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Polícia desmonta esquema fraudulento de funerárias em hospital de Alagoas

Aliny Gama

Colaboração para o UOL, em Recife

07/01/2016 16h50

A Polícia Civil de Alagoas prendeu 13 pessoas acusadas de participarem de esquema fraudulento com 22 funerárias, que agiam nas vendas de caixões dentro do HGE (Hospital Geral do Estado), maior unidade pública de Alagoas.

As prisões ocorreram nesta quarta e quinta-feira (7). Dentre elas, três prestadores de serviço das funerárias foram presos em flagrante usando roupas do HGE.

Segundo o delegado Ronilson Medeiros, funerárias ocupavam uma sala dentro do próprio hospital, há mais de 30 anos, cooptando famílias de pacientes, que faleceram dentro da unidade, para aquisição de caixões.

As investigações descobriram que a ação das funerárias dentro do HGE não permitia que famílias adquirissem caixões em funerárias fora do hospital.

“A prática vinha há mais de 30 anos e, só agora, pessoas do próprio HGE procuraram o MPE para denunciar. É claro que as gestões passadas e a atual tinham conhecimento disso. Agora, vamos investigar agora a participação delas no esquema", disse o delegado Manoel Acássio Júnior, da Deic (Divisão Especial de Investigações e Capturas),

As investigações iniciaram em dezembro, após as denúncias anônimas no MPE.

A Polícia Civil flagrou três pessoas usando roupas do HGE, se passando por servidores do Estado, que prestavam serviços às funerárias. Elas ganhavam entre R$ 60,00 e R$ 100,00 por plantão para higienizar e colocar formol nos corpos que chegavam ao necrotério. Depois já coagiam as famílias junto com agenciadores das funerárias para irem a uma sala usada para a venda dos caixões.

“Quando as famílias chegavam para retirar o corpo, já encontravam higienizados e com formol. Existia uma funerária de plantão dentro do HGE e as famílias, já fragilizadas pela perda do ente, não tinham escolha, e tinham de comprar os caixões lá dentro mesmo”, disse Acássio Júnior.

A polícia descobriu ainda que os prestadores de serviço das funerárias ganhavam tíquetes alimentação para complementarem a renda que obtinham nos plantões no necrotério do HGE.

“Provavelmente pessoas do hospital estão ligadas a isso e poderiam ter algum ganho. Alguns nomes foram citados nas oitivas e vamos investigá-los. Temos dez dias para concluir o inquérito e outras pessoas ainda podem ser presas acusadas de participarem da organização criminosa", afirmou Acássio Júnior.

A polícia prendeu Moacir Correia de Araújo Filho, 32; Hudson Soares de Menezes, 30; Liane Regis Lins, 36; José Luis de Souza, 61; José Eduardo Maia, 44; Adeilson Antonio da Silva, 58; José Carlos Santos Costa, 46; Marcelo Costa, 38; Robson Tadeu Silva Costa, 63, e Maria Rita dos Santos Lima, 47. Eles agiam na sala do HGE destinada às funerárias e atuavam como representantes na venda dos caixões. Já Rogério Regueira Teixeira de Miranda, 34; Rogério dos Santos Costa, 38, e Marcelo Felipe da Silva, 33, atuavam dentro do necrotério no trabalho de limpeza dos corpos.

Outras 12 pessoas estão sendo investigadas de participarem do esquema como representantes de funerárias dentro do hospital. Os nomes dos suspeitos não foram divulgados.

Os acusados vão ser indiciados por crimes de organização criminosa, estelionato (por ludibriar as famílias dos mortos), crime contra economia popular (por praticarem cartel de preços), crime ambiental (utilização de formol de maneira inadequada), usurpação de função pública (uso do uniforme do HGE sem ser servidor). Segundo Acássio Júnior, os crimes tem penas variáveis em até cinco anos de reclusão.

Outro lado

A Sesau (Secretaria de Estado da Saúde) e a gerência do Hospital Geral do Estado informaram que não compactuam com qualquer ação de direcionamento de famílias de pacientes para funerárias.

Em nota, a Sesau disse que está contribuindo para as investigações da polícia e se, caso haja participação comprovada de algum funcionário, ele deverá responder administrativamente pelo ato irregular.

A secretaria destacou ainda que a gerência do HGE firmou uma parceria com a SSP (Secretaria de Segurança Pública) e MPE para regulamentar o fluxo do caminho do cadáver dentro da unidade hospitalar.

“Com isso, foi agilizada a remoção dos corpos de pacientes que entram em óbito dentro da unidade, encaminhado-os ao órgão responsável, a exemplo do IML (Instituto Médico Legal) ou SVO (Serviço de Verificação de Óbito). Os pacientes que entram em óbito no HGE e que não tenham sido identificados, são encaminhados para o IML de Maceió, após preenchimento de documento com dados necessários por um profissional responsável”, ressaltou a Sesau.