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Blogueira feminista denuncia campanha de difamação na internet

Do UOL, no Rio

04/11/2015 17h31

Autora do site Escreva Lola Escreva, conhecido blog feminista, a professora universitária da Universidade Federal do Ceará, Lola Aronovich, denunciou nesta segunda-feira (2) a clonagem da sua página. No início do mês de outubro, afirma Lola, foi criado em seu nome um site que prega o discurso de ódio e atribui à professora a defesa de infanticídio de meninos, a queima de bíblias e a venda de medicação para a realização de abortos, entre outros crimes.

Batizado de “Lola Escreva Lola”, o site falso foi retirado do ar. Segundo a professora, que nega qualquer envolvimento com o site, a página seria de autoria de um homem especializado em incitar ódio na internet. Em seu blog Lola reproduziu um Boletim de Ocorrência que fez contra o suposto agressor. Lola afirma receber, desde 2014, ameaças de morte, estupro e de divulgação de seus dados pessoais na internet.

4.nov.2015 - Imagem do blog falso difamando a blogueira Lola Arinovich - Reprodução/EscrevaLolaEscreva - Reprodução/EscrevaLolaEscreva
Imagem do blog falso difamando a blogueira Lola Arinovich
Imagem: Reprodução/EscrevaLolaEscreva
A professora também diz ter sido procurada pela ouvidoria da universidade por reclamações feitas por alunos que tomaram o site falso por verdadeiro.

“Eu tenho um blog com um bom número de visitas. Sou bastante conhecida por ele, já que o Escreva Lola Escreva é um dos maiores blogs feministas na internet brasileira. Por que cargas d'água eu criaria um outro blog, com meu nome "oficial", digamos (em um minuto de busca no Google é possível ver que meu nome na carteira é Dolores Aronovich Aguero, e que Lola Aronovich -- além de ser a mesma pessoa -- é como gosto de ser tratada e como sou conhecida), e com ideias tão diferentes das minhas? Ideias que vão contra os direitos humanos mais básicos?”, questiona Lola em um texto explicando o caso publicado em seu site.

Centenas de internautas têm prestado solidariedade à blogueira no Twitter. No Facebook foi criada uma página de apoio à blogueira batizada de Força, Lola, Força.

Em sua página no microblog, a ex-candidata à presidência pelo Psol Luciana Genro desejou força à professora.

 
O ator José de Abreu, que possui cerca de 98 mil seguidores, também se manifestou, reproduzindo um tuíte da internauta Karina Toledo com o apelo de Lola.
 
A internauta Bruna Luyza relatou ter conhecido o movimento feminista através da página de Lola e classificou o ataque como "desumanidade".

Nos últimos dias ao menos cinco páginas ligadas aos direitos das mulheres e aos direitos LGBTT foram hackeadas e removidas pelo Facebook depois de receberem denúncias anônimas de conteúdo impróprio. As autoras dos sites "Feminismo sem demagogia", "Jout Jout Prazer" e "Moça, Você é Machista" atribuem a ação a ataques de grupos com discursos de ódio.

Segue abaixo o texto publicado pela blogueira em seu site explicando o caso:

Site de ódio no meu nome obviamente não é meu

Lá vou eu gastar meu tempo com mascus e reaças de novo...

Cheguei hoje de Caponga, uma praia próxima a Fortaleza. Estava lá com o maridão desde sexta. Desta vez, ao contrário das outras vezes, a pousada onde ficamos tinha internet funcionando. Mas eu só ligava o computador bem tarde, depois da meia noite, porque tinha mais o que fazer durante o dia.

Ontem, quase uma da manhã, vi que havia mais de vinte emails pra mim falando de um site de ódio (que prega o aborto e infanticídio de meninos, por exemplo) com o meu nome. Vários emails perguntavam: "É seu?"

Esse tipo de pergunta me ofende, pra falar a verdade. Eu não consigo acreditar que alguém que conheça o meu blog (que, com quase 8 anos de atualizações diárias, não é exatamente uma novidade na internet) pode se deixar enganar por um site tão mal escrito e que não tem nada a ver com o que defendo. Só com muita má vontade mesmo dá pra confundir.
Mas que tal usar a cabeça? Eu tenho um blog com um bom número de visitas. Sou bastante conhecida por ele, já que o Escreva Lola Escreva é um dos maiores blogs feministas na internet brasileira. Por que cargas d'água eu criaria um outro blog, com meu nome "oficial", digamos (em um minuto de busca no Google é possível ver que meu nome na carteira é Dolores Aronovich Aguero, e que Lola Aronovich -- além de ser a mesma pessoa -- é como gosto de ser tratada e como sou conhecida), e com ideias tão diferentes das minhas? Ideias que vão contra os direitos humanos mais básicos?

