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Qualidade do volume morto é igual a da água usada hoje, diz governo

Do UOL, em São Paulo

05/05/2014 12h36Atualizada em 07/05/2014 08h27

A qualidade da água que será retirada do volume morto do Sistema Cantareira, principal fonte de abastecimento da região metropolitana de São Paulo, é igual a da que é atualmente retirada dos reservatórios, disse o secretário Estadual de Saneamento e Recursos Hídricos, Mauro Arce, em entrevista à rádio CBN, nesta segunda-feira (5).

"A qualidade da água já foi testada. Essa água é a mesma que estava no corpo principal da barragem", afirmou. O secretário destacou que, diferente do que se possa imaginar, a água do volume morto não está "parada". "O volume morto, na realidade, quando o reservatório está mais cheio, ele se movimenta também", disse.

Arce lembrou que o volume morto vai passar por tratamento, antes de ser distribuído aos moradores da região. "A água vai ser tratada como toda água da Sabesp [Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo], de todos os mananciais. A água é tratada e se torna potável, da melhor qualidade".

A expectativa do governo estadual é começar daqui a dez dias a retirar água do volume morto, que fica no fundo das represas, abaixo do nível de captação das comportas. A previsão da Sabesp é extrair 200 bilhões de litros dos 400 bilhões de reserva.

Em março, começaram a ser construídos canais e instaladas bombas para a retirada da água das represas Atibainha, em Nazaré Paulista, e Jaguari/Jacareí, em Bragança Paulista. De acordo com a companhia, essa água será "suficiente" para abastecer a região até setembro.

Riscos à saúde e ao meio ambiente

Especialistas ouvidos pelo UOL alertam que o tratamento inadequado do volume morto pode trazer riscos à saúde. Eles chamam a atenção também para os danos ambientais que o uso dessa água pode trazer para o meio ambiente.

Para Sílvia Regina Gobbo, professora de ecologia da Unimep (Universidade Metodista de Piracicaba), o tratamento de água usado atualmente não consegue resolver os problemas dos metais pesados que podem estar acumulados no fundo dos reservatórios.

Na opinião do médico clínico Paulo Olzon, professor da Escola Paulista de Medicina da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), haverá sérios riscos para a saúde do consumidor caso o tratamento não elimine os metais pesados da água proveniente do volume morto.

Maria Aparecida Marin Morales, especialista em toxicologia ambiental do campus Rio Claro da Unesp (Universidade Estadual Paulista), chama a atenção para mudanças que vão ocorrer no ecossistema dos reservatórios, que podem comprometer o sistema e levar anos para ser recuperado.

Menos água

Há duas semanas o nível de armazenamento de água do Sistema Cantareira não para de cair. O índice atingiu 10% de sua capacidade nesta segunda-feira (5). No mesmo dia do ano passado o nível do sistema era de 62,3% de sua capacidade.

Apesar do menor índice da história do sistema, ontem (4) o governador Geraldo Alckmin (PSDB) voltou a descartar o racionamento de água na região. "Nós esperamos que não tenha nem este ano nem o ano que vem", disse.