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Metrópoles apresentam maior risco de morte por raios, sugere estudo do Inpe

Raios atingem região residencial, no Jardim São Luis, zona sul de São Paulo, em janeiro de 2015 - Luiz Claudio Barbosa/ Futura Press/ Estadão Conteúdo
Raios atingem região residencial, no Jardim São Luis, zona sul de São Paulo, em janeiro de 2015 Imagem: Luiz Claudio Barbosa/ Futura Press/ Estadão Conteúdo

Flávio Leal

Colaboração para o UOL, em Santos

12/03/2016 06h00

As metrópoles com mais de um milhão de habitantes, como a cidade de São Paulo, apresentam maior risco de morte por descarga elétrica atmosférica, os temidos raios, do que concentrações urbanas menos populosas.

Esse risco pode ser superior a 10%, no comparativo com cidades pequenas, segundo estudo do engenheiro elétrico Osmar Pinto Júnior, coordenador do Elat (Grupo de Eletricidade Atmosférica) do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), de São José dos Campos.

O estudo levou em consideração três aspectos: o crescimento da incidência de descargas nas grandes cidades, devido ao aumento no número de tempestades, o tamanho da população e os hábitos de vida das pessoas nesses centros urbanos.

Os números do estudo, ainda em fase final, serão apresentados na International Conference on Lightning Physics and Effects, maior evento do mundo sobre raios e seus efeitos, programado para ser realizado em junho em Porto de Galinhas, Ipojuca (PE).

Mito

“ A impressão de que nas grandes cidades estamos mais protegidos dos raios pode ser um mito ”, afirma Pinto Júnior, baseado nos resultados do estudo do Elat.

A cada ano, cerca de 20 mil raios atingem a capital paulista.

O verão é a estação do ano em que os raios mais atingem as regiões Sudeste, que registra 35% das suas ocorrências nessa época, e a Nordeste, com 30% da incidência entre dezembro e março.

Ilhas de Calor

Pinto Júnior explica que os maiores riscos nos grandes centros resultam das “ilhas de calor” formadas pela grande concentração de construções, poucos espaços livres e muita superfície impermeabilizada, o que favorece também as enchentes.

“Quanto mais vapor quente liberado com intensidade por essas ilhas, mais alto esse vapor chega e mais frio ele fica conforme ascende forma o gelo que provoca os raios nas tempestades”, explica o cientista.

“A urbanização favorece as tempestades, mas outros fatores se juntam, como a poluição atmosférica”, resume.

raios; descargas elétricas - Getty Images - Getty Images
Imagem: Getty Images

Tempestades são quase sinônimos de que descargas elétricas vão ocorrer.

De acordo com Pinto Júnior, os efeitos dessas ilhas começaram a ser estudados em cidades com mais de 500 mil habitantes. Mais recentemente, as evidências recaíram sobre centros urbanos com mais de 1 milhão de pessoas.

Como resultado, as temperaturas médias podem ser em até 4 graus Celsius superiores às verificadas há 50 anos.

“A cidade de São Paulo tinha 60 dias por ano com registro de formação de tempestades em 1965. Já em 2015, foram cerca de 90 tempestades”, relata Pinto Júnior.

São Paulo, Rio de Janeiro e Guarulhos foram as cidades analisadas pelo estudo do Elat.

A escolha dessas cidades se justifica nos registros consistentes que elas mantêm sobre a formação de tempestades. Todas possuem aeroportos e livros de registros meteorológicos. No caso das duas capitais, desde o Século 19. Guarulhos, desde os anos de 1950.

O aquecimento global, embora preocupante, não chega a ter seus piores efeitos sentidos atualmente.

“Ele (aquecimento) foi responsável por aumentar em 0,6 grau Celsius a temperatura na Terra em 50 anos. É um processo lento, cujos efeitos serão percebidos, sim, mas em 2050, 2060”, afirma o coordenador do Elat.

Outros fatores, como o El Niño, também colaboram com a formação de tempestades.

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Os efeitos do El Niño continuam até o inverno brasileiro, embora com perda gradativa de intensidade, segundo Agência Oceânica e Atmosférica Nacional dos Estados Unidos (NOAA, na sigla em inglês). 

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