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Caminhão passou por três passarelas com caçamba levantada, diz testemunha

Giuliander Carpes

Do UOL, no Rio

29/01/2014 15h34Atualizada em 29/01/2014 16h09

O delegado da 44ª DP (Inhaúma), Fabio Asty, responsável pelas investigações do acidente de terça-feira (28) na Linha Amarela, na zona norte do Rio de Janeiro, tomou nesta quarta-feira (29) o depoimento de um motorista de um ônibus da linha 315 (Central-Linha Amarela), Antonio Carlos da Silva, 42. Ele contou que o motorista do caminhão que se chocou contra a passarela já tinha passado pelo menos por outras três com a caçamba levantada sem causar acidente.

Ele disse que o motorista do caminhão vinha pela pista do meio quando passou pelas três passarelas. Segundo a testemunha, na passarela que caiu, o condutor passou pelo lado direito, onde a pista seria mais alta. "Se ele tivesse passado pelo meio, não teia batido. Mas passou pela pista do canto. Aí não deu para evitar", disse Silva.

Ele disse ainda que não viu se o motorista estava ao telefone. "Tentei emparelhar com o caminhão para avisar que ele estava com a caçamba levantada, mas ele ia em alta velocidade, e não consegui", afirmou. O delegado vai pedir imagens da câmera de segurança do ônibus.

No acidente de terça, duas pessoas que estavam na passarela no momento da colisão morreram. As outras três vítimas fatais estavam em um Palio e um táxi que ficaram esmagados pela estrutura de metal e concreto que foi derrubada pela caçamba. O motorista do caminhão disse à polícia que sabia da proibição ao tráfego de caminhões no horário em que entrou na via, por volta das 9h15.

Protesto

Familiares do taxista Alexandre Gonçalves de Almeida, uma das cinco vítimas do acidente, fizeram um protesto no local nesta tarde. Eles caminharam do cemitério de Inhaúma, onde o motorista foi enterrado, até a passarela que foi destruída pela caçamba do caminhão da empresa Arco da Aliança. 

Caminhão levantou caçamba após entrar na Linha Amarela

A Linha Amarela ficou completamente interrompida no sentido Barra da Tijuca. Moradores da favela Águias de Ouro, que fica num dos extremos da passarela e onde residiam as vítimas Adriano Pontes e Célia Maria, quebraram as proteções que separam a comunidade da pista e se juntaram aos familiares. Alguns portavam faixas que pediam justiça. 

Policiais tentaram liberar a via inclusive com ameaças de multar os carros dos familiares do taxista, que foram usados para trancar a pista. O trânsito no local ficou muito intenso. 

Os familiares pretendem se deslocar até a praça de pedágios da Lamsa, concessionária da Linha Amarela, para prolongar o protesto.

Estrutura

A estrutura de aço da passarela é resistente e pode ser reaproveitada no mesmo local, de acordo com avaliação do engenheiro civil Antonio Eulálio Pedrosa Araújo, conselheiro do CREA-RJ (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Rio de Janeiro).

Araújo esteve no local do acidente nesta terça e analisou a situação. "Foi uma fatalidade." Especialista em pontes e estruturas, ele descarta a hipótese levantada por moradores de que um acidente ocorrido em 2001 tenha prejudicado a passarela.

O engenheiro atribui a queda da passarela ao impacto do caminhão que transitava com a caçamba levantada. Segundo ele, apesar de possuir uma estrutura resistente, a passarela não foi projetada para suportar uma "pancada" tão forte. Araújo calcula que o impacto teve uma força superior a 100 toneladas.

A passarela pesava 94 toneladas, de acordo com informação da Prefeitura do Rio. A estrutura metálica tinha 70 metros de extensão, com lajes de concreto no piso e no teto, além de pilares. Para facilitar a remoção, ela foi cortada. Situada entre os acessos 4 e 5 da Linha Amarela, ela ligava duas comunidades do bairro de Pilares, na zona norte do Rio.

Fiscalização

Mais de 90 caminhões foram multados nesta quarta por trafegarem em horário indevido pela Linha Amarela. Entre os multados, estão carros terceirizados que prestavam serviços para empresas municipais como Comlurb (Companhia Municipal de Limpeza Urbana) e CET-Rio (Companhia de Engenharia de Tráfego).