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Câmara de Florianópolis discute ajuda psicológica para jovens assumirem sexualidade

Renan Antunes de Oliveira

Do UOL, em Florianópolis

02/10/2013 17h39

O vereador de Florianópolis Deglaber Goulart (PMDB) apresentou à Câmara proposta de atendimento psicológico gratuito para adolescentes gays na rede municipal. O objetivo é ajudar os indecisos a assumirem sua sexualidade. 

O projeto tem alguma semelhança com aquele batizado de "cura gay", do deputado federal João Campos (PSDB-GO), derrubado na Câmara Federal meses atrás. O Conselho Regional de Psicologia de Santa Catarina (CRP-SC) o considera "desnecessário". O vereador Tiago Silva (PDT), organizador da parada gay na cidade, classificou a iniciativa do colega de "preconceituosa".

Goulart defende seu projeto e não gosta de comparações. "Não estou oferecendo cura. Não existe a palavra cura no meu texto. Falo em salvar, ajudar aqueles adolescentes que não estão contentes com sua sexualidade, que querem se assumir como gays e não conseguem."

O vereador disse que  a rede pública municipal de saúde deve oferecer médicos e psicólogos para esses jovens, para que eles tratem de "transtornos da sexualidade" e "transtornos da preferência sexual, como consta da CID10 (Classificação Internacional de Doenças)".

Goulart disse que se inspirou na reclamação de pais de um adolescente de uma comunidade carente.

Eles o procuraram porque o filho passava por severa depressão, incapaz de tratar com sua sexualidade.

"Ele era gay e não tinha a quem recorrer. Descobri que a rede pública tem tratamento para alcoólatras, drogados, mães em depressão no pós-parto, mas nada e ninguém para ajudar quem está sofrendo sem conseguir se aceitar como gay".

"Meu projeto é sério"

O vereador não gostou de ver parte da imprensa da cidade tratando seu projeto com ironias. "Dizem que é um projeto para ajudar a sair do armário, mas isso é para me desqualificar. É um problema para quem enfrenta, um drama para as famílias, com certeza há muitas por aí. Meu projeto é sério."

A psicóloga Cláudia Cruz, do CRP, disse que o projeto de Goulart é desnecessário. O SUS [Sistema Único de Saúde] já contempla atendimento médico e psicológico de forma universal". Goulart rebateu: "Em teoria. Na prática, vai lá ver se você consegue tratamento". Ele disse ainda que se inspirou no caso do adolescente, mas que o atendimento pode ser dado para pessoas de todas as idades.

O projeto foi apresentado em 23 de setembro à Câmara e lido em plenário terça -feira(1º). Vai agora às comissões de Justiça, Educação e Saúde. Pode tomar até três meses nelas, para então voltar à votação em plenário.

Goulart é casado e pai de dois filhos. Se disse católico, do tipo que não vai à igreja. Começou na política no PPS, elegeu-se pela primeira vez no PSDB e na segunda pelo PMDB. Já foi considerado o vereador mais atuante da cidade numa pesquisa do jornal Diário Catarinense.

A Santur, empresa de turismo do governo do Estado, está fazendo uma campanha publicitária divulgando Santa Catarina como principal destino gay do Brasil.