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Cinco denúncias de violência contra o idoso são registradas a cada hora no Brasil

Fabiana Maranhão

Do UOL, em São Paulo

01/10/2013 06h00

Na data em que se comemora o Dia Mundial do Idoso, nesta terça-feira (1º), parte da população brasileira com mais de 60 anos tem de enfrentar uma triste realidade: a violência. Cinco denúncias de violência contra idosos são registradas a cada hora no Brasil. É o que revelam dados obtidos pelo UOL junto à SDH (Secretaria de Direitos Humanos) da Presidência da República.

De janeiro a junho deste ano, o Disque 100 recebeu 22.754 denúncias de violência praticada contra a pessoa idosa em todo o país. Foram em média 125 queixas por dia, cinco por hora. O serviço de atendimento telefônico gratuito registra os mais diversos tipos de queixas de violação aos direitos humanos e funciona 24 horas por dia, de segunda-feira a domingo.

Segundo a SDH, pouco mais de 70% dos suspeitos denunciados têm parentesco direto com a vítima. São irmãos, netos, primos, mulheres ou maridos. Mas a assustadora maioria é composta pelos próprios filhos. Em mais de 50% dos casos, são eles os suspeitos das agressões. E, em mais de 70% das denúncias, o ataque acontece na própria casa do idoso.

Quase duas de cada três vítimas (64,74%) são mulheres. Mais de 47% possuem algum tipo de deficiência física. Já o perfil do suspeito é bastante equilibrado: 43% são mulheres e 41%, homens. Ainda segundo a secretaria, a maioria dos suspeitos de agressão (36,21%) têm entre 25 e 45 anos.

Os tipos de violência denunciados com mais frequência são de negligência (75,07%), psicológica (56,06%) e de abuso financeiro e econômico (45,48%). Denúncias de violência física somam 28,03%. A secretaria esclarece que uma mesma denúncia pode englobar mais de um tipo de violência.  

RN, DF e RJ têm maiores índices de denúncia

Os Estados do Rio Grande do Norte, Distrito Federal e Rio de Janeiro apresentaram no primeiro semestre de 2013 os maiores índices de denúncias de violência contra a população idosa feitas ao Disque 100, segundo a SDH.

O Rio Grande do Norte registrou a proporção de 25 queixas para cada 100 mil habitantes; o Distrito Federal, 24,7; e o Rio de Janeiro, 21,9. Roraima foi o Estado que teve menos notificações: 3,1 para cada grupo de 100 mil pessoas.

Já em números absolutos, São Paulo foi o Estado que mais teve registro de denúncias: entre janeiro e junho deste ano, foram 3.784, o que representa 16,63% do total. Em segundo lugar, ficou o Rio de Janeiro, com 3.509 queixas, equivalendo a 15,42% das denúncias. Em terceiro, aparece Minas Gerais, com 1.882, ou 8,27% do total.

Aumento de denúncias

O Disque 100 existe desde 1997, mas só em 2011 passou a receber denúncias de violência contra a população idosa. Antes disso, o foco do serviço telefônico era para queixas ligadas à violência sexual contra crianças e adolescentes.

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Só nos primeiros seis meses de 2013, o canal de denúncia registrou quase o número anotado ao longo de todo o ano de 2012. Neste ano, foram 22.754 queixas contra 23.523 no ano passado. Segundo a Secretaria de Direitos Humanos, entre 2011 e 2012, houve um aumento de 65% na quantidade de denúncias de violência contra o idoso.

A coordenadora dos direitos do idoso da SDH, Neusa Pivatto Müller, não acredita que esse crescimento signifique que mais idosos têm sido vítimas de algum tipo de violência. “Em maio de 2012, iniciamos uma campanha junto aos conselhos, às comunidades e à imprensa no sentido de divulgar o serviço. O resultado foi muito positivo. Acredito que a sociedade está puxando para si a responsabilidade pelo cuidado em relação aos idosos”, afirma.

Após a ligação para o Disque 100, a queixa é encaminhada para a polícia, o Ministério Público, o Creas (Centro de Referência Especializado de Assistência Social) e o Conselho do Idoso.

“O serviço é importante porque pode mediar o processo, já que muita gente não quer ir a uma delegacia para fazer a queixa”, explica Neusa Pivatto.

Mais casos

Apesar do aumento das denúncias de violência contra a população idosa, acredita-se que o número efetivo de casos deva ser bem maior por causa da subnotificação.

A coordenadora Neusa Pivatto fala que o fato de a maioria das vítimas ser mulher se torna um agravante do problema. “Mesmo sendo vítimas, muitas vezes tendo os próprios filhos como agressores, elas se sentem culpadas, porque se consideram responsáveis pela criação dos filhos. Isso deixa a idosa fragilizada, deprimida, desgostosa da vida. Então ela acaba não denunciando”, diz.

Ela acrescenta que o fato de muitos dos idosos viverem e dependerem financeiramente dos filhos faz com que eles temam que a violência piore, caso tomem a iniciativa de denunciar o caso. “Às vezes o próprio agredido nega o que aconteceu por causa da dependência”, afirma.

Segundo dados do Disque 100, 90% das denúncias registradas no primeiro semestre deste ano foram feitas por pessoas que afirmaram ser desconhecidas ou que não quiseram dizer se conheciam ou não o idoso.