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Cheia no AC foi 'grito de alerta' da natureza, diz viúva de Chico Mendes

Chico Mendes posa para foto ao lado de sua mulher Ilzamar e seu filho - Homero Sérgio/Folhapress - 1º.mai.1988
Chico Mendes posa para foto ao lado de sua mulher Ilzamar e seu filho Imagem: Homero Sérgio/Folhapress - 1º.mai.1988

Carlos Madeiro

Do UOL, em Xapuri (AC)

09/03/2015 20h24

Quando foi assassinado em dezembro de 1988 a mando de um fazendeiro, em Xapuri, no interior Acre, o seringueiro Chico Mendes era um voz quase solitária na defesa pela necessidade da preservação da Amazônia. Para ele, o desmatamento que avançava causaria desequilíbrio ambiental e levaria a tragédias naturais. Vinte e seis anos depois de sua morte, o rio Acre atingiu nível inédito e desabrigou mais de 20 mil pessoas no Estado.

Para familiares de Mendes, trata-se de uma resposta do rio à destruição de suas margens e da destruição desordenada da floresta.

“Chico já alertava para as enchentes, foi uma bandeira de luta porque ele defendia o não-desmatamento das nascentes, dos igarapés. Tudo já era previsto, e ele denunciava. Tenho certeza de essa cheia foi um grito de alerta de que mais coisas sérias ainda podem acontecer”, afirma Ilzamar Mendes, viúva do seringueiro.

Os números também confirmam a previsão sombria de Chico Mendes. Em menos de 20 anos, o Acre viveu as suas três piores enchentes: 1997, 2012 e a atual. Cada uma foi batendo recorde até chegar à maior tragédia natural da história do Estado.

“No ano passado, vivemos quatro eventos naturais extremos aqui no Acre. Isso realmente vem se repetindo com mais frequência, e precisamos pensar que cuidar da natureza é uma coisa que depende de todas as pessoas”, afirma a vice-governadora do Acre e coordenadora das ações de socorro às vítimas da enchente, Nazaré Lambert (PT).

A filha de Chico Mendes, Helenira Mendes, também diz acreditar que a cheia foi uma resposta da natureza às ações do homem, e ressaltou que, mesmo sem estudos, Chico entendia os efeitos nocivos do desmatamento.

“Isso faz me orgulhar e ter a certeza que a luta do meu pai era uma causa justa. Imagina um seringueiro que mal sabia assinar o nome, e sabia fazer uma análise dessas. Meu pai tinha um projeto, um plano, e ele passou pela Terra para deixar essa mensagem. Se o mundo continuar agindo dessa forma, o planeta vai à extinção”, disse.

Para Helenira, é preciso frear o desmatamento da floresta o quanto antes. “Precisamos fortalecer ainda mais a luta pela natureza, reflorestar nossa nascentes, ocupar áreas, rever tudo. O Acre teve uma lição agora”, disse.