As pessoas um pouco mais inteligentes podem se perguntar: puxa, mas esse site no nome dela tem exatamente o mesmo layout dos outros sites de ódio criados por mascus como o Marcelo Mello -- será que não teria sido feito por eles pra difamar uma feminista famosa?

Sem falar que alguém que me segue no Twitter ou ocasionalmente lê meu blog (o único que tenho, que é este aqui) sabe que sou constantemente atacada e ameaçada por mascus e outros reaças (mascus são reaças; quase todos são de extrema direita, a maior parte neonazis, mas nem todo reaça é mascu. Vários são apenas machistas genéricos).
Eu avisei várias vezes que o site no meu nome havia sido criado por mascus e coloquei prints. Pedi para denunciá-los.

Que eu saiba, o site de ódio começou a ser divulgado no início de outubro. Marcelo Mello, seu autor, é obcecado por mim. No final de agosto a revista IstoÉ fez uma reportagem sobre ele em que o chama de "criminoso da internet". Marcelo não é um menino, mas um desequilibrado de 30 anos, misógino e racista assumido, que foi preso pela Operação Intolerância em março de 2012 (aqui a matéria da Veja sobre Marcelo).

Ele e seu comparsa, Emerson Rodrigues, tão maluco quanto ele, permaneceram na cadeia até maio de 2013. Enquanto estiveram presos, foram condenados a 6,5 anos de encarceramento. Pouco depois de sair, Marcelo voltou a fazer o que fazia antes -- ameaçar e atacar desafetos e tentar convencer homens tão problemáticos quanto ele a cometerem um atentado e matar o máximo possível de "vadias e esquerdistas".

Em 2014 Marcelo, ao ser expulso de vários chans (fóruns anônimos, muito preconceituosos), decidiu criar o seu próprio chan. Eu nunca dou link pra sites mascus, mas abrirei uma exceção, já que a polícia não faz nada mesmo, e já que nossas denúncias não funcionam.

Vou colocar o endereço do Dogolachan, o chan do Marcelo [o link estava levando para um outro chan. Tem que colar: https://dogolachan.org/b/index.html ]. É um chan pequeno, com poucos frequentadores, mas com tempo de sobra. Vocês podem ir lá e verem com seus próprios olhos o nível da demência. Eu já provei que Marcelo (vulgo Psy) é o autor do Dogola, e que sites de ódio como o Realidade, Homens de Bem, Tio Astolfo etc são criação do Dogola.

Até uns anos atrás, eu nem sabia o que era um chan. E nunca na minha vida iria encontrar sozinha o Dogolachan, o chan do Marcelo. Afinal, chans não aparecem em sites de busca nem nada. Sabem como eu fiquei sabendo da existência do Dogola? Porque Marcelo enviou o link pra mim. Mais de uma vez, aliás. Ele quer que eu leia as ameaças e os "planos do Cebolinha" que ele organiza quase que diariamente contra mim.

Marcelo também é obcecado pelo meu marido. Portanto, planeja criar um site de ódio também no nome dele, acusando-o de pedofilia, pornografia infantil e apologia ao estupro. O terrível crime que meu marido cometeu? Amar uma feminista.

Só que o alcance que mascus têm é minúsculo. Para tentar viralizar os muitos sites de ódio e páginas no FB que criam, inventam inúmeros fakes e tratam de entrar em páginas que eles chamam de SJW (social justice warriors, guerreiros pela justiça social, ou seja, feministas, sites LGBT, movimento negro etc). Nessas páginas, geralmente deixam mensagens do tipo "Vocês viram isso?", e o link pro site de ódio.

Apenas isso não resolve, porque tem muita gente que já percebeu essa forma de espalhar ódio. Pra difamar alguém, mascus dependem da ajuda de seus primos próximos, os reaças. Algum site ou página ou perfil no Twitter maiorzinho tem que ecoar a mentira. Aí sim viraliza.

