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Comprovação de overdose de insulina é quase impossível, dizem médicos

Camila Neuman

Do UOL, em São Paulo

12/11/2013 13h34Atualizada em 12/11/2013 15h24

A suspeita da morte do menino Joaquim Pontes Marques, 3, por overdose de insulina, pode ser quase impossível de ser comprovada, segundo endocrinologistas especialistas no tratamento do diabetes.

Joaquim, que era diabético, foi encontrado morto no domingo (10), no rio Pardo (423 km de São Paulo), em Barretos (SP), após ter desaparecido em Ribeirão Preto (313 km de São Paulo) na terça-feira (5).

A Polícia Civil descartou a morte por afogamento, por não ter encontrado água nos pulmões do menino, mas levantou a hipótese de a criança ter recebido uma superdosagem de insulina.

A mãe da criança, a psicóloga Natália Mingoni Ponte, 29, e o padrasto Guilherme Raymo Longo, 28, são os principais suspeitos do crime. Eles estão em prisão preventiva e devem ficar detidos por 30 dias em Ribeirão Preto.

De acordo com o endocrinologista Valdino Tschiedel, presidente da Sociedade Brasileira de Diabetes, é praticamente impossível comprovar a suposta overdose.

“Não tem como dosar a glicose e a insulina vários dias depois da morte porque não vamos ter nenhum resquício dela no corpo, que vai se eliminando pela urina. É quase impossível. Isso é um grande problema da medicina porque não tem como se comprovar a morte por hipoglicemia, algo que é perfeitamente tratável”, disse.

Ele compara o processo a overdose de medicamentos, drogas ou envenenamento, que por serem corpos estranhos ao organismo, tendem a ficar mais tempo no corpo, facilitando o processo de análise toxicológica.

A Polícia Civil trabalha com a hipótese de o menino ter recebido até 30 injeções de insulina no dia em que desapareceu, o que teria causado sua morte.

A superdosagem de insulina é capaz de levar a pessoa ao coma e, em seguida, a morte por hipoglicemia, independentemente de ela ser diabética, explica a endocrinologista Denise Reis Franco, diretora da ADJ Associação Diabetes Brasil.

No entanto, mesmo sendo uma dosagem considerada alta, a médica reitera a dificuldade em identificá-la no corpo de alguém depois de sua morte.

“Teoricamente, quando você vai dosar a glicemia, uma parte da dose de insulina já foi depurada e, além disso, a gente tem de considerar o que o paciente comeu, e isso a gente não tem como saber nesse caso”, questiona.

O coma pode ser causado de forma rápida ou lenta, dependendo de como a insulina foi injetada. Se for abaixo da pele, maneira mais comum, ela pode demorar horas para causar o efeito do coma e a morte por hipoglicemia. Se for injetada na corrente sanguínea, seu efeito é imediato, causando o coma e a falência dos órgãos.

“O que pode acontecer em casos muito raros é  encontrar resquícios de insulina no sangue, mas não tem como comprovar a overdose porque boa parte dela já foi depurada e não terá mais comida no estômago também”, afirmou.