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Pesquisa aponta Rio como a 4ª cidade onde as pessoas se sentem menos seguras no mundo

Daniel Buarque

Do UOL, em Londres

09/10/2013 06h00

A menos de um ano do início da Copa do Mundo do Brasil e a três anos das Olimpíadas do Rio de Janeiro, uma pesquisa do instituto britânico GFK a respeito da imagem de 50 cidades de todo o mundo aponta que o Rio de Janeiro é uma das quatro cidades em que as pessoas se sentem menos seguras no mundo --e a violência, assim como a pobreza e a desigualdade, pode afetar a forma como o país é visto.

"O Brasil está caminhando para um rebaixamento no ranking de países com a melhor imagem internacional do mundo", disse Simon Anholt, coordenador do estudo, em entrevista ao UOL em Londres.

Cidades onde as pessoas se sentem mais seguras

Sidney, Austrália
Genebra, Suíça
Viena, Áustria
Toronto, Canadá
Londres, Reino Unido
46ªIstambul, Turquia
47ªRio de Janeiro, Brasil
48ªMumbai, Índia
49ªCairo, Egito
50ªCidade do México
  • Fonte: GFK

Anholt é criador do termo Nation Brands, um tipo de pesquisa de opinião pública internacional que avalia a imagem de países e cidades no resto do mundo como se fossem marcas.

O Rio ficou em 47º lugar na lista que trata especificamente de "segurança" do ranking de 50 cidades. Segundo Anholt, o problema é que o Brasil perdeu tempo demais se preocupando apenas em garantir que os eventos aconteçam sem maiores problemas em sua organização, e se esqueceu de cuidar do que vai acontecer do lado de fora dos estádios e ginásios.

“Os países pensam que o sucesso de organização do evento melhora sua imagem, mas isso não é verdade. Os olhos do mundo estarão voltados para o Brasil, e vão ver na TV o que aparece no intervalo dos jogos. Se as TVs do mundo só mostrarem pobreza, desigualdade social e violência, isso vai afetar negativamente a imagem do país”, disse Anholt. “Foi isso que aconteceu com a África do Sul com a Copa no país em 2010.”

Ao mesmo tempo, o Rio de Janeiro aparece bem colocado na pesquisa no que diz respeito à simpatia das pessoas e está em 3º lugar no ranking dos lugares com "pessoas mais amigáveis" do planeta (empatado com Barcelona, na Espanha). O Rio é também o 29º no ranking das cidades em que as pessoas apreciam diferenças culturais e incorporam as diferenças.

A pesquisa é realizada a cada dois anos, e o Rio de Janeiro é a única cidade brasileira incluída para ter sua imagem no resto do mundo avaliada - as outras cidades do país não foram avaliadas. O estudo entrevistou 5.144 pessoas em nove países. Foram respondidas 50 perguntas diferentes sobre a percepção das pessoas a respeito da presença das diferentes cidades no mundo, seu povo, seu potencial, sua cultura e vários outros aspectos. O ranking é ligado ao estudo Nation Brands Index, que avalia a imagem internacional dos países.

África do Sul x Brasil

O pesquisador explicou que, ao estudar o caso específico da África do Sul em 2010, a impressão deixada pelo país no mundo foi a de que o evento foi um sucesso de organização, mas as imagens das TVs do mundo focaram muito na pobreza, na desigualdade e na violência.

"Minha preocupação é que o mesmo pode acontecer com o Brasil. Hoje ainda se fala mais do Brasil por conta do desenvolvimento econômico, mas quando as pessoas passarem a ver a pobreza, elas vão questionar qual é o Brasil real, e podem ficar com uma impressão mais negativa do país."

Nem tudo está perdido, entretanto, segundo Anholt, e a realidade é que a imagem do Brasil é mais robusta que a da África do Sul. "O Brasil é o país que todo mundo ama amar", disse.