Isso aconteceu na páscoa. Eu estava viajando, sem acesso à internet, e mascus literalmente criaram um tuíte falso no meu nome, referente ao trágico acidente do filho do Alckmin. Colocaram o tuíte falso numa página no FB (uma página, aliás, que prega a legalização do estupro, entre outras aberrações), alegando que eu havia deletado o tuíte, mas eles o printaram a tempo.

Por incrível que pareça, teve reaça que acreditou. Luciano Ayan escreveu um post sobre meu tuíte (e a minha índole -- baseando-se num tuíte feito para me difamar), e um tal de EdmilsonPapo10 (que tinha mais de 10 mil seguidores no Twitter) colocou o tuíte falso pra rodar. Resultado: quando voltei do feriado, havia mais de mil tuítes no meu perfil, a enorme maioria com xingamentos e ameaças.

Apesar de todo o trabalho empenhado por Marcelo e sua trupe, o site de ódio no meu nome não estava indo bem. Não estava conseguindo chamar a atenção. Tanto que a última atualização datava de 14 de outubro. Eu fui à delegacia fazer um boletim de ocorrência (o sétimo contra mascus) no dia 8 de outubro. Tem quase um mês.
Depois do BO, conversei rapidamente com um delegado que me pediu para voltar, pois ele iria me encaminhar para alguém do Ministério Público que levará o caso adiante. Mas, com a pressa do dia a dia, eu ainda não havia voltado à delegacia.

No dia 26 de outubro algum anônimo deixou no meu blog os dados do site de ódio no meu nome. Lá havia um endereço de email para reportar abusos, e no mesmo dia eu enviei o seguinte email pra Cinipac (que hospeda esses sites e parece ficar na Malásia):

Dois dias depois, o site de ódio estava fora do ar, e Marcelo se queixava, no seu chan, que havia sido expulso da Cinipac. Lógico que eu sabia que outros sites difamatórios viriam (afinal, o que mais Marcelo faria da vida?), mas pensei que o que me acusava de abortar fetos masculinos (inclusive fazendo rituais na minha universidade!) e exigir a castração de meninos teria chegado ao fim.

Não vi quando o site voltou, mas, graças à benevolência dos reaças, ele foi viralizado, novamente enquanto eu viajava. Não sei quem foram os primeiros a falar do site falso no FB. Sei que o guru da direita Olavo de Carvalho espalhou o endereço como se fosse meu. E Roger, aquele que teve um grupo de rock nos anos 80, divulgou o site para seus 650 mil seguidores.
Quando foi informado que o site tinha sido feito justamente para me difamar (como se não soubesse!), esta foi a resposta do roqueiro reaça: "Problema dela. Tb existem relatos fakes sobre mim." "O site existe. doloresarnovich.com Eu passei um link que existe. Se o conteúdo é fake é outra história."

Pois é, vale tudo para caluniar feministas e pessoas de esquerda, mesmo espalhar mentiras sabendo que são mentiras. Grande parte dos reaças quer acreditar que um dos maiores blogs feministas do país defende infanticídio de meninos. Assim fica mais fácil rotular. Se eles lessem meu blog, ficariam confusos com textos que não excluem ninguém e que nunca pregaram qualquer tipo de ódio a homens ou a quem quer que seja (nem a mascus e reaças que me difamam e me ameaçam de morte e estupro desde 2011).

E claro que, ao me atacar, eles não estão atacando somente a mim. Estão atacando todas as feministas. No site de ódio com meu nome já jogaram o nome de outra feminista, Patty Kirsche, doutoranda da USP, que amanhã mesmo irá a uma delegacia fazer BO.

E esta semana derrubaram a página no FB Feminismo Sem Demagogia. E não podemos nos esquecer da cômica se não fosse trágica moção de repúdio da Câmara de Vereadores de Campinas à questão sobre Simone de Beauvoir no Enem.

Peço a todxs que cruzarem com o repulsivo site de ódio no meu nome que o denunciem a Humaniza Redes e a SaferNet, de preferência deixando claro que o site não é meu, e sim uma criação de Marcelo Mello para me difamar. Mais importante ainda, peço que avisem às pessoas que estão divulgando o site como se fosse meu o óbvio: que ele não é meu, e que ele foi feito para caluniar o feminismo.

De preferência, deixem o link pra este post em que tento explicar mais este ataque.

E, reaças, melhorem: discordem do que falamos. Não precisam usar mentiras criadas por gente que pensa como vocês para atacar quem discorda.