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Pai de bebê indígena morto em SC soube da confissão do assassino pela TV

 Crianças seguram cartazes contra racismo durante ato, em Curitiba (PR), contra a morte do menino Vitor Pinto - Daniel Caron/FAS
Crianças seguram cartazes contra racismo durante ato, em Curitiba (PR), contra a morte do menino Vitor Pinto Imagem: Daniel Caron/FAS

Camila Rodrigues da Silva

Colaboração para o UOL, em Florianópolis

22/01/2016 19h09

O pai de Vitor Pinto, bebê de dois anos assassinado em Imbituba (SC) na véspera do ano novo, soube por um programa de TV que o suspeito da morte de seu filho tinha confessado o crime. O artesão Arcelino Pinto, 42, estava assistindo um programa de notícias da região, quando viu o delegado de Imbituba, Raphael Giordani, contando sobre a confissão de Matheus de Ávila Silveira, durante seu terceiro interrogatório.

“No dia seguinte de manhã, a gente foi na Funai (Fundação Nacional do Índio) e falou com o procurador, que mostrou para nós as informações do delegado. Era tudo o que tinha passado na televisão”. A Funai fica próxima ao centro de Chapecó (SC), a 12 Km da casa de Arcelino, na aldeia Kondá, uma reserva indígena localizada perto do rio Uruguai, na divisa entre Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

A Kondá tem 2.300 hectares e é definida como território do povo kaingang, onde hoje vivem cerca de 200 famílias. Segundo Jacson Santana, conselheiro da regional sul do Cimi (Conselho Indigenista Missionário), elas vivem principalmente de artesanatos. “De toda extensão da terra indígena, somente 800 hectares é apto para o plantio. Então, eles não têm uma quantidade de terra suficiente para subsistência. Por isso, o artesanato é o principal modo de sobrevivência dessas pessoas”, explica.

É o caso da família de Arcelino, que ainda está muito abalada com a morte do “nenê”, como ele se refere a Vitor. A mãe do menino, Sônia da Silva, e os outros dois filhos, Jessé, 6, e Elionai, 15, estão se recuperando tragédia, e nenhum deles viajou ao litoral para vender artesanatos neste ano.

Sobre o encaminhamento da Justiça, ele teme pela impunidade. “O rapaz está com dois advogados, e a gente está sem nenhum. Eles [os advogados] não devem ter filhos. Ele tem que pagar pelo crime, pela morte do nenê. A gente vai cobrar tudo o que ele fez”, esbraveja.

Santana, do Cimi, diz que a entidade vai entrar com um pedido para que o Ministério Público Federal acompanhe este caso e que este episódio foi apenas mais uma violência contra o povo indígena nos espaços das cidades.

“Os indigenas enfrentam preconceito não só em Chapecó, mas em todos os lugares públicos das diversas cidades. Quando estão nas rodoviárias, praças e ruas, são vistos como sujeira, como algo que ‘tem de ser tirado dali’. O episódio do Vitor é apenas um de tantas outras formas de violência que os índios sofrem”, defendeu.

Inquérito deve ser finalizado na terça (26)

Segundo o delegado da Polícia Civil de Imbituba, Raphael Giordani, o inquérito deve ser concluído até a próxima terça-feira (26), quando deverá apresentar as provas técnicas em coletiva de imprensa.

“Se não tiver nenhum fato novo, nós devemos representar pela prisão preventiva após o fim do inquérito, que eu pretendo concluir até terça. Se a Justiça acatar ao pedido, o suspeito deverá ser mantido preso até a instrução judicial”, explicou Giordani.