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Contra arrastão, colunista muda de ideia e sugere passinho em praias do Rio

Hildegard é filha da estilista Zuzu Angel e irmã do ex-militante político Stuart Angel, desaparecido na ditadura militar - Paula Giolito/Folhapress
Hildegard é filha da estilista Zuzu Angel e irmã do ex-militante político Stuart Angel, desaparecido na ditadura militar Imagem: Paula Giolito/Folhapress

Hanrrikson de Andrade

Do UOL, no Rio

23/09/2015 06h00

Por conta de uma onda de violência na orla da zona sul do Rio de Janeiro, a colunista social Hildegard Angel, 65, publicou em seu blog, em janeiro, texto no qual defendia a instituição de pedágio nas praias cariocas e a redução de linhas de ônibus como medidas para combater arrastões, roubos e furtos. Oito meses depois, ela diz ter mudado de ideia.

"Falaram que eu era racista e segregacionista, mas eu não sou nada disso. (...) Toda a reação acabou sendo muito boa, pois refleti melhor", disse ela. Na época, por conta da repercussão, a colunista chegou a apagar publicação. "Fui muito maltratada."

Hoje, Hildegard defende ideias que considera mais "construtivas". "Por que não criam atividades lúdicas, esportivas e culturais nas praias para atrair esses jovens cheios de energia, vigor e espírito de aventura que moram em regiões mais afastadas? Por exemplo, por que não temos o torneio do passinho na praia, a céu aberto, com arquibancada? Olha que delícia."

"Fazer uma arena para o torneio do passinho. Esses adolescentes vão preferir mil vezes ficar ali, na música, em um torneio do passinho, do que fazendo arrastão na praia", completou. "Mas não vai adiantar só reduzir a oferta de ônibus ou encher a praia de guardas e policiais. Tem que haver uma convivência harmoniosa. Tem que integrar."

Para a entrevistada, Estado e Prefeitura do Rio vêm tomando "medidas drásticas" na tentativa de enfrentar o problema, como a abordagem da Polícia Militar a ônibus e a racionalização da oferta de transporte público. Porém, afirmou ela, os arrastões são cíclicos e a complexidade do problema exige mais do que ações emergenciais. Caso contrário, cenas de violência como as que ocorreram no último fim de semana se repetirão nos próximos verões.

"O verão está aí e não se pensou em outra coisa. A cidade precisa realmente de uma ação emergencial. Se você permitir que isso se expanda em nome do politicamente correto e de interesses partidários, você mata a cidade", disse.

"Mas só isso não adianta. Temos que pensar em uma solução em médio e longo prazo, com cabeça na harmonia social. Harmonizar esses diferentes extratos sociais para que eles possam desfrutar de maneira harmônica de um bem comum a todos: a praia", argumentou Hildegard, que é filha da estilista Zuzu Angel e irmã do ex-militante político Stuart Angel, desaparecido na ditadura militar.

Arrastões

No último fim de semana, frequentadores de praias da zona sul carioca ficaram em pânico com arrastões e cenas de violência. Foram registrados tumultos em locais como Copacabana, Arpoador, Ipanema e Botafogo. Pelo menos 30 pessoas foram detidas pela polícia. Em Botafogo, um vendedor levou um tiro em uma tentativa de assalto. No Humaitá, uma padaria foi saqueada por 20 pessoas.

Na segunda-feira (21), o secretário de Estado de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, afirmou que a Polícia Militar voltará a abordar ônibus e revistar suspeitos que estejam dentro dos veículos. Segundo ele, as ações vinham "dando resultados positivos", mas foram vetadas após decisão judicial que impede apreensão e prisão de jovens sem crimes em flagrante.

Os arrastões provocaram reações exaltadas e manifestações de incitação à violência nas redes sociais, tanto de moradores dos locais afetados quanto de jovens que afirmam ter sido agredidos pelos chamados "justiceiros" após as ações.

 

 

Relembre as sugestões de Hildegard Angel

Em tais dias de grande concentração de pessoas nas ruas e praias, nos fins de semana e feriados do verão, diminuir drasticamente a circulação das linhas de ônibus e de metrô no fluxo zona norte – zona sul, estimulando o aumento do fluxo zona norte – zona oeste, para haver uma distribuição mais equilibrada da população das praias. Barra, Recreio, São Conrado têm praias imensas, lindas. Modo de evitar concentrações opressivas.

Caso essa providência não alcance resultado, partir para um plano b radical: cobrar entrada nas praias de Leme, Copacabana, Ipanema, Leblon. Isso pode soar com estranheza para os cariocas, que sempre tiveram a praia gratuita, mas no exterior é a normalidade. Preços módicos, naturalmente.