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Leilão arrecada R$ 250 mil para família de Amarildo comprar casa, estimam convidados

Paula Lavigne divulga fotografia de objetos e obras de arte leiloados em sua residência, no Rio, em prol da família de Amarildo - Reprodução/Instagram
Paula Lavigne divulga fotografia de objetos e obras de arte leiloados em sua residência, no Rio, em prol da família de Amarildo Imagem: Reprodução/Instagram

Juliana Dal Piva

Do UOL, no Rio*

08/10/2013 22h11

Artistas, juristas e empresários se reuniram nesta terça-feira (8) na casa da empresária Paula Lavigne, em Ipanema, na zona sul do Rio, para arrecadar fundos para a família de Amarildo de Souza. O ajudante de pedreiro que desapareceu na UPP da Rocinha em junho. O objetivo era conseguir comprar uma casa no valor de R$ 50 mil, que já foi escolhida pela família. Mas, segundo estimativas de alguns convidados ouvidos pelo UOL, o valor total arrecadado pode se aproximar de R$ 250 mil.

A obra de arte mais cara arrematada no leilão foi um quadro de Ernesto Neto vendido a R$ 100 mil para o irmão do diretor Andrucha Waddington, Ricardo Waddington. A pintura de Ernesto Neto foi a última a ser leiloada por volta das 23h de um conjunto de 15 itens – oito obras de arte e sete instrumentos musicais.

O imóvel escolhido fica na Rocinha, tem dois quartos, sala, cozinha banheiro e espaço para fazer mais um quarto, segundo Anderson, um dos seis filhos do ajudante de pedreiro desaparecido.

Um quadro do cartunista Carlos Latuff foi vendido a R$ 5 mil para uma juíza de São Paulo, membro da Associação de Juízes pela Democracia. O trompete da cantora Alcione foi vendido a R$ 15 mil, a escultura de Raul Mourão foi disputada e arrematada por R$ 25 mil pelo marido da apresentadora Regina Casé, o diretor Estevão Ciavatta. Já um manuscrito de Caetano Veloso foi comprado por R$ 20 mil por Andrucha Waddington.

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"A coragem que tempera o inquérito do caso Amarildo é inversamente proporcional ao destaque diminuto que as conclusões policiais receberam nos meios de comunicação: parece que se trata apenas de mais uma peça produzida pela Polícia Civil do Rio de Janeiro"

"Muita gente está ajudando a gente, só temos a agradecer, temos que tocar a bola pra frente. estamos muito satisfeitos com a investigação", contou Anderson. A mãe do jovem e mulher de Amarildo, Elisabete Gomes da Silva, não compareceu ao evento.

O advogado da família, João Tancredo, contou que a família passa dificuldades porque, além de não contar mais com Amarildo para o sustento, o Estado recorreu da pensão pedida pela família devido ao desaparecimento.

"Parece que, depois de matar o Amarildo, querem matar a família dele de fome. Agora, com moradia adequada já é uma grande oportunidade para retomar a vida ", disse o advogado.

Por medo da polícia, desde que Amarildo desapareceu, sua mulher, Elisabete Gomes da Silva, e os seis filhos do casal dividem um quartinho de cerca de 3 m² na casa da cunhada Maria Eunice Dias Lacerda, também na Rocinha. O local usado como quarto antes era usado como cozinha, anexo à casa de dois quartos, sala e banheiro que abriga ainda outros dez parentes. Entre filhos, sobrinhos, netos e agregados, numa escala de idade que vai dos seis aos 60, ao todo 17 pessoas vivem no local.

Estão no evento cerca de 120 pessoas, entre elas artistas como o cantor Otto e as atrizes Leandra Leal, Carolina Dieckmann, Dira Paes, e Fernanda Lima. Alguns que deram lances foram Marisa Monte, Fernanda Torres, Alicinha Cavalcante e Camila Pitanga.

"Vim pela causa. Achei interessante a sociedade civil se organizar para uma no Brasil que está começando", disse a atriz Fernanda Torres.

  • Reprodução

    Quadro do cartunista Carlos Latuff, vendido a R$ 5.000 para uma juíza de São Paulo


Também foram a leilão uma fotografia da série Retratos, de Marcos Chaves, a obra Galdino Series, de Guga Ferraz, a peça Laje #46, de Matheus Rocha Pitta, objetos especiais Ukulelê da Marisa Monte, bateria completa do baterista do Jota Quest, um instrumento de percussão do Carlinhos Brown e um violão da dupla Zezé di Camargo e Luciano.

O evento surgiu de uma conversa entre Paula Lavigne, o desembargador Siro Darlan e o juiz João Damasceno. Um dos quadros que foi a leilão, o "Por uma cultura de paz", de Carlos Latuff, que retrata um negro crucificado sendo baleado por um policial, estava exposto no gabinete do juiz Damasceno, de onde foi retirado, após solicitação do deputado estadual Flávio Bolsonaro (PP) à presidente do Tribunal de Justiça do Rio. A obra foi então para o gabinete do desembargador Siro Darlan até o dia do leilão.

Outra parte da renda arrecadada será direcionada ao IDDH (Instituto dos Defensores dos Direitos Humanos) para viabilizar um projeto que pretende traçar um perfil dos desaparecidos na região metropolitana do Rio de Janeiro.

O grupo que organizou o leilão também promoverá um show de Caetano Veloso e Marisa Monte no dia 20 de novembro, Dia Nacional da Consciência Negra, no evento "Somos Todos Amarildo". Toda a renda irá para o projeto com o IDDH. O show inédito será no Circo Voador, na Lapa, e está sendo desenvolvido especialmente para essa ocasião por Caetano e Marisa.

Na sexta-feira os dez policiais acusados pelo desaparecimento de Amarildo foram presos, entre eles o ex-comandante da UPP, o major Edson Santos. Eles também são acusados de torturar outros 22 moradores durante uma investigação sobre o tráfico de drogas na comunidade.

*Colaborou Fabíola Ortiz, no Rio

Antes de desaparecer, Amarildo esteve no Centro de Comando e Controle da UPP Rocinha, localizado na rua 2. Sua mulher, Elizabete Gomes, aguardava do lado de fora, segundo vídeo que mostra os últimos momentos de Amarildo antes do sumiço, no dia 14 de julho. Após deixar o posto da PM e entrar em uma viatura policial, o pedreiro foi levado para averiguação na sede da UPP Leia mais Zulmair Rocha/UOL