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Para coordenador das UPPs, ataques do tráfico são tentativa de mostrar poder

O policiamento foi reforçado na manhã de segunda-feira (3) na comunidade do Parque Proletário, no Complexo da Penha, zona norte do Rio - Domingos Peixoto/Agência O Globo
O policiamento foi reforçado na manhã de segunda-feira (3) na comunidade do Parque Proletário, no Complexo da Penha, zona norte do Rio Imagem: Domingos Peixoto/Agência O Globo

Jacyara Pianes

Do UOL, no Rio

04/02/2014 09h42

O comandante da CPP (Coordenadoria de Polícia Pacificadora) em exercício, o subcoordenador coronel Lima Freire, afirmou acreditar que os recentes ataques a UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) no Rio de Janeiro têm como objetivo desestabilizar as forças policiais. “Com certeza é uma ação de tentar mostrar algum tipo de poder”, disse o coronel, em entrevista ao UOL. No entanto, ele afirma ser impossível que os ataques resultem na retomada das áreas pelo tráfico. “A polícia veio para ficar, não tem como reverter essa situação.”

A última ocorrência aconteceu domingo (2), quando uma policial foi morta e outras três pessoas ficaram feridas na UPP Parque Proletário, no Complexo da Penha. Entre outros casos na semana passada, só na sexta (31), uma bala perdida matou um morador da Rocinha após um tiroteio e criminosos lançaram coquetéis molotov em uma delegacia no Alemão.

Para Lênin Pires, pesquisador do InEAC (Instituto de Estudos Comparados em Administração Institucional de Conflitos) da UFF (Universidade Federal Fluminense),"os criminosos que elegem como tática enfrentar a polícia para dar consequência aos seus negócios tendem sempre a se beneficiar quando as instituições policiais são desacreditadas".

Na opinião dele, no caso das UPPs, eles buscariam a reação ostensiva da polícia para abalar a confiança da comunidade. O que se potencializaria pelo tratamento já diferenciado - ou seja, mais truculento - que esses policiais costumam ter nestas regiões.

 "A polícia, particularmente a de matriz militar, não define sua identidade enquanto prestadora de serviços para a sociedade, mas enquanto garantidora de uma ordem pública particularizada por um Estado que preconiza a desigualdade social, mas também a desigualdade jurídica".

De fato, a polícia anunciou na tarde de segunda-feira (3) que reagirá aos atentados. Horas após o ataque na Penha, as polícias Civil e Militar iniciaram uma ofensiva em 14 favelas dominadas pelo Comando Vermelho.

Empossado ontem, o novo chefe de Polícia Civil, delegado Fernando Veloso, disse que as operações nestes locais vão continuar por tempo indeterminado. Segundo ele, alguns dos envolvidos na emboscada na Penha já foram identificados.

Na manhã desta terça (4), pelo menos seis pessoas morreram e quatro foram baleadas durante uma operação do 41º Batalhão da Polícia Militar (Irajá) no morro do Juramento, na zona norte da cidade.

Segundo balanço parcial da PM, um homem foi preso, além de seis suspeitos e dois policiais baleados. Foram apreendidos quatro fuzis, cinco carregadores 556, quatro carregadores 9 mm, cinco granadas e drogas ainda não contabilizadas. O material será encaminhado para a 27ª DP.

Rocinha, Alemão e Penha como alvo

A Rocinha, assim como os complexos do Alemão e da Penha (estes dois últimos com quatro UPPs em cada) têm se destacado como cenários de disparos, segundo o coronel Freire. Mas tanto o comando das UPPs quanto o ISP (Instituto de Segurança Pública) afirmam não ter dados recentes sobre os ataques.

Segundo o coronel, essas áreas têm em comum serem onde os traficantes mais perderam poder financeiro com a pacificação. No Alemão e na Penha, estava o Comando Vermelho, e na Rocinha, o grupo ADA (Amigos dos Amigos). Uma hipótese é de que os traficantes estejam tentando voltar às suas áreas após terem que se refugiar em outras favelas, onde teriam perdido status no tráfico.

Mas Freire não vê relação entre as ações, diz que elas resultam de pequenos grupos e frisa que a situação nas comunidades é pontual. “Não é tiro 24 horas por dia”, afirma.