Vítimas da lama protestam contra mudança de ações para Justiça Federal
![Com o slogan ?se não pisou na lama, não venha decidir por nós!?, moradores das comunidades atingidas pela barragem do Fundão contra possível transferência das ações para esfera federal - Reprodução/Facebook](https://conteudo.imguol.com.br/c/noticias/c9/2016/02/04/4fev2016---com-o-slogan-se-nao-pisou-na-lama-nao-venha-decidir-por-nos-moradores-das-comunidades-atingidas-pelo-rompimento-da-barragem-do-fundao-protestam-contra-a-acao-conjunta-da-uniao-e-estados-1454609766258_615x470.jpg)
Moradores de subdistritos atingidos pela lama que vazou da barragem de Fundão, da mineradora Samarco, fizeram um protesto no centro de Mariana (MG), nesta quinta-feira (4), contra a mudança dos processos sobre o caso para a Justiça Federal.
Segundo os organizadores, os atingidos temem que a retirada do caso da alçada da Justiça de Minas Gerais os prejudique e ainda crie obstáculos para o acompanhamento do caso. A Justiça de Minas Gerais transferiu os processos à Justiça Federal, no entanto, ainda haverá uma decisão sobre qual tribunal deverá julgar as ações.
A manifestação foi realizada pela manhã e foi intitulada de “se não pisou na lama, não venha decidir por nós!”. A concentração das pessoas se deu em frente ao Fórum de Mariana.
O rompimento da barragem foi considerado a maior tragédia ambiental do país e matou 17 pessoas, deixando outras duas desaparecidas, e um rastro de destruição em distritos de Mariana e ao longo do rio Doce, que corta Minas Gerais e o Espírito Santo.
O promotor de Justiça Guilherme de Sá Meneghin, da Comarca de Mariana, criticou a iniciativa da AGU (Advocacia-Geral da União) que, juntamente com os Estados de Minas Gerais e Espírito Santo, pretendem fechar um acordo com a Samarco, mineradora responsável pela barragem, e suas controladoras, a Vale e a anglo-australiana BHP.
A intenção, externada pelos envolvidos, seria a de evitar um processo que poderá se arrastar por anos na Justiça.
Segundo Meneghin, após essa movimentação da União, a Samarco teria passado a colocar obstáculos para atender aos pleitos do MP de Minas Gerais.
“Em virtude da ação da União, a Samarco está alegando que ela não pode atender nossos pleitos porque pode haver uma questão relacionada ao conflito de competências’, afirmou.
Segundo ele, a ação da esfera federal veio depois de o MP mineiro ter iniciado a demanda contra a mineradora.
“A AGU entrou com ação [de R$ 20 bilhões] para ressarcir as pessoas e reconstruir as comunidades e reparar o meio ambiente. Só que a nossa ação foi ajuizada logo no início, está bem fundamentada, instruída com provas. Além disso, nós temos contato direto com as pessoas atingidas e sabemos quais são as demandas deles”, declarou.
O promotor teme que o distanciamento das ações em relação aos afetados pelo que foi considerado o maior desastre ambiental do país possa trazer prejuízos aos interessados.
“O processo ao ser deslocado para Belo Horizonte ou para Brasília-DF fica longe dos afetados e não vai dar a oportunidade a elas de participar desse processo de reparação. Isso vai criar muito prejuízo para as comunidades”, afirmou.
O promotor informou ainda que o processo iniciado pelo MP de Minas Gerais, que já tem dezessete volumes, será enviado nesta quinta-feira, pela Justiça mineira, para a Justiça Federal. A instância superior deverá se pronunciar se o caso será realmente deslocado de Minas Gerais para a esfera federal ou se continuará na Justiça estadual. Meneghim voltou a dizer que o estopim para o imbróglio foi a iniciativa feita pela AGU.
O promotor ainda criticou a ação da União no caso. “Eu fiquei sabendo que a União criou um grupo de trabalho de trabalho para cuidar da questão social, só que eles nunca estiveram aqui”, salientou.
Em nota, a Samarco informou que "respeita as manifestações democráticas", no tocante ao evento de Mariana. A empresa também afirmou manter diálogo aberto "independente das instâncias envolvidas no processo" com a AGU e o Ministério Público e "as demais autoridades dos municípios e, principalmente, com as famílias das regiões afetadas".
O UOL está tentando contato com a AGU, que ainda não retornaram as ligações.
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