ficha criminal de Dudu há anotações por tráfico de drogas, de acordo com o delegado da 22ª DP, Reginaldo Guilherme da Silva.