Após cheia, Brasileia (AC) tem ruas desertas e cenário de pós-guerra
A maior enchente da história do rio Acre deixou um lastro de destruição na pequena Brasileia, ao sul do Estado na fronteira com a Bolívia. O UOL visitou a cidade de 23 mil habitantes nesse domingo (8) e encontrou um cenário de ruas desertas, ruínas em mais de metade da área urbana cidade e um clima de perplexidade entre os desabrigados.
A região central de Brasileia foi totalmente tomada pelas águas do rio Acre. Pelo menos 20 bairros foram atingidos pelas águas do rio, conforme dados da Defesa Civil Estadual. O rio bateu recorde e atingiu 15,1 metros no dia 23. Só voltou a sua calha normal na quarta-feira (4).
Após o rio baixar, foi possível ver um cenário de pós-guerra, com carros e casas destruídos e lama por toda parte. No centro, os estabelecimentos foram destruídos.
A praça Hugo Pólice estava coberta de lama, com seus brinquedos quebrados. No mesmo local, a força da água empurrou um carro até o jardim de uma casa, o deixando completamente destruído.
Na cidade também não há mais vagas para desabrigados. Com isso, três famílias se abrigam na praça José Francisco Monteiro Borges. “Quando vimos que o rio estava subindo, colocamos as coisas nas costas e trouxemos aqui para a praça. Achávamos que a água não iria chegar aqui, mas ela chegou e tivemos de suspender tudo para que não ficasse boiando”, relatou Nilton de Jesus Cunha, 38.
Brasileia (AC) tem ruas desertas e cenário de pós-guerra
Clima de perplexidade
O clima entre os moradores é de perplexidade com a cheia. “Sempre morei aqui, mas nunca vi nada parecido com isso. Dormi com o rio fora e quando acordei, na madrugada, ele estava dentro de casa. Salvei só o fogão e o bebedouro”, conta Raimunda da Silva, 75, que está abrigada há mais de uma semana no ginásio Eduardo Lopes de Pessoa.
Ela conta que, além do drama de perder as coisas, acabou tendo mais uma preocupação. "Minha cachorra [Lesi] foi solta pelo meu filho e ficou perdida por quatro dias. Foi quando minha cunhada me chamou e disse que tinha a encontrado. Chorei tanto de alegria", relatou.
A situação de centenas de pessoas é de desolação. Todas perderam suas casas, estão em abrigos públicos e não têm perspectivas. “A água levou a minha casa. Primeiro ela foi arrastada, foi pra cima da do vizinho e depois foi para a vala. Não quero mais nunca voltar pra lá”, disse Maria do Carmo da Silva, 70, que morava no centro.
O casal Osmir Leite, 24, e Silvana Rocha, 23, lembra com tristeza do momento em que voltou para casa, no dia 22, e viu que tudo estava perdido. “Nós ficamos só com a roupa do corpo nossa e das três meninas. Não deu tempo salvar nada”, contou.
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