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Metade das ciclovias de SP tem no máximo uma conexão com restante da rede

Márcio Padrão

Do UOL, em São Paulo

10/08/2015 06h00

Um levantamento da reportagem do UOL constatou que, dos 181 trechos de vias para ciclistas em São Paulo, 92 não têm nenhuma ou fazem no máximo uma conexão com qualquer outro trecho da malha cicloviária. Atualmente a rede da capital é de 351,9 quilômetros, incluindo ciclovias --com pista própria separada fisicamente do tráfego comum-- e ciclorrotas -- vias que indicam o compartilhamento da rua entre veículos motorizados e bicicletas.

Dos 92 trechos, 40 deles não possuem nenhuma conexão e 52 apenas uma. Enquanto há regiões mais conectadas no atual mapa, como o centro e a zona oeste, outros trechos em regiões como as zonas norte, sul e leste ficam isolados ou distantes uns dos outros. O levantamento leva em conta ciclovias de extensões variadas, de 200 metros a até mais de 11 quilômetros, como o do Parque Ecológico do Tietê.

O plano de mobilidade da cidade, divulgado no site da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), afirma incluir em suas diretrizes a conectividade e a intermodalidade entre as ciclovias, ciclofaixas e ciclorrotas.

Uma das metas do prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), é implementar 400 quilômetros de vias para ciclistas até o final de 2015. A atual gestão já inaugurou 255,1 km desde junho de 2014. Para atingir a meta, a CET precisará inaugurar cerca de 29 quilômetros de ciclovias por mês a partir de agosto, praticamente o dobro do que pretendia para esta reta final do plano (15 km por mês), de acordo com suas projeções iniciais.

28.jul.2015 - Ciclovia em Mirandópolis, São Paulo, com apenas 200 metros de extensão e sem conexão ao restante da rede cicloviária da cidade - Reprodução - Reprodução
28.jul.2015 - Ciclovia em Mirandópolis, São Paulo, com apenas 200 metros de extensão e sem conexão ao restante da rede cicloviária da cidade
Imagem: Reprodução

De todos os tipos

As ciclovias e ciclorrotas com zero ou uma conexão com o restante da rede possuem formatos bem distintos. Há caminhos em linha reta, em curva, circuitos fechados que circundam praças e até ciclovias que entrecruzam várias ruas de um bairro, mas que pela classificação da CET fazem parte de um mesmo trecho único. Este último é o caso da ciclovia Parque São Lourenço, no Jardim Três Marias (zona leste).

Alguns caminhos apresentam natureza bastante restrita, como a ciclovia em Mirandópolis, que abrange apenas uma parte da rua Guapiaçu e se encerra próximo a uma universidade. No Jardim Guançã (zona norte), um trecho de 700 metros circunda apenas a praça Santa Luiza de Marillac. Na Mooca, a ciclovia fica apenas na área de um centro de lazer municipal e se liga a uma ciclorrota de 5,6 quilômetros.

Segundo o pesquisador de mobilidade urbana e coordenador de engenharia do Mackenzie Campinas Luiz Vicente Mello, uma rede cicloviária fragmentada pode levar ao enfraquecimento da iniciativa de perpetuar o uso de bicicleta na cidade. "A ciclovia da marginal Pinheiros surgiu antes da gestão atual, mas só a vejo sendo usada nos fins de semana ou para treinamento. Enquanto isso, áreas como a zona leste, onde já havia um fluxo grande de bicicletas, poderiam ter mais conexões com o resto da cidade", argumenta.

Para o especialista, a prefeitura teria obtido menos rejeição às ciclovias se tivesse informado melhor a população sobre os objetivos de criar cada trecho. "A fragilização dessa parte educacional fica clara porque tem um público que rejeita, outro que aceita, mas nem todos têm consciência de que é uma melhoria para a cidade."

CET busca conexão com ônibus

A coordenadora de Projetos Cicloviários da CET, Suzana Leite Nogueira, diz que o objetivo da atual gestão é seguir um planejamento de implantação das ciclovias que vem sendo feito há vários anos pela prefeitura e que abrangem outros tópicos de importância.

"No nosso cenário, há três coisas a se considerar. Primeiro, pretendemos abranger todas as regiões da cidade. Segundo, conectar polos de atração nas regiões, como praças, parques e escolas. E, por fim, a integração modal, com pontos de ônibus, metrô e trens", disse Nogueira, sem detalhar casos específicos. Além disso, ela explicou que alguns trechos não foram implantados pela CET nos últimos dois anos, mas por outros órgãos da secretaria de Transportes em anos anteriores.

No entanto, a coordenadora afirma que a prefeitura enfrenta limitações para realizar mais conexões. "Há uma lógica por trás das implantações, mas também temos consciência que pela dimensão da cidade não é possível conectá-la inteira de início. Estamos trabalhando dentro da nossa capacidade."

Na página 19 do Plano de Mobilidade de São Paulo, os traçados planejados apresenta mais interligações entre trechos do que a rede atual. No entanto, apenas a primeira fase do projeto é prometida até 2016. As outras duas fases são projeções para serem concluídas nos anos de 2024 e 2030.

A prefeitura diz ainda que o planejamento segue discussões públicas já realizadas no Conselho Municipal de Trânsito. Os paulistanos que estiverem interessados em propor novos trechos de ciclovias pode procurar os canais de atendimento da CET: o telefone 1188, enviar mensagens pelo site ou pelas redes sociais (Twitter e Facebook) da companhia.