Isso se dá por conta da forma como os Estados Unidos promovem a imagem internacional do Brasil há décadas, sempre de forma entusiasta. "Mas só isso não é suficiente. O Brasil precisa se transformar no líder global em correção de problemas de desigualdade, violência e corrupção", disse.

Segundo Anholt, a pesquisa de cidades serve para prever o que pode acontecer com a imagem do Brasil porque o Rio é visto internacionalmente como um símbolo do país. "É quase impossível distinguir o que as pessoas pensam do país e o que elas pensam da cidade", disse.

“O conhecimento sobre o Rio no resto do mundo é muito vago e genérico e reflete o que se pensa sobre o Brasil. O Rio é emblemático do Brasil. Apesar de haver outras imagens aparecendo com maior frequência, Copacabana ainda é o principal símbolo dessa imagem do Rio e do Brasil no mundo", explicou.

Tarde demais

Para Anholt, está tarde demais para o Brasil tentar mudar os rumos da imagem do país nos eventos esportivos. "O Brasil deveria ter começado há dois ou três anos a trabalhar para mudar a imagem do país”, disse.

O foco, complementou, deveria ter sido o combate à desigualdade social. “O maior desafio é a luta contra a desigualdade. As imagens que demonstram que existe riqueza excessiva ao lado de muita pobreza afetam a forma como o mundo vê o país”, afirmou.

Ao contrário da China, explicou, o Brasil é um país democrático e “não vai conseguir simplesmente esconder a pobreza durante os eventos internacionais”.

Na entrevista, Anholt afirmou acreditar que para melhorar a imagem do país é preciso ir além do trabalho governamental de transferência de renda e buscar saídas mais criativas para os problemas sociais do Brasil.

"Os políticos não têm criatividade e imaginação suficiente para criar novas soluções, que tenham efeitos mais dramáticos e que sejam mais fáceis de demonstrar para o mundo o que está sendo feito", disse.

Histórico da violência

Em 2013, o Rio de Janeiro foi eleito pelo jornal The New York Times como o destino turístico do ano. No entanto, a cidade foi palco de diversos casos de violência urbana que ganharam repercussão internacional.

Em junho, em meio aos protestos que levaram milhares de pessoas às ruas e foram reprimidos violentamente pela Polícia Militar, nove pessoas foram mortas por policiais no Complexo da Maré, zona norte do Rio, em operação policial após a morte de um homem do Bope (Batalhão de Operações Especiais). A PM entrou na comunidade em busca de homens que aproveitaram uma manifestação nas proximidades para promover arrastão, roubando mercadorias de lojas e assaltando motoristas que passavam pela avenida Brasil.

O desaparecimento do pedreiro Amarildo de Souza, 43, após ser levado por policiais da Rocinha, também foi noticiado em diversos jornais pelo mundo. Dez policiais militares foram presos e responderão por tortura seguida de morte e ocultação de cadáver.

Amarildo desapareceu em uma área de UPP (Unidade de Polícia Pacificadora), uma das maiores bandeiras da segurança pública no Estado. Dados do ISP (Instituto de Segurança Pública) mostram que houve aumento no número de desaparecimentos nas 18 primeiras comunidades que receberam UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora), no período entre 2007 e 2012. O levantamento feito pelo UOL tem base nas ocorrências registradas um ano antes e um ano depois das respectivas ocupações, e vai da UPP Santa Marta, inaugurada em novembro de 2008, em Botafogo, na zona sul, à UPP Mangueira, na zona norte da cidade, lançada em novembro de 2011.

Outro caso emblemático em 2013 foi o da turista norte-americana estuprada em março. Ela e o namorado pegaram a van em que os criminosos estavam em Copacabana (zona sul) para ir à Lapa (região central) e no trajeto os suspeitos anunciaram o assalto. Eles seguraram o casal, fizeram saques e compras com os cartões das vítimas, agrediram o rapaz e estupraram a garota.