Aldeias onde seita está têm menor índice de suicídio, diz psicólogo
Flávio Ilha
Em Tabatinga (AM)
12/02/2016 08h00
O psicólogo Luiz Felipe Barboza Lacerda, que atua junto a comunidades indígenas do Alto Solimões desde os anos de 1990, diz que o ressurgimento da seita Santa Cruz tem sido responsável pelo maior fluxo migratório entre Peru e Brasil na última década.
O motivo é a busca do "evari", que quer dizer paraíso no dialeto ticuna e, segundo a seita, fica no Brasil. "Como são comunidades muito voláteis, há bastante migração em direção à terra prometida", relata.
Lacerda explica que a congregação tem aproveitado esse fluxo constante para se fixar em comunidades pequenas e isoladas, onde há poucas alternativas de contestação e onde a mística religiosa é sempre dominante.
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O pesquisador adverte, entretanto, que é preciso "deixar os preconceitos de lado" na hora de analisar o papel da Santa Cruz junto a essas comunidades.
"É uma congregação de cunho pentecostal bem reducionista, com uma divisão de gênero muito forte e bastante radical em seus dogmas. Mas são, por outro lado, as aldeias com menor índice de suicídios e com menos registros de alcoolismo", pondera.
O arcebispo católico de Tabatinga, Dom Alcimar Caldas Magalhães, tem uma visão menos tolerante sobre a presença da seita junto a aldeias indígenas da região.
O religioso diz que o ressurgimento deixou de lado a doutrina religiosa para se deter exclusivamente na questão econômica, a ponto de políticos com mandatos ocuparem cargos na hierarquia da Ordem para proveito político: "As orações hoje são as mesmas da igreja católica. Também não há mais batismo, que é marca fundadora de qualquer religião. Então, não se trata de uma associação de fundo teológico, mas de uma organização com fins políticos e comerciais", afirma.