PM entrega imagens de homicídio após delegado ir à Justiça em Ourinhos (SP)
Foi necessário que a Polícia Civil de Ourinhos, 374 km de São Paulo, acionasse a Justiça para que o comando do 31º BPM-I (Batalhão de Polícia Militar do Interior) da cidade entregasse imagens de uma câmara de segurança que o delegado João Beffa acredita tenha flagrado toda a ação da abordagem feita por policiais que acabou na morte de um jovem de 22 anos.
Na segunda-feira, as investigações foram transferidas para a Delegacia Seccional da cidade e o delegado seccional Paulo Henrique Carvalho afirmou que a PM estava obstruindo a Justiça ao insistir em não entregar as imagens gravadas pelo sistema de segurança de uma empresa próxima do local e nem a arma do policial de onde partiu o disparo que matou o jovem Brian Cristian Bueno da Silva, 22.
No final da tarde de segunda-feira (13), o delegado protocolou na Justiça um requerimento para ter acesso as imagens. De acordo com Carvalho a PM decidiu levar a ocorrência para o quartel e não apresentar na Polícia Civil, ou seja, o delegado plantonista no dia da ocorrência, não tomou conhecimento dos fatos.
Com a persistência da PM em não entregar as imagens que foram retiradas da empresa próxima ao local e que possivelmente filmou toda a ação de abordagem dos policiais e o disparo que atingiu o jovem o caso ganhou repercussão nacional.
Na tarde desta terça-feira tanto as imagens do circuito interno quanto a arma do policial foram entregues para a Polícia Civil. O vídeo agora será analisado pela perícia civil e por um perito da Unicamp contratado pelo Condepe (Conselho Estadual dos Direitos da Pessoa Humana) que tem prestado apoio para a família do jovem morto.
Testemunhas do caso e familiares de Brian estiveram hoje em São Paulo para participar de uma reunião com as ouvidorias das polícias do Estado. O ouvidor da Justiça de São Paulo Júlio César Fernandes Neves, de acordo com familiares, afirmou que vai encaminhar ao caso ao Procurador Geral da Justiça solicitando que um promotor acompanhe a investigação a partir de agora.
Emocionada Valdineia Pontes, mãe de Brian, lembrou que o filho não esboçou nenhuma reação ele apenas ergueu os braços para mostrar que não devia nada. “Ele não teve tempo nem de tirar o cinto, quanto mais reagir”, afirmou.
O policial acusado pelo homicídio, está na Polícia Militar há seis anos e trabalha em Ourinhos há três anos. A corregedoria da PM afirmou que militar poderá responder por homicídio culposo, quando não há intenção de matar, ele foi levado para o presídio Romão Gomes, mas foi solto na noite de ontem. O policial que não teve o nome divulgado foi afastado do trabalho nas ruas até o fim das investigações.
Ameaças
Uma equipe do Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) registrou um boletim de ocorrência afirmando que foi parada pelos policiais após o jovem ter sido atingido pelo disparo durante a ação. Segundo declarações que constam no boletim de ocorrência, a equipe do Samu, composta de uma médica e uma enfermeira, foi ameaçada pelos policiais para que prestassem socorro para Brian. A equipe precisou interromper um atendimento com um paciente em coma alcoólico e traumatismo craniano na ambulância, que estava no veículo.
O caso
Brian Cristian Bueno da Silva, 22, morador de Santa Cruz do Rio Pardo, cidade vizinha a Ourinhos, estava com mais quatro amigos em um veículo pela avenida Jacinto Ferreira de Sá, via de acesso a uma feira agropecuária que acontecia na cidade.
Segundo a comandante do 31º BPM-I, tenente-coronel Cenise Araújo Calasans, um dos policiais avistou o carro ocupado pelos jovens seguindo em direção à feira e deu ordem de parada ao motorista, que obedeceu.
“Os policiais observaram que os indivíduos que estavam dentro do carro pegavam cones de sinalização e tiravam do posicionamento”, afirmou. Durante a abordagem de acordo com o comando da PM um segundo policial se posicionou ao lado do colega, com arma em punho e determinou que os jovens saíssem do carro para que fosse iniciada a busca pessoal e a vistoria no veículo.
De acordo com os amigos que estavam com Brian no veículo, ao avistar o policial com a arma em punho, ele ergueu os braços para mostrar que não tinha nada de errado e foi nesse momento que ocorreu o disparo que transfixou o cinto de segurança e atingiu o pescoço do jovem.
A comandante do batalhão conta que o soldado alegou que estava com a arma em posição de segurança, com o cano apontado para baixo. Como a vítima estava sentada, o projétil atingiu seu pescoço, transfixou e saiu abaixo do braço.
“O policial não declara que teria acionado o gatilho. E também não teria nem motivo para fazer isso porque os jovens não se recusaram a sair do carro ou tentaram fugir. Foi uma coisa muito rápida”, declara. Nenhum dos ocupantes do veículo tinha passagem pela polícia.
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